"Nunca tive problemas com os rapazes. Até fui capitã de equipa na Malveira..."
Maria Baleia joga no Ouriense, equipa da zona Sul que garantiu a permanência na Liga BPI. Um feito que a extremo considerou importante principalmente depois do arranque menos positivo.
Corpo do artigo
Aos 25 anos, a extremo joga futebol e estuda em simultâneo. A ideia de se profissionalizar tornou-se uma miragem, mas o amor pela bola é o motivo que a leva a continuar.
Consumada a permanência do Ouriense. Que balanço faz da temporada?
- Resumidamente, foi um bocadinho diferente. Não só pelo novo modelo do campeonato, mas também porque houve muitas entradas e saídas ao longo da época e isso dificultou um bocadinho todo o processo. Mas, com o passar do tempo, fomos estabilizando e criámos um grupo muito bom.
Apesar das dificuldades iniciais, sente que a equipa deu uma boa resposta?
- No início tivemos casos de covid-19 e, para piorar a situação, apanhámos logo os dois grandes da nossa série, o Benfica e o Sporting. Essas derrotas ao longo do campeonato demonstraram a nossa instabilidade. Posteriormente, mudámos de treinador e tivemos de nos adaptar a um estilo de jogo diferente. No entanto, terminámos a época num bom momento. Apesar de todas as adversidades, demos sempre uma boa resposta e mostrámos que queríamos mais, e, no fundo, fomos capazes de fazer melhor do que fizemos nas derrotas.
Este é o segundo ano em Ourém, como está a ser a experiência?
- Esta época foi muito diferente da passada, mas estou a gostar bastante de estar no clube. Toda a infraestrutura apoia aquilo que nós pretendemos e estão sempre lá para nós. O Ouriense é uma grande equipa, que tem um nome histórico na Liga BPI, por isso está a ser uma experiência muito boa.
Antes do Ouriense passou por outros emblemas e até teve a experiência de jogar com rapazes. Vê isso como uma aprendizagem valiosa?
- Sim, joguei com rapazes dos seis aos 13 anos. Quando fui para o 1º Dezembro, com 14 anos, achei tudo muito diferente, a maneira como jogavam e o facto de o jogo não ser tão rápido e tão agressivo. Nessa fase tive de me adaptar um bocadinho. Com os rapazes aquilo é sempre a andar, é ir atrás da bola e pronto. Mas sinto que foi uma aprendizagem muito boa para mim e acredito que as raparigas que vêm do futebol misto têm capacidade para dar resposta a qualquer situação de jogo.
Adquiriu algumas características especiais nessa fase?
- Sim, sou uma jogadora muito raçuda, acho que é uma das coisas que me destaca. Nunca desisto e tenho sempre garra para ir atrás da bola; e isso nós aprendemos muito com os rapazes, principalmente porque quando jogamos com eles queremos sempre mostrar que somos capazes e que não somos inferiores. Quem vem do futebol misto tem essa capacidade.
Quando jogava com eles sentiu algum tipo de discriminação?
- Não, nunca senti. Aliás, até fui capitã de equipa na Malveira e eles sempre me respeitaram.
"O Ouriense é uma grande equipa que tem um nome histórico na Liga"
Depois dessa experiência, surgiu o 1º Dezembro, naquela que foi a primeira passagem por uma equipa feminina...
- Nessa altura, subi às seniores muito cedo, com 16 anos, e todas as pessoas que estavam lá eram muito mais velhas do que eu. E o facto de estar com jogadoras mais velhas foi muito importante para mim. Lembro-me de num dos jogos, em que a Carla Couto ainda estava no 1º Dezembro, entrei para jogar a ponta de lança com ela. Olhei para ela e pensei: "Não acredito que estou a jogar com a Carla Couto, com a Paula Cristina e com a Sílvia Brunheira". Foi uma grande aprendizagem.
Passou por outros clubes, mas teve ainda uma paragem na carreira. Pensou em arrumar as chuteiras?
- Coincidiu com uma fase em que estive doente e, posteriormente, comecei a trabalhar para poder estudar e não conseguia conciliar. Quando vim estudar para Rio Maior ingressei no A-dos-Francos, por ser aqui ao lado. Nessa fase, decidi recomeçar de novo, mas em determinada altura achei que já não regressaria.
E agora como consegue conciliar as duas coisas?
-Basicamente tenho o sábado e a segunda-feira livres. De resto, treino quatro vezes por semana e jogamos ao domingo. É um bocadinho difícil, principalmente na época de testes, conciliar tudo. Às vezes faço mais noitadas do que aquelas que queria. O desgaste é grande.
Relativamente ao futuro, ainda tem o sonho de ser profissional?
- Já deixei de pensar nisso, de me profissionalizar no futebol. Acho que o que me mantém aqui é o amor que tenho pela bola. Tudo o que consigo retirar do futebol para a minha vida pessoal, como a disciplina e o compromisso, é muito mais importante para mim do que ser profissional.
Há alguém que seja uma referência para si no futebol?
- A Anita (capitã). Desde que a vi jogar sempre a admirei. Lembro-me de chegar a Ourém e dizer-lhe: "Finalmente, não vou ser eu a ter de te tirar a bola". É uma grande jogadora.