Lesões graves nos joelhos destroem os sonhos das futebolistas: é hora de agir
Leah Williamson, capitã da Inglaterra, rompeu o ligamento cruzado anterior e está fora do Campeonato do Mundo.
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Ao longo dos últimos anos, inúmeras jogadoras têm sofrido lesões graves no ligamento cruzado anterior (LCA) e, obviamente, a cada dia que passa, torna-se mais urgente debater o tema, examinar o fenómeno e arranjar os mecanismos mais eficazes para combater o flagelo que tem devastado o futebol feminino.
Depois de Alexia Putellas, melhor futebolista do mundo nos últimos dois anos, Marta, Megan Rapinoe, Beth Mead, Vivianne Miedema, Catarina Macario, Dzsenifer Marozsán, Marie-Antoinette Katoto, Alexandra Popp e Ada Hegerberg - todas atletas de elite -, esta sexta-feira foi a vez de Leah Williamson anunciar que também foi alvo da "maldição". A central do Arsenal, de 26 anos, que capitaneou a Inglaterra até à conquista do Campeonato da Europa de 2022 e da Finalíssima Intercontinental no início deste mês, rompeu o ligamento cruzado anterior no jogo frente ao Manchester United, na quarta-feira, dia 19, e terá de ser submetida a uma intervenção cirúrgica, falhando os restantes encontros do campeonato, as meias-finais da Liga dos Campeões e, sobretudo, o Mundial'2023, que decorrerá na Austrália e na Nova Zelândia, de 20 de julho a 20 de agosto.
Em Portugal, os casos mais recentes aconteceram com Pauleta, Daniela Silva, Valéria Cantuário e Amélia Silva, quatro futebolistas do Benfica que sofreram a mesma lesão.
A 21 de dezembro do ano passado, em Salford, na gala de atribuição dos prémios anuais da BBC Sports, Beth Mead, melhor jogadora e máxima artilheira - a par de Alexandra Popp, com seis golos cada uma - do Europeu'2022, deixou um apelo quando subiu ao palco para receber o galardão referente à categoria "Personalidade Desportiva do Ano", pedindo igualdade de tratamento relativamente a esta questão.
"Não parece que estão a fazer muito para entender o que se passa quanto às lesões. Se fosse com o Cristiano Ronaldo, o Messi ou o Griezmann, haveria muito mais a ser feito, estariam a fazer muito mais. Infelizmente, isto aconteceu-nos, mas esperemos que possa levar ao início de algo", afirmou a extremo inglesa, de 27 anos.
A verdade é que o corpo das mulheres é bastante diferente do dos homens e, ao contrário daquilo que acontece no futebol masculino, faltam estudos sobre as lesões no futebol feminino. A rápida evolução da modalidade não tem usufruído do devido acompanhamento por parte dos organismos responsáveis no que a esta matéria diz respeito.
Em declarações à Sky Sports, Emma Ross, especialista em saúde feminina, revelou que "há evidências científicas que apontam para que as mulheres apresentem uma probabilidade até seis vezes maior de ter uma lesão no LCA sem contacto do que os homens", realçando que "só seis por cento dos estudos sobre lesões no desporto são feitos exclusivamente sobre mulheres", o que, logicamente, limita o conhecimento sobre as especiais características anatómicas femininas.
Uma das hipóteses levantadas é o ciclo menstrual, uma vez que, segundo Emma, "as mudanças hormonais podem ter impacto na biomecânica do corpo". "Quando o estrogénio é elevado, o que sucede na segunda semana do ciclo, a estabilidade das articulações pode ser afetada, tornado-as mais propensas a lesões", alertou a perita.
A dissimilitude na dinâmica dos movimentos comparativamente aos homens, o maior desgaste na prática desportiva e as mudanças repentinas de direção - como no ato de driblar - são outras das causas apontadas para as mulheres serem mais suscetíveis à lesão. No entanto, a escassez de pesquisas acerca do assunto não permite um veredito sem interrogações.
Para se encontrar soluções, é indispensável descobrir a raiz do problema. Chegou a hora de agir.