Vanessa Marques brilha no Braga: "Juntei-me a um clube de rapazes, onde o meu irmão jogava"
Apesar de já ter um trajeto consolidado no futebol feminino, Vanessa Marques pretende continuar a conquistar títulos e a evoluir.
Corpo do artigo
A cumprir a sexta temporada, de forma não consecutiva, pelas guerreiras do Minho, Vanessa Marques, de 26 anos, é uma médio com apetência para o golo, tendo já ultrapassado a fasquia dos 125 golos na carreira.
Em 2018/19, foi distinguida pelo Sindicato de Jogadores como a melhor jogadora e melhor marcadora da liga portuguesa de futebol feminino, o que serve de comprovativo de todas as suas qualidades.
A Vanessa nasceu em Lyon, França, e ainda em tenra idade veio para Portugal. Como e quando surgiu o futebol na sua vida?
- Comecei a jogar na rua, com os meus irmãos e amigos. De seguida, juntei-me a um clube de rapazes, onde o meu irmão jogava. Naquela altura, a integração de uma menina era pouco aceite, mas, no meu caso, fui sempre muito bem recebida e acolhida por todos. Atualmente, alguns desses atletas com quem joguei são meus amigos. Também tive oportunidade de jogar com a minha irmã noutro clube e, sem qualquer dúvida, tudo isso ajudou-me e fez com que, mais adiante, quisesse levar o futebol mais a sério.
Esta época, o Braga mudou de treinador, viu partir figuras importantes, como a Andreia Norton e a Diana Gomes, e reforçou-se com 13 caras novas. Sendo uma das capitãs do plantel, como analisa este grupo de trabalho que sofreu várias alterações?
- Temos um grupo completamente diferente, com novas caras, ideias de jogo e de trabalho. O técnico também é novo e tem a sua dinâmica, o seu modelo de jogo e a sua forma de trabalhar, aspetos que diferem de treinador para treinador. Os processos demoram a assimilar, mas tudo a seu tempo. A equipa está a evoluir, dia após dia, e isso é o mais importante.
O Braga já leva duas vitórias na Liga BPI. Quais são as ambições e os objetivos do clube para esta temporada?
- O Braga quer vencer todas as competições onde está inserido. Dentro de campo, tudo iremos fazer para conquistar todas as provas.
E a nível individual, que metas traçou?
- Quero ser mais uma jogadora a ajudar a equipa a atingir os seus objetivos. Pretendo continuar a representar o Braga ao mais alto nível, continuar a ser chamada à Seleção e espero evoluir sempre mais e mais.
Como é que olha para este novo formato da Liga BPI, com uma série única, disputada a 22 jornadas?
- É uma liga mais competitiva e exigente. Como já deu para perceber, as equipas estão cada vez mais fortes e há cada vez mais experiência por parte das pessoas que estão dentro do futebol feminino. O interesse e a aposta na modalidade têm vindo a crescer. Neste momento, qualquer adversário pode tirar-nos pontos, portanto, temos de encarar todas as partidas com foco máximo.
Além de uma notável veia goleadora para alguém que atua como médio, que outras características a definem como jogadora?
- Normalmente, não gosto de me caracterizar enquanto jogadora, prefiro que as pessoas o façam. Acima de tudo, quero trabalhar arduamente durante os treinos para que isso seja refletido nos jogos e, desta forma, possa dar o meu contributo ao clube e à Seleção.
Em 2020/21, sagrou-se campeã da Hungria pelo Ferencváros. Como foi essa experiência?
- Foi algo único, que irei lembrar para sempre. Fui muito bem tratada, fiquei com um carinho muito especial pelo clube e guardo no coração as pessoas, que me marcaram imenso. Evoluí como jogadora e como ser humano. É sempre bom termos uma experiência fora da nossa zona de conforto, permitiu-me abrir novos horizontes.
Abraçava outro projeto no estrangeiro?
- Porque não? Não fecho as portas a nada. Tenho mais este ano de contrato com o Braga e o futuro logo se verá. Se me surgir uma proposta que seja boa e que eu goste, irei ponderar.
