Nunca este século o FC Porto perdeu tantos jogadores importantes como os que o próximo verão anuncia. Mais de 100 milhões em perspetiva, investimento garantido, mas a tarefa é árdua.
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O FC Porto ainda está na discussão do título, mas aconteça o que acontecer amanhã (o Benfica tem vantagem), há uma revolução em marcha e um desfio histórico para a SAD e... Sérgio Conceição. A vontade de Pinto da Costa e seus pares, como o presidente expressou a O JOGO numa entrevista recente, continua a ser a de continuar com o treinador, pela valia que lhe reconhecem e por acreditarem piamente que ninguém melhor do que ele pode proceder à revolução em marcha.
Cinco a sete titulares de saída e um onze novo em 2019/20. Sérgio é essencial no processo
O exemplo de superação em 2017/18 é uma espécie de barómetro que se mantém atual. Desta feita, o treinador terá bem mais fundo de maneio para investir em reforços, mas igualmente o desafio suplementar de mudar mais de metade do onze titular.
No FC Porto deste milénio, isso nunca aconteceu. Só mesmo em 2004/05 se viveu uma situação idêntica, quando Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Pedro Mendes, Alenitchev e Deco abandonaram o então campeão europeu, que perdeu ainda Jankauskas, Ricardo Fernandes e Marco Ferreira, embora nenhum fosse, à data, indiscutível no onze azul e branco. Quando falamos de revolução, é disso que se trata: de 2018/19 para 2019/20, o FC Porto vai perder titulares como nunca este século perdeu: entre cinco a sete jogadores. Meia equipa ou mais, portanto...
Os 150 M€ e um onze para refazer desde a base
A venda de Éder Militão ao Real Madrid (50 milhões de euros) está oficializada. A de Felipe ao Atlético (por um valor entre os 20 e os 25 milhões de euros) é a que se segue. Herrera e Brahimi não serão anunciados, pois terminam contrato a 30 de junho e saem do Dragão a custo zero, seis e cinco anos após terem sido contratados. Depois há Casillas, que ainda não confirmou oficialmente o fim da carreira mas deve fazê-lo em breve e com perspetivas de assumir um cargo na estrutura azul e branca. Sobre cinco titulares, estamos conversados.
Mas há ainda Marega e Alex Telles, ambos com propostas. O treinador não quer, obviamente, perder nenhum deles, mas sabe que há valores que não podem ser recusados. O maliano pode render entre 30 e 35 milhões de euros e há uma proposta real da Premier League sobre a mesa. Alex tem o Atlético de Madrid à perna para fazer dele o substituto de Filipe Luís e assim se juntar a Felipe e Herrera, mas Pinto da Costa não está disposto a vê-lo partir por menos do que os 40 milhões de euros em que está cifrada a cláusula de rescisão.
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Contas feitas, as transferências até podem render uma verba total (sem deduções) a rondar os 150 milhões de euros, mas deixam a equipa com muitos lugares vazios para ocupar. A SAD está no mercado por nove reforços obrigatórios e somar-lhe-á mais alguns entre os emprestados que regressam e os sub-19/bês que são promovidos. É que Fabiano, Maxi, Hernâni e Adrián López, todos eles importantes em determinados momentos da época, também estão de saída.
Pepe, Danilo, Corona e o maior dos pilares
É neste capítulo que Sérgio Conceição ganha importância. Além da admiração imensa que Pinto da Costa e Luís Gonçalves sentem pelo técnico campeão e pelo portismo que este revela, o que o treinador fez com segundas figuras na época passada permite acreditar que jogadores menos conhecidos e ativos internos de menor importância podem vir a tornar-se claras mais-valias.
A SAD tem ainda confiança inabalável no desenvolvimento de jogadores já importantes e que acredita poderem vir ainda a ser melhores. Corona sustenta a teoria e há muita esperança em Óliver, Otávio e Manafá, por exemplo. O Tecatito será um dos pilares da próxima equipa do FC Porto. Pepe foi contratado em janeiro precisamente para ser outro e ainda há Danilo, finalmente a 100 por cento e com a braçadeira de capitão à espera.
