Com problemas para furar os axadrezados, encarnados falharam no capítulo defensivo. Consentindo o máximo de remates ao adversário, fizeram mais faltas e viram mais amarelos que o habitual.
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A visita ao Bessa ditou a primeira, e pesada, derrota do Benfica no campeonato, levando à perda da liderança. Com muitas dificuldades para superar o esquema desenhado por Vasco Seabra, técnico do Boavista, o clube da Luz mostrou muitos pecados nomeadamente no capítulo do passe.
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Desta forma, não só não foi capaz de furar a teia montada pelos axadrezados como acabou por permitir ao Boavista visar a baliza de Vlachodimos como até agora só o Lech Poznan, na Polónia, para a Liga Europa, havia feito. Os axadrezados fizeram 16 remates (o máximo consentido pelas águias foram os 19 tiros dos polacos), batendo a média de nove permitidos aos adversários. Pelo inverso, o Benfica ainda não tinha rematado tão pouco. Os sete disparos superam de forma negativa os nove feitos em Vila do Conde diante do Rio Ave, quedando-se bem abaixo da média de 14,7 remates por jogo em 2020/21.
No final da partida, Jorge Jesus reconheceu as dificuldades da sua equipa em termos de "criatividade" - Everton e Pizzi, em subrendimento, ficaram no balneário ao intervalo, mas também a dupla do miolo, que voltou a mudar, formada por Gabriel e Taarabt esteve abaixo do habitual -, apontando ainda a falta de acerto no passe. E os números dão razão ao técnico. Fazendo menos passes no Bessa, as águias baixaram a sua eficácia dos 86 por cento para os 81,2 (a mais baixa da época). Além disso, e se apenas tentaram mais passes longos do que é habitual, a verdade é que a produtividade baixou quer neste capítulo (de 58,2% para 40) mas também em situações de passes progressivos (de 83,6% para 71,2), passes para a frente (78,4% para 68,6) ou para o último terço (80,4% para... 60,9). Ou seja, as águias foram muito menos incisivas do que é habitual, permitindo uma noite bem mais descansada à defesa do Boavista e a Léo Jardim, o guardião axadrezado.
Goleadas no Bessa, águias perderam a liderança fruto do mínimo de tiros, eficácia de passe e ataques posicionais
Perante as falhas no passe, o Benfica "não teve um bom ataque posicional", como também admitiu Jesus. Aliás, a equipa lisboeta foi mesmo batida neste capítulo pela primeira vez em 2020/21 pelo adversário. O Boavista fez 27, contra os 26 e 24 de Lech Poznan e Farense, respetivamente. Igualando o mínimo de ataques posicionais da época (26) registados frente ao Rio Ave, as águias foram ainda menos eficazes do que nessa partida, atingindo também o pior registo no que diz respeito a remates como resultado deste tipo de ataques: apenas 7,69 por cento.
Apesar de manter o nível em termos de recuperações, interseções, e até no que diz respeito a duelos (só a eficácia dos defensivos baixou, de 62,3% para 59,7), os benfiquistas registaram sim mais perdas: 112 contra as 107 de média em 2020/21. Pior só as 127 com Rio Ave e Farense, sendo que frente aos algarvios a equipa de Jesus já tinha sentido também problemas perante a pressão exercida pelo adversário logo à saída da sua zona defensiva. Aliás, foi precisamente diante do Farense que o Benfica registou o maior número de perdas de bola em espaço curto, ou seja, permitindo a recuperação ao adversário em disputas de bola ou em passes a curta distância. Nesse jogo, os encarnados perderam o esférico por 24 ocasiões desta forma, contra as 20 no Estádio do Bessa. E recuperando a questão do passe, só contra o Farense teve pior eficácia nas entregas progressivas e para a frente.
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Num jogo em que Jesus apontou também a falta de frescura, o Benfica registou também um aumento do número de faltas cometidas. Das 12,8 de média passou para as 15. E perante a velocidade dos axadrezados, que mostraram permeabilidade nomeamente nos laterais, os amarelos também dispararam. Houve quatro jogadores, todos defesas (Diogo Gonçalves, Otamendi, Vertonghen e Nuno Tavares) que acabaram o desafio admoestados pelo árbitro Hugo Miguel com o amarelo, sendo que em média as águias veem apenas 1,8 amarelos por jogo em 2020/21.
As lacunas do Benfica no Bessa à lupa
- Falta de criatividade aliada a subrendimento dos alas
Desinspirados, os benfiquistas não foram capazes de criar desequilíbrios na defesa axadrezada. Os alas titulares, Everton e Pizzi estiveram em subrendimento, mas Rafa pouco mais acrescentou.
- Meio-campo inconstante sem soluções definidas
Pouco constantes, Gabriel e Taarabt perderam os duelos no miolo para Show e Reisinho. O lusobrasileiro falhou muitos passes e nem a defender ajudou. Pouco utilizado, Weigl também não foi solução.
- Dificuldade em lidar com a pressão alta aumenta as perdas
Tal como já havia sucedido frente ao Farense, por exemplo, as águias sofreram com a pressão alta exercida pelos boavisteiros. As perdas subiram para 112 e 20 foram em espaço curto. Só com os algarvios houve mais (24).
- Velocidade axadrezada mostra laterais permeáveis
Jesus apontou lacunas defensivas e no Bessa os laterais foram várias vezes superados, nomeadamente em velocidade. Paulinho, Angel Gomes e Cannon fizeram mossa.