A corda no pescoço, Michael Jackson, Glovo e até Carlos Carvalhal. Recorde o que disse Vítor Bruno
Acompanhe a conferência de imprensa de Vítor Bruno na véspera do FC Porto-Manchester United, partida da segunda jornada da Liga Europa. Conferência de imprensa tem início marcado para as 17h00
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Bodo/Glimt, Arouca e agora Manchester United: "Cada jogo tema sua especificidade. É difícil colar um jogo com outro, porque são adversários diferentes, que nos oferecem diferentes problemas. Temos de andar muito em cima do que é nosso. Percebermos que na Noruega cometemos determinado tipo de erros que não podíamos cometer, corrigimos muita coisa no jogo com o Arouca. Uma delas foi a questão das transições defensivas e a equipa esteve exímia. Agora, em relação ao Manchester United, trabalhámos o que aconteceu com o Arouca, analisámos e procuramos amanhã andar em cima da perfeição. Sabemos que é difícil. Agora, estes jogos de nível europeu, de alto nível de complexidade, obrigam-nos a roçar praticamente a perfeição. São jogos em que muitos vezes resolvemos um problema e logo a seguir aparece outro, porque é tudo muito mais intenso e exigente. Não só do ponto de vista físico, mas da capacidade de tomar boas decisões. Será um jogo de alto nível de exigência."
Que comentário lhe merece o momento do Manchester United e que reação espera? "Ouvi muito gente dizer que vinham com a corda ao pescoço. Se há alguém que está com a corda ao pescoço somos nós, porque estamos atrás do Manchester United no objetivo de chegar à qualificação. Temos uma oportunidade de, pelo menos, reentrar nos lugares de play-off e depois seguir o nosso caminho.!
Será um erro olhar para o momento do Manchester United e pensar que pode ser mais acessível? "Isso seria muito pouco inteligente da nossa parte. É fácil descodificar a equipa do Manchester United e perceber quem está do lado de lá. Individualmente, tem jogadores de nível mundial, todos eles internacionais pelos seus países. Quem quiser contar uma história diferente, está a contar uma narrativa que não corresponde à verdade. A partir desse momento, é fazer a análise do Manchester, perceber, coletivamente, que pontos fortes tem, que tipo de ameaças nos vão oferecer, onde é que podemos encontrar algumas debilidades que qualquer clube do mundo tem. Agora, se puxarmos um pouco a cassete atrás, vemos que no início de época esteve a dois/três minutos de bater aquele que para muita gente é a melhor equipa do mundo, que é o Manchester City, na Supertaça. Aí era um super-Manchester United. Isto não se perde de um momento para o outro. No contexto mais recente, com o Tottenham, reduzidos a dez, não explica o que é a realidade do jogo. Ou melhor, o jogo entra por um caminho que não é o mais verdadeiro e não representa o que é a real valia do Manchester. Temos de estar muito alerta amanhã, com um alto sentido de responsabilidade, muito sentido de missão para atacar um jogo que será difícil, mas que queremos muito ganhar.
O Manchester United está longe do fulgor de outros tempos. O objetivo é a vitória ou empate já seria bom?
Nesta casa não há empates. Aqui só se joga para ganhar. Isso é uma falsa questão. É sempre para ganhar, sempre em frente, sempre a andar, sempre com um sentido de exigência, com muito vício de vitória. O Manchester United estar em 13.º… Estamos a falar na sexta ou sétima jornada. No final veremos onde vão acabar. Ontem o Ten Hag falava, e bem, que a a cada ano termina sempre com títulos. São equipas historicamente difíceis, com jogadores de alto nível. Coletivamente podem não estar a passar por um bom momento, e refiro-me ao jogo anterior, mas temos de estar atentos de onde podem vir os principais perigos e atacar o jogo com mentalidade certa. Perceber que temos de ser humildes, respeitadores, mas ao mesmo tempo muito ambiciosos. Nesta casa só se pode pensar em ganhar.
Qual é a importância de ter a melhor equipa em campo nos jogos-chave?
Mas quais são os jogos-chave? Este jogo é chave por ser o próximo. Todos os jogos são chave no FC Porto.
Que comentário lhe merecem as frases escritas a pedir a sua saída no Dragão?
