Hepatites são tratáveis, mas é preciso testar
Testar para diagnosticar as hepatites B e C é fundamental para evitar a evolução da doença, que pode causar a morte, mas ainda há muito desconhecimento sobre como se contrai o vírus. Estas são algumas das conclusões da Talk "Hepatites: Prevenir e testar para tratar", que foi transmitida em direto no site de O Jogo. Conheça outras mensagens essenciais sobre estas doenças que afetam o fígado.
Corpo do artigo
Muitas das infeções pelo vírus das hepatites B e C não detetadas podem ter várias décadas. Um estudo feito a nível nacional estima que existam cerca de 40 mil portugueses portadores destes vírus e ainda sem diagnóstico. Isto acontece, como explicam os especialistas que marcaram presença na Talk "Hepatites: Prevenir e testar para tratar", promovida pelo jornal O Jogo, com o apoio da APEF e da Gilead, pela ausência de sintomas, mas também pelo desconhecimento sobre as formas de transmissão e de contágio, que exigem que haja um contacto direto com sangue contaminado. Por isso, uma das mensagens essenciais a reter é que estas patologias devem estar na mente de todos, para que cada um seja responsável por avaliar a sua probabilidade de infeção.
A deteção das infeções pelo vírus das hepatites B e C pode ser feita através de um teste de antigénio, muito menos invasivo do que o da Covid-19, por indicação do médico de família, sem custos e sem dificuldade. "Trata-se de uma picada no dedo que, em poucos minutos, permite saber se existe ou não infeção", explica José Presa, presidente da Associação para o Estudo das Doenças do Fígado (APEF), e um dos participantes na Talk desta tarde.
Além desta possibilidade, existem regularmente campanhas de rastreio com kits simples e rápidos de diagnóstico de Hepatite B e C. Algumas farmácias comunitárias têm estes kits em alturas de ações dirigidas, mas o acesso mais simples é sempreatravés dos cuidados de saúde primários, no Centro de Saúde. "Devemos evitar correr atrás do prejuízo, porque depois da doença estar numa fase muito avançada, só vamos conseguir minimizar os danos", alerta José Presa.
Prevenir e testar para tratar são os três passos que permitem ambicionar uma redução drástica na incidência das Hepatites B e C, mas, garantem os especialistas, a falta de conhecimento sobre as formas como o vírus é contraído e sobre as suas consequências para a saúde, continua a dificultar diagnósticos mais precoces. "Se existir uma maior perceção da população de que se pode agir sobre uma patologia que tem tratamento, e a Hepatite C permite um tratamento direcionado a 100% dos portadores de vírus, teremos uma maior vontade dos doentes perante os seus cuidadores clínicos", acredita Luís Nazaré Pereira, médico especialista em Medicina Geral e Familiar, que também participou na conversa de hoje sobre as hepatites.
A importância do teste é ainda mais relevante quando falamos de doenças assintomáticas. A ausência de sinais permite que estas patologias se desenvolvam durante anos e, por vezes, décadas, acabando por deteriorar a qualidade de vida do portador do vírus. A prazo, esta evolução acaba por dar origem a diversos problemas do foro hepático, entre os quais as cirroses ou o cancro do fígado. Problemas que, além da saúde, têm elevado impacto social, financeiro ou laboral para o doente, e que podem ser evitados com os tratamentos disponíveis para a Hepatite B e, no caso da Hepatite C, com a cura disponível através do Serviço Nacional de Saúde. "Chegar a uma fase terminal da doença pode facilmente ser evitado, e até curado no caso da Hepatite C", salienta José Presa.
Na Hepatite C, o retorno a uma vida com qualidade e saudável é uma realidade efetiva, uma vez que o tratamento disponível permite eliminar o vírus e curar a doença. A terapêutica faz-se através de tomas orais (comprimidos), com uma duração entre oito e doze semanas. O doente recupera, em 96 a 98% dos casos, totalmente e mesmo quando a doença está numa fase avançada em que o transplante do fígado pode ser necessário, cerca de 30% dos pacientes deixam de precisar de fazer esta cirurgia.