15213473
Já conquistou os quatro títulos do futebol português. Existe algum marco pessoal que gostasse de alcançar ou algum sonho por realizar?
- Uma atleta tem sempre sonhos e ambições. Quero continuar a ganhar, sobretudo, títulos coletivos e também prémios individuais.
Como é a Vanessa fora das quatro linhas?
- É uma pessoa simples, tranquila, respeitosa e muito frontal. Gosto de estar com a minha família, com os meus amigos, de passear, de jogar ténis e basquetebol. Levo uma vida normal.
É verdade que as suas colegas a tratam por "Zlatan"? Se sim, porquê? E tem mais alcunhas dentro do balneário?
- Sim, é verdade. Tratam-me por "Zlatan", mas é uma coisa mais pessoal (risos). Chamam-me também de "princesinha".
Qual é a sua maior referência dentro do futebol?
- Há diversas jogadoras com imensas qualidades, mas a Louisa Necib-Cadamuro (já retirada) é aquela que eu gosto mais.
Em busca de uma presença inédita no Mundial
Vanessa Marques é uma das 25 jogadoras convocadas pelo selecionador Francisco Neto para o play-off de acesso ao Campeonato do Mundo. O primeiro obstáculo de Portugal é a congénere belga.
Com 85 internacionalizações A por Portugal, depois de um percurso promissor nas seleções jovens, Vanessa Marques estreou-se pela equipa principal das Quinas em setembro de 2012, com apenas 16 anos. Desde então, já esteve presente em duas fases finais de Europeus: 2017, nos Países Baixos, e 2022, em Inglaterra. Porém, promete não ficar por aqui e, para já, segue-se a Bélgica, de "pés assentes na terra", no compromisso do play-off de acesso ao Campeonato do Mundo, prova na qual Portugal procura somar a primeira presença.
Em 2012, chegou às meias-finais do Europeu de sub-19, numa equipa com Andreia Norton, Fátima Pinto, Diana Silva e Jéssica Silva. Havia qualidade diferenciadora para o futebol feminino português atingir estes patamares?
- Tínhamos um grupo muito especial, recheado de talento e o melhor testemunho disso é que, hoje, essas jogadoras que mencionou também fazem parte da Seleção A. Nós só podemos estar extremamente orgulhosas de representar Portugal, que é o patamar mais alto. Ambicionávamos estar aqui, conseguimos e só temos de continuar a trabalhar para merecermos a aposta e a confiança do selecionador.
Portugal nunca esteve tão próximo de se qualificar para um Mundial. Como define a fase de apuramento? O que podemos esperar frente à Bélgica?
- Foi uma fase de apuramento muito complicada. Sabíamos, de antemão, que as seleções que íamos defrontar nos iriam causar muitas dificuldades, mas demos uma boa resposta. Em relação à Bélgica, esperamos uma seleção muito forte, muito competente e também humilde, com os pés assentes na terra. No final, queremos sair do jogo com a sensação de que demos tudo e, claro, que consigamos a vitória, que é o principal objetivo.
Esteve presente nos Europeus de 2017 e 2022. Como descreve esses momentos?
- São momentos marcantes na carreira de qualquer atleta. Jogar contra as melhores seleções e estar nos grandes palcos é aquilo que uma jogadora mais anseia. A nossa Seleção tem evoluído bastante e isso tem-se notado ao longo dos últimos anos. Espero marcar presença em mais fases finais, tanto de Campeonatos da Europa, como do Mundo, e ir o mais longe possível nessas provas, que é muito importante.
Foi uma das jogadoras escolhidas para apresentar os equipamentos que Portugal vai utilizar no Mundial do Catar. Até onde é que acredita que a seleção masculina pode chegar?
- Portugal tem provado que pode fazer jogos muito bons. Tenho a certeza de que iremos fazer boa figura no Mundial e, no final, as coisas vão sorrir para o nosso lado.
15212091