CD: Santa Clara reage, fala em "espalha brasas" no União e aponta "telhados de vidro"
O Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol ouviu o Santa Clara e tem dez dias para proferir uma decisão sobre o caso que envolve o clube açoriano.
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O Santa Clara diz estar a "aguardar com serenidade a decisão do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol", depois de o clube açoriano ter sido ouvido pelo órgão. A formação insular deixou ainda críticas à postura do presidente do União da Madeira e falou em "telhados de vidro" no Académico de Viseu.
"O Santa Clara aguarda com serenidade a decisão do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, em sequência da audiência disciplinar, esperando bom senso, proporcionalidade, igualdade e adequação na aplicação da justiça a bem do futebol português. O Santa Clara lamenta profundamente, as atitudes mesquinhas e ignóbeis do presidente do União da Madeira, que qual 'espalha brasas', que já habituou a litigar contra vários clubes, instituições e os próprios jogadores, que rescindiram com justa causa os seus contratos de trabalho, ao longo da última época. Quer fazer valer agora, numa atitude desesperada, de paladino do futebol português, quando em três anos desceu, sob a sua presidência, da I Liga para o Campeonato de Portugal, num verdadeiro case-study de gestão desportiva, para reflexão interna e externa dos sócios daquela mui nobre instituição", atirou o Santa Clara.
"Que culpa tem o Santa Clara que levassem um golo aos 90+4', com o Cova da Piedade a precisar de um empate? Fomos nós que empurrámos a bola? O Santa Clara e os Açores merecem respeito, desejando a instituição Académico de Viseu os melhores sucessos desportivos, esperando sinceramente que o elevador da subida passe no relvado do Fontelo em 2018/2019 e não na secretaria da sua administração, cuja gestão desportiva, tem também, muitos telhados de vidro, que aos próprios sócios caberá ajuizar. Bastará ver os resultados dos jogos em casa no último campeonato, para confirmar que não subiram por demérito próprio, bastando ver por exemplo a derrota por 1-3 com o União da Madeira...", acrescentou o clube açoriano, que aproveitou para agradecer as melhoras enviadas pelo clube viseense ao líder do Santa Clara.
"Fica, também, o agradecimento pelas melhoras ao Académico de Viseu ao Presidente do Santa Clara. Estar doente é isto. Estar doente. E para que fique registado: nem se conseguiu deslocar a Associação de Futebol de Ponta Delgada para prestar declarações", revelou o clube.
Por fim, o Santa Clara clamou por "justiça", lembrando a subida conseguida no campo. "Infelizmente a hipocrisia impera em alguns dirigentes e setores no Futebol português, que tentam disfarçar os seus insucessos desportivos, com laivos de puritanismo e moralidade, quando se trata apenas de bom senso, de futebol positivo. Vista curta ou turva. Subimos no relvado e será sempre lá que seremos vencedores ou vencidos: no Estádio de São Miguel, nos Açores. Queremos uma Justiça justa, igual para todos clubes, cega, proporcional e adequada. Somos açorianos de primeira, não somos portugueses de segunda", rematou.
Este caso, recorde-se, teve origem em participações da Académica e do União da Madeira, por Carlos Pinto não ter habilitações para treinar na II Liga, na época passada, e pelo facto de Luís Pires, o elemento da equipa técnica que preenchia esse requisito e cujo nome aparecia na ficha de jogo como treinador principal, não ter estado no banco, em diversos jogos. A Comissão de Instrutores (CI) da Liga propôs ao CD o arquivamento do processo. No entanto, e pela primeira vez em mais de um ano (desde a penúltima alteração dos regulamentos), a proposta foi indeferida pelo CD. Como a CI já se tinha pronunciado sobre a matéria, cabe ao próprio órgão disciplinar federativo fazer a acusação e a julgar o processo, que até pode vir a arrastar-se nos tribunais - desde logo, pelas dúvidas quando à legalidade das normas que permitem ao CD acusar e julgar a mesma matéria.
Em causa está uma divergência na interpretação dos regulamentos. O relator do CD entendeu que, apesar de ter sido contratado como treinador principal, Luís Pires não exerceu esse cargo, porque quem liderava a equipa, designadamente, no banco de suplentes, era Carlos Pinto, que tinha a categoria de adjunto. Daí concluiu pela fraude na celebração do contrato e pela falta de habilitações da equipa técnica. O CI fez uma leitura diferente desta situação - que, de resto, se verificou, nalguns casos, de princípio a fim da época, em vários clubes da I Liga: com Pepa, no Tondela ou Petit, no Moreirense. O regulamento não diz que o treinador principal deve estar no banco, mas que o quadro técnico deve ter determinadas habilitações - o do Santa Clara tinha, tal como os demais, na I Liga. Ou seja, Luís Pires cumpriu o contrato, tal como Carlos Pinto. Este último, foi multado (como os outros companheiros de profissão em circunstâncias idênticas), sempre que os delegados ou os árbitros o viram transmitir indicações à equipa para dentro do campo, porque essa é uma competência exclusiva do treinador principal.
Da ausência de quadro técnico devidamente habilitado resultam dois tipos de sanção: multas e, após 45 dias em situação irregular, perda de pontos. Se vier a prevalecer a interpretação do relator do CD, em vez de subir de divisão, o Santa Clara arrisca descer. À espera disso mesmo está o União da Madeira, despromovido ao terceiro escalão e uma das equipas que beneficiaria com uma eventual alteração na classificação da II Liga. Quanto à Académica, que também deu origem ao processo, quando discutia a subida com o Santa Clara, contratou Carlos Pinto (entretanto, devidamente habilitado com o curso UEFA Advanced, que iniciou nas férias) para lutar novamente pelo regresso à I liga.