"Luis Díaz encontra poucos jogadores comparáveis até na história do FC Porto"
José Manuel Ribeiro, João Ricardo Pateiro e Luís Freitas Lobo, protagonistas do programa "Visão de Jogo", na TSF, respondem a cinco perguntas relacionadas com o clássico desta quinta-feira entre FC Porto e Benfica.
Corpo do artigo
1 - Sem Evanilson, que se vinha revelando uma arma muito eficaz contra três centrais, Nélson Veríssimo não facilitará a vida ao FC Porto se regressar à linha de quatro defesas?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
- Corre sempre esse risco, mas o Benfica precisará sempre de mudar qualquer coisa, ainda que não possa ser radical. A possibilidade de uma linha de quatro defesas tem, para já, a vantagem de deixar Sérgio Conceição na dúvida. De qualquer forma, acredito que o sacrifício de um dos avançados para jogar com três médios já seria uma possibilidade no FC Porto.
JOÃO RICARDO PATEIRO
- Penso que não facilitará. Jogou com três centrais no duelo da Taça e não conseguiu parar o ataque do Porto. A equipa do Benfica nunca se sentiu confortável a jogar no sistema tático que Jorge Jesus escolheu para esta época. Vejo um Benfica mais confortável a jogar com uma defesa a quatro, apenas com dois centrais.
LUÍS FREITAS LOBO
- A questão de jogar com três centrais ou clássica defesa a "4" não pode depender do adversário, mas sim do que melhor se adaptar ao jogo da equipa (e modelo do treinador). Mesmo assim, e pensando nas nuances estratégicas que estes jogos devem ter, tal não irá facilitar porque (além das ausências de titulares nessas posições) nunca vi esse sistema de três centrais como o mais indicado para potenciar o melhor jogo do Benfica. O reforço do meio-campo que resultará dessa mudança na defesa será mais importante e dificultador para as dinâmicas de jogo do FC Porto.
2 - Qual é o melhor parceiro alternativo para Taremi? Ou não deve ter parceiro?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
- Toni Martínez, porque perturbaria mais uma defesa de recurso como a que o Benfica terá de usar e porque Taremi cada vez menos é uma presença fixa na área, como o espanhol tende a ser. Pode ser um jogo para a artilharia pesada. A alternativa é a criatividade. Os passes do Fábio Vieira, com médios a chegar à área, seriam uma realidade nova para o Benfica.
JOÃO RICARDO PATEIRO
-Em princípio seria Toni Martinez a escolha mais óbvia, mas duvido que Sérgio Conceição dê a titularidade ao avançado espanhol. Acredito mais num FC Porto com um avançado centro (Taremi) e com Otávio a aparecer com mais frequência no corredor central, em apoio ao ponta-de-lança.
LUÍS FREITAS LOBO
-Neste jogo penso que um 4x3x3 que permita Otávio jogar mais vezes por dentro vindo da ala para se tornar quase como segundo avançado em posse, combinando com Fábio Vieira (o jogador médio com pele de avançado vindo de trás), pode ser melhor do que optar por outro avançado centro puro mas sem as características de complementaridade criadas com Evanilson. Pede-se, por isso, outro tipo de combinações.
3 - Foi um erro de Jesus abdicar de uma dupla de pontas de lança no primeiro clássico? E assim sendo, como deve ser composta agora?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
- O Benfica tem muitos pontas de lança e todos de muita qualidade. De uma forma genérica, do ponto de vista da formação do plantel, é sempre incongruente que acabe a jogar com apenas um. Neste caso, batia certo com a estratégia (defender e contra-atacar), mas também era um sinal de submissão para a equipa. Agora será duplamente mais difícil para Nélson Veríssimo explicar aos jogadores que não atacarão menos do que o FC Porto por serem inferiores. Se for o caso.
JOÃO RICARDO PATEIRO
-O sistema tático do Benfica com Jorge Jesus ficava sempre muito condicionado pela colocação dos três defesas centrais. Isso retira um jogador ao meio-campo ou ao ataque. Mesmo quando jogou com Yaremchuk e Darwin, o uruguaio jogou sempre descaído no flanco. Ou seja, não jogava propriamente com dois avançados centro! Compreendo a intenção de retirar Yaremchuk e colocar Taarabt... Para dar melhor saída de bola e reforçar o meio-campo. Acredito que, apresentando agora apenas dois centrais, possa incluir um terceiro jogador no meio-campo, mas não acredito que jogue com dois pontas-de-lança, até porque não terá Darwin. Penso que o Benfica irá apresentar-se num 4x3x3.
LUÍS FREITAS LOBO
-Não foi um erro, o problema esteve no sistema. A dupla até pode ser a mesma, com Rafa solto em torno de um n.º 9 como Seferovic ou Yaremchuck, mas numa estrutura de 4x4x2. Com a proteção e apoio/assistência do meio-campo reforçado poderá ser a forma de confundir mais o processo defensivo do FC Porto. Ou seja, mais uma vez volto a colocar o centro do problema/solução tática no meio-campo e não no ataque ou na defesa. Questão de equilíbrio dinâmico dos sistemas.
4 - O meio-campo do FC Porto foi protagonista há oito dias. Como pode o Benfica contrariá-lo?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
- Paulo Bernardo. Com ele, o Benfica pode ter um trio de meio campo sensato e equilibrado, ainda que sem o caos do Taarabt, que foi a escolha há oito dias. Mas o facto de terem sido os médios do FC Porto a mandar nessa altura não significa que o jogo não siga outros caminhos agora. Um meio-campo a três pode até fazer desses médios mais armas de ataque do que de controlo.
JOÃO RICARDO PATEIRO
-Passa pela inclusão do terceiro médio. Um médio que assuma mais essa função do que Taarabt. Pode ser Pizzi... ou Paulo Bernardo, libertando Taarabt para funções mais ofensivas.
LUÍS FREITAS LOBO
-Estruturando-se numa linha de quatro em que o duplo pivô Weigl-João Mário tenha o apoio de Pizzi na relação entre as faixas e a zona central, ficando depois a hipótese de lançar Taraabt quase como um 10 (médio centro mais adiantado) que pode, no processo atacante, soltar-se para a zona de último passe servindo a dupla da frente.
5 - Luis Díaz é o jogador superlativo do campeonato, mas há um ano era um titular incerto. Tem um substituto à altura?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
- Um bom Corona disfarçaria, mas este Luis Díaz encontra poucos jogadores comparáveis até na história do FC Porto. Mesmo que houvesse desequilibradores como ele no plantel, nenhum tem tanto golo, incluindo Corona. É uma oportunidade para quem quer que seja escolhido. Há dois anos, Díaz estava melhor do que Pepê está agora, mas não muito.
JOÃO RICARDO PATEIRO
-Não há alternativa com a qualidade de Luis Díaz. Estamos a falar do melhor jogador do campeonato. Fábio Vieira pode ser o Joker de Sérgio Conceição na ausência da "cobra" colombiana!
LUÍS FREITAS LOBO
-Impossível substituir o génio de Luis Díaz. É neste momento um jogador único no ataque do FC Porto (e até do campeonato). Decide pela forma como sabe encontrar melhores espaços (dando essa variedade de jogo a equipa) ou como, em jogadas individuais, resolve jogos com arrancadas de finta, velocidade e golo. Sem ele, tem de mudar a forma de atacar portista. Sem o mesmo poder de explosão e buscando o ataque posicional organizado.