O fabricante norte-americano de material desportivo travou, em cima da hora, um novo modelo que continha a bandeira original dos Estados Unidos, conotada com os nazis dos EUA.
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O alerta foi dado por Colin Kaepernick, antigo jogador dos San Francisco 49ers, da NFL, a liga de futebol americano: o novo modelo de sapatilhas que a Nike tinha previsto lançar por ocasião do 4 de julho, dia em que se celebra a independência dos Estados Unidos da América, incluía uma evocação da bandeira original dos EUA, denominada "Betsy Ross", a mesma que utiliza o Partido Nazi Americano.
Marketing ou não, o cancelamento de um modelo de sapatilhas pôs a marca nas bocas do mundo e trouxe de volta velhas discussões
A primeira consequência foi o cancelamento, por parte da multinacional, do lançamento do modelo "Air Max 1 Quick Strike Fourth of July", ou não fosse Kaepernick o mesmo que, em 2016, se tornou célebre por ajoelhar durante o hino americano que antecede os jogos da NFL em protesto contra a violência policial e a desigualdade racial.
O mesmo Kaepernick que, em 2018, foi a cara de uma campanha da mesma Nike (a celebrar 30 anos), cujo slogan era uma frase que traduzida significava "Acredita em alguma coisa. Mesmo que isso signifique sacrificar tudo". Tal como o próprio fez quando se tornou célebre, uma vez que o seu gesto, que deu origem a uma onda de protestos, foi entendido como uma afronta ao hino (ou ao poder instituído?), levando o próprio Donald Trump, já presidente dos EUA, a instigar os donos das equipas a despedir aqueles que fizessem protestos durante o hino americano. Kaepeernick ficou, pouco depois, desempregado.
Voltando às sapatilhas que não chegaram a ser lançadas, a segunda consequência - praticamente imediata - foi o debate nas redes sociais a propósito da atitude da Nike. Houve quem acusasse a marca de estar a cometer um ato de puro marketing, mas essencialmente ficaram, mais uma vez, expostas algumas das fraturas sociais e raciais da América.
Colin Kaepernick foi "quarterback" dos San Francisco 49ers
À confirmação, por parte de uma porta-voz da marca, de que o referido modelo não iria para o mercado por "mostrar a antiga versão da bandeira americana", seguiram-se reações anónimas, a favor e contra, elogiosas ou críticas para com a Nike e até Kaepernick (que muitos acusam de ser anti-patriota), e outras de gente com notoriedade. O governador do Arizona, Doug Ducey, que é do Partido Republicano, escreveu no Twitter que tinha ordenado a suspensão do financiamento à empresa para a construção de uma fábrica naquele estado que custará vários milhões de dólares.
A bandeira "Betsy Ross", assim batizada em honra a uma costureira de Filadélfia que, a pedido de George Washington, terá feito o estandarte original que evoca os 13 estados iniciais, representados por outras tantas estrelas dispostas em círculo, foi o motivo desta polémica. Para muitos, é apenas uma relíquia do passado, mas não foi só Colin Kaepernick a apontar-lhe as ligações aos racistas e supremacistas brancos.
O "New York Times" recordou que no verão passado foi distribuída propaganda do Ku Klux Klan juntamente com doces, em Nova Iorque, onde aparecia a bandeira "Betsy Ross" ao lado da dos Confederados. E acrescentava que jornais locais relataram que, em 2013, na Geórgia, havia unidades do KKK que utilizavam ora uma ora outra bandeira nos seus encontros.
1776 - O ano da independência dos EUA, que amanhã se comemora, é, também, o da criação da bandeira dos 13 estados pela costureira Betsy Ross
31 por cento de subida nas vendas
A percentagem de 31 por cento mostra a subida nas vendas online da Nike nos dias 3 e 4 dia de setembro de 2018 comparados com os mesmos dias de 2017. A diferença foi o lançamento da campanha do 30º aniversário da marca, com Colin Kaepernick como principal figura. Então como agora, houve reações adversas, mas também números favoráveis.