Declarações de Aitana Bonmatí, eleita a melhor jogadora do último Mundial feminino, que ficou "manchado" por um beijo forçado de Luis Rubiales, antigo presidente da RFEF, após a conquista de Espanha.
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Aitana Bonmatí, eleita a melhor jogadora do último Mundial feminino, vencido por Espanha, concedeu este domingo declarações ao programa espanhol "Salvados", onde comentou vários dos acontecimentos que sucederam após o beijo forçado de Luis Rubiales a Jenni Hermoso, que levou à demissão do antigo presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF).
Sobre esse momento, a médio espanhola referiu que "serviu para que houvesse melhorias definitivas" no organismo que tutela o futebol espanhol: "O facto de ter manchado o nosso Mundial valeu a pena. Há coisas que pedimos muito mais do que o beijo. Sempre tentámos lidar com isto internamente".
Na sequência desse escândalo, a maioria das campeãs mundiais anunciou a sua indisponibilidade para serem convocadas enquanto não houvesse uma reestruturação completa da RFEF, mas viram-se "obrigadas" a comparecer à chamada da nova selecionadora Montse Tomé.
Essa "obrigatoriedade" explica-se devido à lei espanhola considerar a não comparência a uma convocatória da seleção como um ato muito grave, com sanções que vão de multas de três a 30 mil euros, uma eventual suspensão da licença por um período de dois a quinze anos e uma proibição de acesso aos estádios por um período não superior a cinco anos.
Com base nessa informação, Bonmatí admitiu não compreender a razão da existência dessa lei.
"Da minha parte, foram momentos difíceis, com nervosismo e ansiedade. Obrigaram-nos por lei a ir para um sítio onde não queríamos ir se não mudassem algumas coisas. Não entendo que exista uma lei que te obrigue a ir à seleção se num determinado momento não te sentes bem para ir", desabafou.
"Queremos um tratamento profissional e o que se viu não é nada profissional. Temos vindo a pedir mudanças e estávamos muito longe de ser um exemplo a nível mundial", acrescentou, a respeito das exigências das jogadoras, que apesar do boicote representaram a seleção em jogos da Liga das Nações.
De resto, Bonmatí refletiu sobre o tema da desigualdade de salários no futebol masculino e feminino, considerando que essa questão é mais profunda, tendo outros aspetos merecedores de reflexão, como a diferença nas condições em que as jogadoras praticam a sua profissão.
"O salário mínimo é um salário baixo para uma futebolista profissional. A nossa profissão implica uma dedicação total, com viagens, restrições e muitas outras coisas. A desigualdade é óbvia, mas nós não pedimos para receber o mesmo do que os homens, porque não acreditamos que tenha de ser assim, mas sim com igualdade de condições e com uma aposta. Neste momento, o Barcelona ganha dinheiro connosco, por exemplo", afirmou.
"Hoje em dia chego a alguns campos e penso: 'Como podemos jogar neste campo...' A nossa integridade como futebolistas está em perigo e estamos a falar de uma Liga profissional. Quando [a Liga espanhola] mudou de nome, para mim só mudou isso, nos atos e factos não vejo muitas coisas. Ainda resta muito caminho para percorrer e temos um grande exemplo não muito longe, em Inglaterra. Tentemos olhar para lá e aprender com eles", concluiu.