Não me apetece dizer nada. O que vou dizer? Não comando o que se passa na cabeça das outras pessoas. Tem um outra coisa que podemos comentar. Uma delas é que, segundo me parece, houve mais paredes destinadas a mim do que ao presidente. E olhando para o caráter competitivo com que encara tudo, para mim pode ser mau, porque pode ficar melindrado por sentir que estou à frente dele nesse capítulo. Depois, é andar para a frente. Isto é para quem tem andamento. Andar e dar passos em frente, procurar fazer aquilo que temos de fazer bem feito. Só conheço uma pessoa que foi amplamente elogiado e, muitas vezes, conhecido por dar passos para trás, que foi o Michael Jackson. E eu não sou cantor para cantar, tenho muito pouco jeito para dançar. Posso não ser grande treinador, mas sempre melhor do que cantor ou dançarino. Por isso, olho na frente, procurar o aquilo que me tem de guiar, que é ganhar jogos, fazer o FC Porto ganhar e no final da época fazer contas. Perceber onde é que podíamos ter estado melhor, o que fizemos bem e menos bem. A partir daí, é o que é. Há entregas ao domicílio da Glovo que aparecem de forma ainda mais célere do que o que aconteceu aqui.
Quem quer fazer mal ao FC Porto? Ou estão a motivar a equipa?
Não faço ideia. Não partiu da minha cabeça. Quem teve esse tipo de intencionalidade é que pode responder. Se alguém quiser assumir aquilo que fez. Não tenho nada que ver com isso. Cada um faz aquilo que bem entende.
Em 2004 ou 2009, imaginava ou desejava estar hoje neste papel de treinador principal?
Em 2004 penso que estava no meu último ano de faculdade, se não me engano. Pelo facto de jogar futebol, já antevia que poderia enveredar por este tipo de carreira, porque percebi que o meu caminho em termo de jogador de futebol poderia não ser aquele que ambicionei desde cedo enquanto criança e que me comandou enquanto sonho. E perceber que o caminho alternativo poderia ser pela área do treino, até pelo que tenho em casa, pelo meu pai, pelas influências que sempre tive, pelo que fui bebendo diariamente, conhecendo ao longo do tempo e dado a conhecer do que se passa no balneário, o que é levado a treinar, andar pela mão fez parte de mim praticamente desde que nasci. Se não me engano, em 2009 foi a minha primeira experiência em Portugal como treinador adjunto na Naval 1.º de Maio, com o Augusto Inácio. Já estava ligado ao treino. Agora, se esperava estar aqui neste momento a falar nesta condição, não. Não foi nada preparado. As coisas aconteceram porque tiveram de acontecer. Obviamente que me sinto muito feliz por estar aqui, muito orgulhoso, mas o meu maior orgulho é quando vejo, da parte deles, levarem à risca o que lhes é pedido. Nem sempre roçam a perfeição na qualidade do seu jogo, mas têm uma coisa que para mim é inegociável, que é o compromisso, a vontade diária de fazer as coisas bem, responder mesmo em cima de coisas que não são bem executadas. Estar permanentemente e completamente ávido de conseguir fazer mais. Neste clube tem de ser assim.
Há espaço para as emoções de viver um jogo tão grande como este?
O jogo de amanhã é mais um para podermos meter o nome do FC Porto na Europa, deixar mais uma marca forte, mais um momento em que podemos exaltar a força de um clube que tem dado mostras ao longo do tempo que é muito forte na Europa.
Já encontrou explicação para a falta de agressividade na Noruega? Essa poderá ser a base para o sucesso neste jogo?
Em todos os jogos são. Dois dias depois do jogo na Noruega, porque gosto de fazer essa partilha com ele, fizemos um levantamento e há um indicador fortíssimo para o que é a intensidade num jogo de futebol, que é o número de faltas cometidas. Pegámos numa série de jogos que fizemos até agora e percebemos em que jogos fomos bem sucedidos em função desse indicador. E percebemos que alguns adversários nossos fazem disso uma força e porque razão estão tão altos na tabela. Um desses exemplos é o Santa Clara. Contra nós teve um número brutal de faltas cometidas nos Açores e, se calhar, por isso é que tem o desempenho que tem semanalmente. Isso é sempre um sinal muito forte. Tudo o que é duelos, desafios com adversários diretos, tudo o que for ganho… Os jogos fazem-se permanentemente de pequenos duelos. Quantos mais ganharmos, mais perto estamos de ganhar o jogo. Seja contra o Manchester United, contra o Arouca, que foi o último, contra o Sporting, na Supertaça e em Alvalade… Faz parte e tem de ser encarado por nós como uma arma fortíssima a ter em todos os jogos. Sempre que estamos mais perto desse indicador, estaremos sempre muito mais perto de ser bem sucedidos.
