Contra a discriminação de género na folha de vencimentos, várias jogadoras da seleção dos Estados Unidos, a mais poderosa do mundo, avançaram para tribunal
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Contra a discriminação de género na folha de vencimentos, várias jogadoras da seleção dos Estados Unidos, a mais poderosa do mundo, avançaram para tribunal, mas para já, perderam a causa. Em Portugal, a realidade é incomparável e há apenas três equipas profissionais que na próxima época se debatem com tetos salariais, medida da FPF que visa promover maior equilíbrio.
Em Portugal, onde a modalidade cresce com três equipas profissionais, o cenário é diferente, porque a realidade é incomparável.
Folha salarial discriminatória. Foi este um dos argumentos para a ação judicial movida contra a federação de futebol dos Estados Unidos por parte de 28 jogadoras daquela seleção, tetracampeã mundial. Com maior sucesso desportivo e até com receitas geradas superiores, em comparação com a seleção masculina, o futebol feminino nos Estados Unidos tem uma dimensão muito superior. Megan Rapinoe é um dos principais rostos da luta pela igualdade salarial, batalha que ganhou ainda maior expressão durante o último Mundial"2019. "Equal pay" foi o mote e mesmo Marta, considerada a melhor futebolista de todos os tempos, foi mentora de diversas ações e continua a alertar para a discriminação salarial. Nos Estados Unidos, Rapinoe e companhia não baixam os braços à primeira adversidade e avançaram com um recurso face à decisão do juiz que não deu provimento às reivindicações.
"Em termos orçamentais, consome muito menos do que o masculino. Para termos uma equipa na primeira divisão feminina, teremos um custo de um terço, ou um quarto, em relação è equipa masculina no CdP, dois escalões abaixo"
Em Portugal, onde a modalidade cresce com três equipas profissionais, o cenário é diferente, porque a realidade é incomparável. No âmbito do plano de reformulação dos campeonatos, a Federação Portuguesa de Futebol implementará um teto salarial na próxima época, medida que visa equilibrar a competição, contribuindo para a contenção de despesas, sendo natural que a iniciativa venha restringir o raio de ação dos três grandes (Benfica, Braga e Sporting), cuja capacidade financeira é maior e até pela via da profissionalização. Dado o alargamento de 12 para 20 equipas, o Torreense, dos que mais investiu no segundo escalão, foi um dos clubes promovidos e o vice-presidente Nuno Carvalho, que tem o pelouro financeiro, ainda aguarda por uma notificação federativa sobre esta matéria. "Só sabendo qual o teto salarial é que poderemos de alguma forma fazer um juízo. Imagine, 10 000 euros é uma coisa, 1000 euros é outra. É uma medida que faz sentido, porque cometem-se algumas loucuras e no fundo o mérito desportivo passa a mérito financeiro. O futebol feminino tem vindo a evoluir e tem ganho visibilidade. Em termos orçamentais, consome muito menos do que o masculino. Para termos uma equipa na primeira divisão feminina, teremos um custo de um terço, ou um quarto, em relação è equipa masculina no CdP, dois escalões abaixo", explica o dirigente a O JOGO.
Apesar da diferença, Nuno Carvalho sente que tem havido "crescimento salarial e condições". Os clubes que o nosso jornal contactou continuam à espera de uma comunicação oficial federativa sobre o teto salarial, sendo que os vencimentos estão espelhados num estudo do Sindicato dos Jogadores, realizado quando o Benfica ainda não estava em competição. Com a entrada das águias, os salários pagos subiram tendencialmente, mas exceção feita aos grandes, a realidade é assimétrica e ainda muito distante dos homens, naquela que é uma batalha que continuará a ter um muito longo percurso por trilhar.
Todavia, mesmo no segundo escalão, o investimento começa a ganhar forma. Apostado em subir, o que não aconteceu face à decisão federativa quanto às promoções, o Paio Pires partiu com um orçamento de meio milhão de euros.
Importa referir que em 2018 apenas 17,4 por cento das jogadoras do principal escalão tinha contrato de trabalho e 66,7 por cento não auferia qualquer vencimento. A este nível, por questões legais e contributivas - e até efeitos de certificado internacional - quando são contratadas jogadoras extra-comunitárias, os emblemas têm de oferecer um contrato profissional às mesmas, o que garante pelo menos, o pagamento do salário mínimo nacional.