"Seria um erro tremendo mudar, não acredito que o FC Porto não entre em campo para mandar no jogo"
José Manuel Ribeiro, João Ricardo Pateiro e Luís Freitas Lobo, que compõe o painel do programa Visão de Jogo, respondem a cinco perguntas acerca do Benfica-FC Porto deste sábado, relativo à 33.ª jornada da Liga Bwin.
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1 - Quem entra mais pressionado para o clássico: o FC Porto, para ser campeão, ou o Benfica, para evitar a festa do rival em sua casa?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
-O FC Porto, porque tem o objetivo mais importante e, por cima disso, os maiores pruridos táticos. Podia ser o Benfica a equipa mais pressionada, mas não creio que haja a perceção histórica do que significa o currículo do FC Porto na Luz, e da contribuição do Benfica para ele. Também as decisões táticas são mais difíceis para o FC Porto. Nélson Veríssimo pode limitar-se a simplificar a estratégia, como fez com Ajax, Liverpool e Sporting. Não precisa de entrar por caminhos complexos, coisa que sucederá se tentar dividir o jogo.
JOÃO RICARDO PATEIRO
- Apesar de tudo, penso que o FC Porto entra mais pressionado. O Benfica joga pela honra... O FC Porto para carimbar o título de campeão nacional. Falta apenas um ponto para os dragões fazerem a festa e podem consegui-lo na casa do grande rival, o que tem sempre um sabor especial. O Benfica vai tentar fazer tudo para que isso não aconteça, mas a maior pressão está do lado da equipa de Sérgio Conceição. Agora, estes desafios são muito especiais. A rivalidade é tremenda e são estes os jogos em que mais dói perder.
LUÍS FREITAS LOBO
- O Benfica para evitar esse festejo portista no seu relvado, a sua casa. A memória que ainda se tem das luzes apagadas e rega ligada de há tantos anos torna essa pressão ainda maior. Uma ironia da história, de como uma decisão impulsiva condenável de momento, tem efeito deflagrado mais de uma década depois. Para o FC Porto voltar a furar o orgulho é uma motivação extra. Para o Benfica evitar que isso aconteça, é uma pressão adicional.
2 - O Benfica tem conseguido bons resultados frente a equipas de nível superior abordando os jogos com rigor posicional defensivo e exploração do contra-ataque. Considerando que tem de vencer para impedir a festa do FC Porto na Luz, é previsível alguma alteração a esse modelo de jogo no clássico?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
- Não é provável. O único senão é que, quando usou essa ideia com o Sporting, vinha de uma série de jogos quase consecutivos que lhe permitiram criar uma rotina. Entretanto, voltou a ter de tomar a iniciativa contra as equipas pequenas do campeonato. Não goza da vantagem de ter "treinado" com o Liverpool na quarta-feira passada. Acresce que as melhores armas do Benfica são Darwin e (dificilmente, neste caso) Rafa. Rendem muito mais quando apontam às costas do adversário.
JOÃO RICARDO PATEIRO
-Depende também daquilo que o FC Porto fizer, mas acredito que possa ser um Benfica mais de expectativa. Talvez não tanto como em Amesterdão, Liverpool e Alvalade, mas igualmente com uma equipa mais recuada do que seria normal, jogando no Estádio da Luz. A jogar em casa, jogando "só" pela honra, em condições normais, o Benfica deveria entrar em campo disposto a assumir o jogo. Mas este não é um Benfica normal! É um Benfica que, por exemplo, perdeu mais pontos em casa do que fora! É um Benfica que deu vários sinais ao longo da época de não ser uma equipa fiável. Acredito num Benfica mais em contra-ataque. Ficarei surpreendido se isso não acontecer. E acredito que até pode ser a melhor forma de surpreender o FC Porto, por muito que o tribunal da Luz proteste se for essa a estratégia de Nélson Veríssimo.
LUÍS FREITAS LOBO
- Não se trata de modelo de jogo mas sim duma adaptação estratégica na forma de jogar em face da incapacidade da equipa frente a adversários mais fortes para expressar princípios de jogo diferentes como gostaria (de controlo subido-pressionante em posse). Consciente disso, Veríssimo irá fazer o modelo desejado voltar a ceder, neste tipo de jogos, perante a dimensão estratégica de esperar os momentos de contra-ataque para tentar ganhar começando por defender mais atrás, bloco-baixo ou médio-baixo, o que lhe dará maior segurança de posicionamentos nas coberturas (largura e controlo da profundidade) e possibilidade de (com adversário subido) contra-atacar depois.
3 - O facto de o empate chegar para o FC Porto, pode levar Sérgio Conceição a abdicar da ideia de jogo habitual para apresentar uma equipa mais apostada na contenção, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, em Braga?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
-Jogar para o empate é jogar para perder, porque quem não ataca está condenado a defender mal. O que pode suceder (e não aconteceu em Braga) são pequenas restrições: um lateral que não sobe, um médio mais expectante, eventualmente um terceiro elemento do meio-campo mais a tempo inteiro, em vez de se repartir por duas e três funções. Anular a profundidade do Benfica tem de estar à cabeça dos planos.