O momento conturbado do Manchester United é vantajoso para o FC Porto ou um perigo extra?
Vantajoso para nós? Pelo contrário. Se há alguém que tem de estar com o orgulho ferido somos nós e não o Manchester United, que está em posição de play-off. O FC Porto, se terminasse agora, estava fora. Por isso, somos nós que temos de dar ao chinelo. Fomos nós que metemos o pé na poça num primeiro momento e agora temos de andar. E só há um caminho: é atacar o jogo com exigência, responsabilidade, perceber quem está do outro lado, saber que há muita qualidade… Desconfiar sempre e nunca dar nada como garantido. No futebol, essa é a primeira premissa para poder cair. Vamos estar muito alertas amanhã, sempre com uma vontade muito grande de levar a jogo o que é nosso, sem nos desviarmos muito do que somos. Obviamente, aqui ou acolá poder ter de adaptar alguma coisa, porque o adversário assim o exige e tem a sua força. Mas sem adulterarmos o que é nosso e com o qual nos temos vinculado a partir do momento em que começámos a trabalhar aqui
Tendo em conta a forma recente do Manchester United, é o melhor momento para o defrontar?
De todo. O contrário. Vemos sempre o Manchester United como uma ameaça e não como um bom momento para os defrontar. Teremos de sermos nós próprios e olhar para eles com muito respeito, porque têm muitas individualidades, como equipa também. Sei que fala do último jogo, mas tem de olhar para o todo.
Ten Hag está sob muito escrutínio. Tem simpatia por ele?
Nesta posição toda a gente está. Eu não o conheço. Ainda não o conheci, mas gostava muito. Há um treinador em Portugal que agora está no Braga, que se chama [Carlos] Carvalhal, que esteve na Premier League e no Championship, penso eu. E ele dizia que no final dos jogos iam juntos beber um cálice de vinho. Se o Ten Hag …
Como foi preparar este jogo que será cabeça de cartaz nessa segunda jornada com alguns dos jogadores mais jovens?
Não houve nenhuma cuidado especial. Fazemos aquilo que fazemos sempre. Analisámos o último jogo, tentámos colar muito do que aconteceu com o Arouca que poderá acontecer amanhã, analisámos o Manchester, vimos em vídeo, levámos a campo… Não alteramos o nosso trabalho diário em função do adversário A, B ou C, porque sentimos total respeito por toda a gente com quem nos defrontamos. Seja o Manchester, Arouca, Rio Ave, Gil, Santa Clara, Sporting… Com qualquer adversário. Olhamos para eles de forma detalhada, procuramos levar tudo ao microscópio e onde podemos ter margem para crescer. E ainda temos muita, porque há muita gente nova. O Samu, o Moura, o Nehuén… Tudo isso obriga a uma série de rotinas que só se ganham diariamente. Umas são mais difíceis de serem estabelecidas e de serem operacionalizadas em jogo, porque o tempo de levar isso a treino é diminuto. Tentamos potenciar cada bocadinho do treino para casar todos os jogadores para que se envolvam, se unam, agarrem uns aos outros, para que se conheçam, para que depois tudo possa sair muito naturalmente , de forma espontânea, muito intuitiva, às vezes com uma troca de olhar… Isso sente-se. Às vezes, equipas que estão juntas à três, quatro, cinco anos, é de olhos fechados, como se costuma dizer.
O Bruno Fernandes tem sido muito criticado. O que pensa dele como jogador?
"Um jogador internacional é sempre de qualidade. Além disso, jogou no Sporting e quererá realizar uma grande exibição amanhã. Penso que a forma como foi expulso no último jogo não foi de todo razoável. Ele é um jogador muito bom. Temos de estar muito atentos, controlá-lo, não o deixar jogar da forma como gosta e estar sempre pronto para controlar o estilo de jogo dele: a forma como passa a bola, como deixa alguém em frente a baliza, como dribla, como remata… Não podemos dar-lhe espaço."