"Já não entramos num jogo com medo. O mínimo que queremos fazer é orgulhar Portugal"
ENTREVISTA, PARTE I - A nona edição do Campeonato do Mundo de futebol feminino está prestes a arrancar e a "superestrela" Jéssica Silva, natural de Vila Nova de Milfontes, vai fazer de tudo para ajudar Portugal, que se estreia, a brilhar
Corpo do artigo
Com um carisma único, Jéssica Lisandra Manjenje Nogueira Silva, de 28 anos, garantiu, numa longa conversa com O JOGO, que a Seleção Nacional está ciente das dificuldades que irá encontrar na primeira aparição no certame intercontinental. No entanto, no léxico da equipa das Quinas, o impossível não tem espaço.
No dia em que o selecionador Francisco Neto anunciou as jogadoras que vão representar Portugal no Mundial, fez uma publicação nas redes sociais a dizer que "esta convocatória é mais especial do que aquilo que pensam". Afinal, o quão especial é?
-É mesmo especial. É saber que faço parte do lote de futebolistas escolhidas para a participação inédita de Portugal na maior competição de todas. É a realização de um sonho.
"Foi-nos incutido o acreditar sem ver, a ideia de que, com a melhor mentalidade, a trabalharmos e a desenvolvermos as nossas capacidades, podíamos fazer algo distinto"
Recuando uns anos no tempo, algum dia imaginou que o futebol feminino português iria atingir este patamar e que vivenciaria tudo como atleta?
-Quando comecei a jogar, não acreditava tanto nisso. Entretanto, com a chegada dos professores Francisco Neto, José Paisana e Marisa Gomes e da diretora Mónica Jorge, passámos a acreditar de um modo diferente no nosso potencial. Foi-nos incutido o acreditar sem ver, a ideia de que, com a melhor mentalidade, a trabalharmos e a desenvolvermos as nossas capacidades, podíamos fazer algo distinto. Cheguei a partilhar o campo com a Edite Fernandes, a Carla Couto e a Sónia Matias. Orgulhosamente, faço parte dessa época de transição. Por esse motivo atribuo um valor adicional a esta presença no Mundial e a tudo aquilo que conquistámos nos últimos anos. Esta estrutura pegou em nós de uma forma mais emotiva. Todos acreditavam no crescimento. O caminho foi-se fazendo e, passo a passo, fomos superando diversas etapas para chegar ao patamar em que nos encontramos atualmente.
"Quem nos acompanha sabe perfeitamente que temos feito exibições espetaculares diante de grandes seleções"
Na fase final, Portugal está inserido no Grupo E, juntamente com Estados Unidos, que venceram as edições de 1991, 1999, 2015 e 2019, a seleção dos Países Baixos, vice-campeã mundial, e Vietname. O que se pode esperar?
-Quem nos acompanha sabe perfeitamente que temos feito exibições espetaculares diante de grandes seleções. Isso, obviamente, fez crescer alguma confiança em nós. Contudo, também temos os pés bem assentes na terra. Respeitamos, como ninguém, os Estados Unidos e os Países Baixos, porque são dois conjuntos com história, e que possuem jogadoras que temos como referências. Claro que temos de estar no máximo, ao melhor nível, para nos batermos contra estas formações, mas já não entramos para um jogo com medo. Estamos focadas em fazer algo bonito e, para isso acontecer, temos de colocar em prática a nossa dedicação, entrega, entreajuda, garra, qualidade com bola e competência coletiva.
"O encontro com a Inglaterra deu-nos motivação e agregou ainda mais a equipa"
O desafio com a campeã europeia Inglaterra (empate 0-0, a 1 de julho, em Milton Keynes) prova que tudo é possível no Campeonato do Mundo?
-Prova que é difícil, mas nada é impossível. Temos de ter noção das dificuldades que vamos ter no Mundial, mas Portugal está a caminhar bem e a fazer as coisas de uma forma muito positiva. Contra factos não há argumentos: o jogo com a Inglaterra foi um bom sinal, deu-nos motivação e agregou ainda mais a equipa. É esse tipo de encontros que faz com que ganhemos um coletivo. Elas são as campeãs europeias e temos muitas delas como ídolos. Todavia, independentemente do resultado, a nossa confiança nunca ficaria abalada.
16691521
"O mínimo que queremos fazer é orgulhar Portugal"
Na ótica de Jéssica, a maioria dos portugueses tem a noção de que o apuramento da Seleção Nacional para o Mundial da Austrália e da Nova Zelândia já foi uma conquista épica: "O nosso grupo de trabalho é, realmente, ambicioso. Sobretudo nos últimos oito anos, temos tentado, sempre, defrontar seleções que estão acima de nós no ranking. Esses duelos perante as melhores fizeram-nos crescer, evoluir. No Campeonato do Mundo, o mínimo que queremos fazer é orgulhar Portugal. Pretendemos demonstrar que somos uma equipa capaz de se bater contra qualquer oponente".
16691514