JOÃO RICARDO PATEIRO
- Não acredito que Sérgio Conceição abdique, de forma considerável, da habitual forma de jogar. Pode haver uma nuance ou outra, mas os princípios de jogo vão lá estar. Foram esses princípios que trouxeram o FC Porto até aqui, numa época que pode ser de dobradinha. Seria um erro tremendo mudar agora. Acredito que possa haver maior cautela pelo facto de jogar na casa de um rival, mas não acredito que o FC Porto não entre em campo para mandar no jogo. Mesmo a jogar fora, é minha convicção que vai entrar no jogo ao ataque.
LUÍS FREITAS LOBO
- Não, como postura da equipa. Sim, como introdução de nuances defensivas para como defender e travar o perigoso contra-ataque benfiquista de Darwin. Só isso já representa uma mudança em relação ao que sucedeu em Braga (sem necessidade de ter um posicionamento mais em contenção, mas sim de ter um posicionamento de maior... atenção para travar as saídas rápidas adversárias, controlando melhor a profundidade).
4 - Darwin tem sido o marcador de serviço no Benfica e o FC Porto tem revelado alguma permeabilidade a contra-ataques rápidos. O uruguaio deverá merecer uma marcação individual ou a estratégia para travá-lo deverá ser outra?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
-Neste momento, nenhum central do FC Porto tem velocidade para o Darwin e ele fugirá ao único defesa com essa capacidade, que é Zaidu. Terá de haver uma harmonização coletiva, com uma premissa: se o Benfica não for capaz de lhe passar a bola, ele não a recebe. A melhor pressão alta do FC Porto é fundamental.
JOÃO RICARDO PATEIRO
-O FC Porto vai estar, naturalmente, atento a Darwin. O uruguaio é a principal ameaça à baliza de Diogo Costa, mas penso que Sérgio Conceição não irá colocar um jogador a marcar individualmente o ponta de lança do Benfica. Não é fácil travar as arrancadas de Darwin... E jogando o Benfica, previsivelmente, em contra-ataque, mais perigoso se torna o ex-jogador do Almería. Os jogadores mais rápidos da defesa azul e branca estarão especialmente atentos às movimentações de Darwin, mas repito, não acredito em marcação individual ao uruguaio.
LUÍS FREITAS LOBO
- As marcações individuais têm sempre o efeito adverso de em vez de marcar o jogador onde se pretende, acabar a correr por onde ele quer, atrás dele. Fazer isso com Darwin é fatal. Acredito mais numa marcação zonal de encurtamento rápido quando Darwin receber a bola, tentando a equipa do FC Porto travar esse arranque do uruguaio em zonas mais subidas do terreno quando ele receber a bola, impedindo assim que ele depois dispare em direção à baliza. Alguma vez irá, naturalmente, suceder porque se trata dum grande avançado, mas por principio a marcação será zonal, encurtando nos espaços quando surgir a linha de passe para o servir.
5 - Sérgio Conceição deve manter a aposta em Pepê como lateral-direito? O eventual regresso de João Mário poderá implicar o adiantamento do brasileiro? E quem seria a peça a sacrificar nesse cenário?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
-Há duas explicações para Pepê estar a jogar como lateral. Uma são as lesões de todas as alternativas a João Mário, a outra será, eventualmente, uma reedição do trabalho que foi feito com Corona e que gerou, não forçosamente um lateral, mas um bem melhor extremo para as ideias de Conceição. Isso já está a acontecer com Pepê, mas é muito duvidoso que o FC Porto atinja o seu máximo potencial sem o brasileiro na sua posição de raiz.
JOÃO RICARDO PATEIRO
-Eu manteria Pepê como lateral direito, o que daria um duelo curioso entre o portista e Everton... Isto porque foi precisamente Pepê que substituiu, e com sucesso, Everton no Grémio. Penso que Conceição vai manter a aposta em Pepê na lateral. Se isso não acontecer, acredito que Pepê possa avançar no terreno. Nesse cenário, o treinador do FC Porto deverá abdicar de Fábio Vieira, embora Evanilson possa também ser o sacrificado. Agora, isso seria abdicar de um elemento de grande desequilíbrio! A entrada de João Mário implica sempre a saída de um jogador que criaria mais problemas à defesa do Benfica. Não acredito num Conceição calculista.
LUÍS FREITAS LOBO
- Vejo João Mário como o lateral-direito por estatuto de perfil mas as condicionantes físicas podem levar a manter a aposta em Pepê (um pouco na linha do que se fazia com Corona). Com João Mário, penso que o brasileiro pode subir para extremo a jogar por dentro e assim sair Evanilson para Taremi jogar mais solto no meio, recuando para não dar referências de marcação e solicitando o aparecer (em vez de estar) de elementos mais imprevisíveis (de Fábio Vieira a Otávio ou... Pepê) entre os centrais benfiquistas com menor de jogo de cintura para responder a essa imprevisibilidade de movimentos.