"Prémios monetários da FIFA? Isto é um 'abre olhos' para todas as outras entidades..."
ENTREVISTA, PARTE II - Jéssica Silva vê certas medidas da FIFA como um "abre olhos" para outras entidades compreenderem a evolução da modalidade.
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Figura ímpar na Seleção Nacional e uma das principais no futebol mundial, Jéssica faz uma avaliação do presente e sustenta que as jogadoras têm de habituar-se ao protagonismo.
A FIFA vai atribuir um prémio monetário de, pelo menos, cerca de 27 mil euros a cada jogadora convocada para o Mundial. Considera que este é um valor justo?
-Muito sinceramente, não sei se é ou não justo. Em comparação com o último Mundial, em 2019, a FIFA triplicará os prémios monetários e isso quererá dizer alguma coisa. É sempre bom quando vemos que há uma aposta. Ainda há caminho a percorrer e a evolução não é algo exato e que estagne, mas penso que estes organismos se estão a aperceber do crescimento do futebol feminino e faz sentido haver mais investimento. Acredito que a mudança, no sentido positivo, está cada vez mais perto de se efetivar e é bom saber que a FIFA se importa com as atletas. Isto é também um "abre olhos" para todas as outras entidades que estão ao redor da modalidade.
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Esta edição do Campeonato do Mundo será a mais vista de sempre. Para vocês, este é um estímulo extra?
-Cada vez temos mais recursos para que o nosso foco seja sempre aquilo que fazemos dentro das quatro linhas. Porém, perceber que estão a dar luz e voz às jogadoras de futebol é algo que me deixa bastante feliz, como mulher e desportista. Por outro lado, vivemos numa era em que todos necessitamos muito de atenção. Tenho receio que, com o passar do tempo, tudo isto deixe de ser tão genuíno e passe a ser algo automático. Ainda assim, há que salientar que é bom haver este destaque e nós, futebolistas, só temos de o receber de uma forma natural. É fundamental serenar, absorver tudo de um modo harmonioso e, se possível, capitalizar isso em ganhos individuais. Esta sempre foi a minha forma de estar. Talvez tenha uma responsabilidade acrescida por ser uma das jogadoras mais mediáticas, mas, ao mesmo tempo, este ciclo também é fácil para mim. Quando não havia toda esta visibilidade, a Jéssica já fazia as coisas de uma maneira diferente.
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"Este é o Mundial de todo o País"
Jéssica projeta que, daqui a dez anos, a Seleção Nacional será uma potência do Velho Continente
Que apelo quer deixar aos portugueses para o Campeonato do Mundo?
-Que acordem cedo e que nos vejam jogar. Que acreditem em nós e que nos transmitam a força deles. Queremos muito deixá-los orgulhosos. Este não é o Mundial da seleção feminina, mas sim de Portugal inteiro, de todo o País.
"Hoje, as miúdas da formação sabem que podem ser profissionais e isso dá-lhes um "boost" extra para estarem no futebol de uma forma diferente"
Como é que perspetiva o futuro próximo do futebol feminino português?
-Em cinco anos, isto cresceu muito rápido. Fui embora [para o futebol espanhol] há seis anos e, na altura, estava longe de imaginar que, num futuro próximo, existiriam mais jogadoras profissionais e que os clubes se iam interessar em oferecer melhores condições. Tudo mudou. Isto faz-me acreditar que, dentro de dez anos, Portugal será uma das potências da Europa. Vejo as miúdas da formação a crescerem, sabendo que podem ser profissionais e representar a Seleção Nacional. Isso dá-lhes um "boost" extra para estarem no futebol de uma forma diferente. Daqui a uma dezena de anos, as jovens de agora estarão ao serviço dos respetivos clubes no plantel sénior e isso trará maior qualidade e competitividade ao nosso campeonato e, consequentemente, à Seleção principal. Este ano, nos escalões de sub-19 e sub-17, Portugal esteve muito próximo de chegar aos Europeus das respetivas categorias. Tudo isto é o reflexo do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido por todos os intervenientes do futebol feminino português, do investimento que os clubes e a Federação Portuguesa de Futebol estão a fazer e também do enorme talento das atletas.