Luís Neves, diretor nacional da Polícia Judiciária, vinca a ação do arguido para a recolha de informação.
Corpo do artigo
Luís Neves, diretor nacional da Polícia Judiciária, respondeu, no Campus da Justiça, às inúmeras perguntas do advogado de defesa de Rui Pinto, Teixeira da Mota, admitindo a ajuda que o arguido prestou.
"Após a decisão instrutória, tínhamos muitos discos que não podiam ser abertos e com a sua intervenção esses foram abertos. Rui Pinto mostrou ter grande memória, informaticamente é muito evoluído e estabelece grandes conexões informáticas com os mundos financeiros", refere em mais uma sessão do julgamento Football Leaks, considerando depois a preocupação do gaiense durante a investigação: "Acompanhava negócios vindos de Angola e percebeu-se pelas conversas que tínhamos com ele que tinha conhecimento e preocupação nesta área social. Ao Rui Pinto incomodavam questões de desigualdade social, nomeadamente em Angola, os branqueamentos de capitais e as fraudes fiscais, dizendo que a sociedade podia ser diferente se estas áreas fossem investigadas."
Luís Neves afirma que o arguido tinha "uma vida modesta na Hungria até em termos alimentares", tendo apenas "dois pares de calças e um par de ténis." De "trato humilde e com dificuldades económicas", assim caracteriza Neves o arguido, assinalando a alteração comportamental. "Desde que está no processo de proteção de testemunhas tem trabalhado connosco. Mudou a atitude no momento da decisão instrutória. Mudou a posição extremada de que a polícia não queria investigar", opina perante os magistrados, assinalando uma reinserção possível na sociedade: "A polícia deve contribuir para a reintegração e Rui Pinto pode não reiterar a prática dos crimes que é indiciado. Mudou de atitude. Tem tido uma colaboração efetiva e relevante. Até do ponto de vista preventivo do crime fiscal tem essa preocupação. Não aceito o caminho que ele tomou, mas acho que pode ser sociabilizado e ter atitudes que no passado não teve. Ele interiorizou o comportamento. Não pensou que fosse preso e num ano houve amadurecimento. Após a detenção e a fase de inquérito sempre foi correto, mas não queria falar connosco. Tinha uma ideia romântica, com alguma rebeldia, sem entender a lei do código penal. Esse tempo passou. Pode ser bem remunerado de uma forma legal para evitar que certas instituições sofram ataque e acredito que possa ter uma vida longe do crime caso não seja condenado."
Recuando à Hungria, o diretor da PJ reconheceu que foi "difícil localizá-lo" e que após o mandato de detenção europeu se apercebeu de "ameaças" a Rui Pinto, daí a colocação no programa de proteção de testemunhas. Quanto à recolha de informação por parte do arguido não vê paradoxos: "Não defendemos o crime, mas interessa à polícia o recolher da prova." Também disse não saber se a PJ recebeu alguma denúncia de crime vinda do próprio Rui Pinto.
"Nesse verão de 2018 vimos muitos contratos de futebol divulgados. E, juntando a outros processos, vimos que a difusão de informação permitiu lucros a muitos intervenientes, que passavam a ter exposição mediática. Isso não se repercutia na pessoa que aqui está [Rui Pinto]. Com a experiência que temos, percebemos que ele tinha a visão do bom rebelde", concretiza, quando questionado sobre se seria por ter atenuantes que teria mudado de postura, passando a colaborar com a Justiça.
A sessão 41 do julgamento Football Leaks continuará com a audição de Ana Gomes, ex-candidata à Presidência da República, que defendeu, em várias ocasiões, o estatuto de denunciante de Rui Pinto.