PERFIL - Durante a pandemia, numa conversa a quatro com outro casal homossexual de desportistas (Megan vive com a basquetebolista Sue Bird), disse que Putin, o presidente lhe parece "bastante gay, basicamente um travesti."
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Em dezembro de 2019, a revista americana Sports Illustrator atribuiu pela quarta vez em 66 edições o prémio de desportista do ano a uma mulher.
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Na capa, a vencedora surge de vestido branco, cabelo pintado de lilás e segurando um grande martelo de demolição, que ilustra com rigor a sua imagem pública. Nesse ano, Megan Rapinoe atingiu o pico da sua carreira futebolística. Ao segundo título de campeã mundial, pelos Estados Unidos, juntou quase todos os prémios possíveis, Bola de Ouro feminina, Bola e Bota de ouro no Mundial, FIFA The Best, IFFHS, FIFPro World XI e uns quantos mais ainda. Nunca lhe tinha sucedido nada assim na carreira e já contava 33 anos.
A influência na seleção americana nunca variara muito, já fora importante, por exemplo, na medalha de ouro olímpica de 2012. A razão para este súbito (e justo) reconhecimento talvez tenha sido a projeção que ganhou nos últimos quatro anos, desde que se ajoelhou durante o hino americano em solidariedade com um jogador de futebol americano (Colin Kaepernik) ostracizado pela NFL depois de ter feito o mesmo, em protesto contra os casos constantes de civis negros mortos pela polícia. Foi então que o mundo se apercebeu da indomável Rapinoe, que encontrou na seleção americana uma mão cheia de personalidades semelhantes e instruídas, como as co-capitãs Alex Morgan e Hope Solo.
Dessa firmeza nasceu o processo contra a Federação dos Estados Unidos que exigia, para as mulheres, as mesmas condições que são dadas aos homens e com um bom argumento: a seleção feminina vence mais (ganhou quatro dos oito mundiais realizados) e gera maiores receitas. Na semana passada, um juiz deitou por terra a parte financeira das reclamações, por entender que a equipa feminina é mais bem paga do que a masculina, numa tese rebuscada que Rapinoe e as colegas vão contestar em recurso. E com apoios fortes. Joe Biden, candidato democrata às eleições presidenciais, criticou imediatamente a decisão do tribunal e participou numa conversa via redes sociais com Megan, que aproveitou a oportunidade para sugerir (por graça) que Biden a escolhesse para o cargo de vice-presidente: "Acho que conseguia conciliar com o futebol."
Megan Rapinoe é originária de uma família da Califórnia rural e tem uma irmã gémea (Rachael), que também foi futebolista. O irmão mais velho Brian é toxicodependente e começou um trajeto de reformatórios e cadeias ainda Megan não chegara à adolescência. Antes de se fixar no futebol, ela experimentou atletismo e basquetebol, mas foi mesmo o "soccer " que lhe valeu uma carreira universitária, em Portland. Nessa altura, já jogava nas seleções jovens (são 17 anos ao serviço da equipa nacional) e com grande destaque, como médio ou extremo.
Seguiram-se sete clubes, incluindo o Sydney FC, na Austrália, e o Lyon, em França, mas sobretudo muitas causas. A primeira foi a homossexualidade, assumida bastante cedo, e o papel interventivo que sempre teve em várias associações LGBT, mas sempre com uma piscadela de olho à política, à filantropia e ao desporto paralímpico. Em 2015, levantou a voz contra os relvados sintéticos, eliminados nas provas masculinas mas habituais nas femininas, e depois dedicou-se a Trump, que já insultou várias vezes. A seleção campeã de 2019 recusou visitar a Casa Branca. Durante a pandemia, numa conversa a quatro com outro casal homossexual de desportistas (Megan vive com a basquetebolista Sue Bird), disse que Putin, o presidente lhe parece "bastante gay, basicamente um travesti."