Mas há mais a sustentar Conceição como a maior âncora deste enorme desafio: tudo o que foi tratado até aqui teve o dedo do treinador e a sua saída, sim, seria uma perda irreparável, pois atrasaria imenso a reconstrução numa pré-época que até pode ter de começar mais cedo, por força das pré-eliminatórias da Liga dos Campeões. Essa questão está ainda dependente do jogo de amanhã, mas o processo que se segue não.
A SAD também entende ser esta a altura certa para reconstruir a equipa e, com o encaixe previsto, fechar de vez as questões em aberto com a UEFA a propósito do fair play financeiro. A época de 2019/20 vai ser de investimento.
TITULARES PERDIDOS POR ÉPOCA
2018/19 - Ricardo Pereira e Marcano (2)
2017/18 - André Silva e Martins Indi (2)
2016/17 - Aboubakar (1)
2015/16 - Jackson, Danilo, Alex Sandro e Quaresma (4)
2014/15 - Mangala, Fernando, Otamendi e Defour (4)
2013/14 - James, João Moutinho (2)
2012/13 - Hulk, Álvaro Pereira e Rolando (3)
2011/12 - Falcao (1)
2010/11 - Bruno Alves e Raul Meireles (2)
2009/10 - Lisandro, Lucho e Cissokho (3)
2008/09 - Quaresma, Bosingwa e Paulo Assunção (3)
2007/08 - Anderson e Pepe (2)
2006/07 - Diego e McCarthy (2)
2005/06 - Maniche, Costinha, Seitaridis e Jorge Costa (4)
2004/05 Ricardo Carvalho, Deco, Paulo Ferreira, Pedro Mendes e Alenitchev (5)
2003/04 - Hélder Postiga e Capucho (2)
2002/03 Jorge Andrade, Paredes, Ibarra e Pena (4)
2001/02 - Esquerdinha (1)
2000/01 - Jardel e Drulovic (2)
Futuro Reuniões decisivas só após a final da Taça
Há muitos dossiês em andamento, mas a SAD e o treinador entendem que, até à final da Taça de Portugal, esses devem manter-se parados, para que nenhuma desconcentração atrapalhe a preparação da equipa. Assim sendo, as reuniões decisivas para fechar os emprestados que regressam, prioridades nas contratações e dispensas, só acontecerão após o dia 25.
No último verão, Conceição perdeu Marcano a custo zero e Ricardo (vendido ao Leicester).
Razia do campeão europeu sem retorno
A maior razia do século (entre titulares) deu-se em 2004/05, com a perda de cinco campeões europeus (ver quadro ao lado). Apesar da aposta em craques como Quaresma, Diego ou Luís Fabiano, o FC Porto não conseguiu ter resultados e terminou a época com três treinadores (Del Neri, Victor Fernández e Rui Barros) e atrás do campeão (Benfica) com menos pontos do século. A meio da temporada, ainda saíram Derlei e Carlos Alberto...
Vítor Pereira exigiu arrumar a casa
Se a regra diz que é difícil uma equipa recuperar da perda de vários jogadores importantes, casos há que contrariam tudo. Quando Villas-Boas saiu depois de um 2010/11 perfeito, apenas Falcao o seguiu. Mas 2011/12 não começou de forma fácil e Vítor Pereira exigiu uma "limpeza" em janeiro dos jogadores menos focados. Saíram Fucile, Souza, Guarín e Belluschi e a equipa viria a ser campeã.
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Dois ciclos de glória após sustos de verão
Jorge Andrade, Paredes, Ibarra e Pena foram os titulares que deixaram o FC Porto na primeira época que José Mourinho preparou desde o seu começo. O número de perdas foi grande, mas os resultados deram razão à opção: os dragões esmagaram em Portugal e lá fora nos anos seguintes. Em 2005/06, ano da chegada de Co Adriaanse, novas mudanças profundas: saíram Jorge Costa, Seitaridis, Maniche e Costinha, mas o dragão embalou para o tetra.
Regra aponta a duas ou três saídas por ano
É claro que todos os plantéis perdem vários jogadores a cada época, mas raramente o FC Porto aceita abdicar de mais do que dois ou três titulares. A moda das 19 épocas em análise é, precisamente, duas baixas por ano. Em média, porém, o FC Porto perde 2,5 titulares por época. Lá está: entre dois e três. Curiosamente, foram após épocas de insucesso (2000/01 e 2015/06) que o onze menos mudou. Mas sem resultados...
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