Ainda que o andebol seja menos mediático do que o futebol, todos devem conhecer Paulo Morgado. Mas e Diogo Morgado, o leitor sabe quem é?
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Dia de sol em Vila do Conde para o reencontro de O JOGO com Paulo Morgado uns bons 20 anos depois. "Estou igual, peso mais um quilo do que quando deixei de jogar", diz de imediato.
Tendo sido guarda-redes do ABC, o facto de a reportagem não ter sido em Braga pode parecer estranho, mas a explicação é simples: desta vez, a figura central é Diogo Morgado, o filho de 18 anos, que atua naquela posição da defesa, mas na equipa de futebol de sub-19 do Rio Ave. Por isso, estamos num dos vários campos dos vila-condenses, parte de uma excelente academia que surgiu à volta do Estádio dos Arcos, e não no mítico Pavilhão Flávio Sá Leite, onde Paulo jogou a final da primeira edição da Liga dos Campeões de andebol, em 1993/94.
"A única modalidade que fiz foi futebol. Comecei na escola, como todos, a jogar nos intervalos, e depois fui para a escolinha do Braga", conta Diogo, com a timidez própria de quem ainda não está habituado a ter palco. "Pelos oito/dez anos desisti da escolinha e, aos 11, comecei o futebol federado no Dumiense, que era o clube mais perto de casa, depois fui para o Juventude da Póvoa. Dei um passo maior ao ir para o Merelinense. A seguir veio o Moreirense, no ano da covid, em que só treinei. Depois mudei-me para o Trofense e agora estou a acabar a primeira época no Rio Ave", detalha, com o pai, Paulo, 51 anos, a ouvir.
"Também comecei pelo futebol, mas como era gordinho não tinha hipóteses. Ainda fui treinar a alguns clubes, mas não ficava e houve um colega que me incentivou a ir para o andebol", recorda um dos melhores guarda-redes de sempre. "No primeiro treino era lateral esquerdo. O treinador era o Marinho e nunca mais me deixou sair. Fiquei na equipa de iniciados, onde estava o Paulo Faria, o Rui Almeida, o Álvaro Martins, enfim, uma geração que se iniciou desde muito cedo e foi até aos seniores, onde teve grande sucesso. A certa altura tive um castigo do meu pai, que me tirou do andebol no primeiro período da escola. Quando voltei, já havia mais laterais-esquerdos, até que, num célebre jogo entre o ABC e a Associação de Andebol de Braga, os nossos guarda-redes tinham ido jogar pela Associação e só ficamos com um e esse atirou a bola para o chão e levou dois minutos. Ninguém quis ir para a baliza, fui eu", explica Paulo Morgado, recordando: "Tive a sorte do professor António Cunha estar a ver o jogo e não me ter deixado sair mais da baliza. Aliás, fiz toda a segunda parte a guarda-redes e, no dia seguinte, quando apareci de calções para treinar como jogador de campo, ele disse-me: "Se não vieres para ser guarda-rede não entras mais aqui". E, aos 16 anos, iniciei todo um percurso de guarda redes".
E será que Diogo, que nasceu após o pai ter terminado a brilhante carreira, sabe quem foi Paulo Morgado? "Sei que o que ele me conta e o que vou vendo na internet. Ele diz que o andebol era muito diferente do que o que se pratica agora, que há algumas coisas não posso contar [riem-se], que os tempos mudaram... Mas nunca me disse que era o melhor guarda-redes português. Eu já lhe perguntei, mas ele não me diz", responde o menino de 1,90m que tem sonhos igualmente altos. Relativamente à resposta, ela acabará por surgir, mais à frente. "Sonhar não custa e penso em chegar à equipa principal do Rio Ave. E depois, claro que a Seleção é o topo. Estão lá os melhores, mas é preciso trabalhar para isso", assume, argumentando: "Encaro o treino com muita seriedade, dou 200% para estar preparado para uma oportunidade que possa surgir".
Tendo um pensamento ambicioso, Diogo falou das referências que tem, mas até começou pelas que já teve. "Quando era médio gostava do Modric [croata do Real Madrid], mas agora olho muito para o Pepe, por causa da minha posição. Há pouco mais de um ano e meio que sou central. Antes era médio, mas já passei um pouco por tudo, fui sempre a descer, só falta passar a guarda-redes", riem-se. "A referência das referências é sempre o Cristiano Ronaldo. A história dele desde o início motiva qualquer um", afirma, voltando a olhar para a posição em que atua. "Se tivesse que eleger um defesa-central português era o Pepe. Velho? De facto 40 anos já indica a idade, mas ele está longe de estar velho. Quem o vê jogar não diz a idade que tem. Gosto muito da liderança dele dentro de campo e até costumo dizer que qualquer pessoa que esteja à beira do Pepe transforma-se num grande jogador", sublinha.
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Quintana, o melhor
E a resposta do pai, Paulo, relativamente a quem é o melhor guarda-redes português de andebol de sempre, lá surgiu. "O Quintana. E explico a escolha. A flexibilidade, a inteligência, a parte corporal, as pernas, os braços longos, o que ele transmitia à equipa. Antes dele, num top-3, diria eu, o Carlos Ferreira e o Santa Bárbara. Quando ele apareceu... Nunca o conheci, mas percebia-se a paixão que ele tinha pelo jogo".
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