"Um dia, enchi uma lata de Coca-Cola com pedras para a fazer passar por uma bola..."
O Amora é a equipa menos batida da fase de manutenção da Liga BPI e Matilde faz parte dessa "defesa de betão". Apaixonada pela Fisioterapia, o futuro passa por terminar a licenciatura nessa área de estudos.
Corpo do artigo
Matilde Figueiras é um nome que não passa despercebido no futebol feminino português. A defesa, 25 anos, representou o Sporting durante três épocas, atuou na Liga dos Campeões e venceu vários títulos de leão ao peito. Porém, a vida da lisboeta não se resume aos relvados. Fora deles, Matilde investe num futuro e numa paixão. A licenciar-se em Fisioterapia, a defesa admite que é um desafio conciliar tudo, algo que, acredita, vai conseguir.
Tudo começou...com uma lata de Coca-Cola. É verdade?
-Sim. É uma grande curiosidade. O futebol surgiu logo muito cedo na minha vida. Os meus pais não têm qualquer historial no desporto, mas eu sempre gostei da bola. Lembro-me que, um dia, enchi uma lata de Coca-Cola com pedras para a fazer passar por uma bola, já que eu não tinha nenhuma naquela altura. E lá dava uns toques na lata...
Quando viu que tinha jeito para o futebol ingressou num clube?
-Comecei a jogar na rua com os meus familiares e, desde cedo, aperceberam-se que era algo de que eu gostava verdadeiramente. Pouco tempo depois, com oito anos, inscreveram-me no Bombarralense, clube da minha terra. Joguei lá até aos 13 anos. A partir daí só poderia integrar uma equipa feminina e, por isso, joguei pelo A-dos-Francos durante seis anos.
Aos 19 anos, e após dar nas vistas no A-dos-Francos, dá o salto para o Alvalade para representar o Sporting. Como surgiu a oportunidade?
-A chamada do Sporting surgiu quando estava prestes a rumar ao estrangeiro e no início da minha vida académica. Sem dúvida alguma que, futebolisticamente falando, foram os melhores anos que experienciei. Resumidamente, ganhei tudo o que havia para ganhar, realizei o sonho de jogar na Champions League, joguei em torneios internacionais e criei amizades que serão para o resto da vida.
Podemos dizer que foi o clube que mais marcou a sua ainda curta carreira?
-Honestamente, todos os clubes me marcaram em cada particularidade, mas foi o Sporting que me permitiu concretizar todos os meus sonhos, nomeadamente na conquista de vários títulos nacionais e na participação na Champions League.
14650614
Após três épocas no Sporting, abraçou o projeto do Torreense, clube que representou durante duas épocas antes de se mudar para o Amora. Foi forçada a deixar Torres Vedras para seguir o sonho de se licenciar em Fisioterapia?
-A oportunidade do Amora surgiu quando fui forçada, por razões académicas, a ter que abandonar o Torreense. O Amora tinha muito interesse em mim e apostou de forma expressiva para esta época. Foi fácil aceitar a proposta deste grande clube.
Apesar de não se ter apurado para a fase de campeão, o Amora está em alta e continua invicto na fase de manutenção, apresentando a melhor defesa e o melhor ataque da prova. Como caracteriza esta temporada?
-Infelizmente, não conseguimos atingir o objetivo desta época desportiva. O grupo tentou de tudo para se apurar para a etapa de campeão, mas, mesmo não tendo alcançado esse objetivo, estamos a conseguir fazer uma época consistente e queremos manter este primeiro lugar, salvaguardando a manutenção para a próxima época. A nível individual, creio que tenho evoluído bastante desde o início da pré-época. Procuro ser melhor em todos os aspetos.
Mencionou várias vezes a parte académica, a Fisioterapia é o futuro da Matilde?
-A minha maior ambição é conseguir conciliar o meu futuro trabalho como fisioterapeuta com o futebol. Abdiquei de muitas oportunidades para conseguir concluir a minha licenciatura e, a partir desse momento, gostaria de pensar seriamente em voltar a integrar um projeto de futebol totalmente profissional.
14650634
A maior dificuldade que encontra é mesmo conciliar os estudos com o futebol profissional?
-Sem dúvida. Amo as duas coisas e é a minha maior dor. O curso é particularmente prático e com uma elevada carga horária. Mas sei que isso também fará com que saiba ainda melhor no final.
Uma jogadora de futebol sacrifica muitas coisas?
-Sim, sacrifica-se muito tempo com a família, com os amigos, com as pessoas que nos são mais próximas. Mas se não valesse realmente a pena, não estaria agora a dar o meu exemplo e ter-me-ia focado só na faculdade.