Inês Pereira não esconde ambição: "Trabalho para ser uma das melhores guarda-redes da Europa"
Em entrevista ao O JOGO, a internacional portuguesa mostra-se bastante feliz pela convocatória para o Mundial deste ano. Esta sexta-feira, pode sagrar-se campeã da Suíça pelo Servette e fazer a dobradinha, depois da conquista da Taça.
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Com 24 anos, Inês Teixeira Pereira é a guardiã mais nova entre as eleitas de Portugal para a nona edição do Campeonato do Mundo de futebol feminino, que decorrerá na Austrália e na Nova Zelândia, entre 20 de julho e 20 de agosto. Natural de Lisboa, a jogadora, que representou CAC Pontinha, Estoril e Sporting enquanto sénior, antes de, em junho de 2021, rumar ao futebol suíço para vestir a camisola do Servette, contabiliza 33 internacionalizações A pela Seleção Nacional. Ao serviço da equipa helvética, está a viver um dos melhores momentos da carreira: foi considerada a melhor guarda-redes da liga, venceu a Taça e, esta sexta-feira, pode sagrar-se campeã, fazendo uma dobradinha inédita para o clube de Genebra.
Falta um jogo para terminar a temporada no futebol suíço e o Servette ainda não perdeu para as competições internas, somando apenas uma derrota, frente ao Paris FC, nas eliminatórias de acesso à Liga dos Campeões. Qual é o segredo para este registo praticamente imaculado?
- Tem sido uma época bastante positiva e queremos terminá-la de forma invicta na Suíça. Felizmente, ainda só somámos uma derrota, mas a verdade é que foi num jogo que nos eliminou da Liga dos Campeões. Não há segredo, a equipa trabalha todos os dias no máximo e sabe quais são os objetivos do clube.
Na fase regular do campeonato, o Servette terminou no primeiro lugar da tabela classificativa. Esta sexta-feira, na final do play-off de apuramento do campeão, vai defrontar o Zurique, atual detentor do título. Preparada para esse encontro decisivo?
- Estou mais que preparada. Confesso que ainda penso na final do ano passado, em que perdemos nos penáltis. Agora, quero que seja diferente e espero que possamos trazer o título para Genebra. O clube, a cidade e nós, jogadoras, merecemos bastante.
No passado dia 29 de abril, o Servette levantou, pela primeira vez, a Taça da Suíça feminina, ao bater o St. Gallen na final (1-0). Qual o significado dessa conquista para o clube?
- Fizemos história ao estar na final da Taça da Suíça e pretendíamos continuar a escrevê-la. Conseguimos vencê-la, mas agora não nos podemos contentar com isso, queremos a dobradinha.
Foi eleita a melhor guardiã do campeonato suíço. Num ano desportivo inesquecível a nível pessoal, qual o valor deste prémio?
- É, sem dúvida, um reconhecimento muito especial. Individualmente, a época não começou da maneira que eu queria, mas consegui dar a volta por cima. É sempre bom ser distinguida, porém também tenho de agradecer a todas as minhas colegas de equipa pelo prémio.
No Servette, partilha o balneário com mais duas internacionais portuguesas: a capitã Mónica Mendes e a lateral-esquerdo Ágata Pimenta. Na sua perspetiva, até que ponto é importante termos compatriotas na mesma equipa quando estamos a jogar fora do país?
- Cheguei ao Servette na mesma altura da Mónica e, sendo a minha primeira experiência fora de Portugal, ela ajudou-me bastante. Para mim, foi importante ter alguém do meu país nesta etapa no estrangeiro.
Recentemente, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou que vai duplicar o investimento no futebol feminino e revelou que, a partir da próxima época, os dois primeiros classificados da Liga BPI vão apurar-se para a Liga dos Campeões. Acredita que estes dois passos podem seduzir as jogadoras lusas que atuam no estrangeiro a voltar ao futebol português?
- Jogar na Champions League é o objetivo de todas as futebolistas. Ao colocar duas equipas na prova, o futebol português não só irá atrair as atletas lusas que jogam no estrangeiro, como também mais jogadoras de outras nacionalidades. É um feito muito importante para Portugal e para a Liga BPI.
Quais são as principais diferenças entre o futebol feminino suíço e o português?
- A principal diferença é o aspeto físico. Na Suíça, praticamente todas as equipas têm um poder físico acentuado e gostam de jogar nos duelos. Muitas vezes, até não têm tanta qualidade técnica, mas acabam por vencer o jogo devido à vertente física. Já em Portugal, o futebol feminino tem evoluído bastante e há cada vez mais qualidade.
Esteve presente na fase final do Europeu de 2022, em Inglaterra, sendo titular em duas das três partidas que Portugal disputou. Como descreve esse momento?
- Foi um momento inesquecível. Representar Portugal já é muito especial por si só, mas ter a sorte de o fazer numa fase final de um Campeonato da Europa tornou-se um estímulo extra para tudo o que quero alcançar no futuro.
Integra a convocatória do selecionador Francisco Neto para a primeira participação de Portugal num Campeonato do Mundo. O que se pode esperar, tendo em conta que a Seleção Nacional está inserida no Grupo E, com Estados Unidos, que venceram as edições de 1991, 1999, 2015 e 2019, Países Baixos, vice-campeões mundiais, e Vietname?
- É um agrupamento bastante complicado, mas num Mundial todos os grupos são assim. Os Estados Unidos não precisam de apresentações e vamos ter de ser muito solidárias nesse desafio. Os Países Baixos defrontámos no último Europeu [na altura, derrota lusa por 3-2] e sabemos que, se estivermos no nosso melhor, podemos vencer. Quanto ao Vietname, é uma equipa diferente das outras duas, mas que também nos vai causar problemas. Teremos de encarar as três partidas com a máxima entrega. A nossa mentalidade é ganhar e, para isso acontecer, vamos ter de aplicar o nosso jogo.
Qual a sua opinião sobre a Liga das Nações feminina, a nova competição da UEFA que começará em setembro?
- Será uma novidade para todas as jogadoras. Contudo, vai dar muita competitividade a todas as seleções europeias.
Ocupa uma posição muito específica dentro do terreno de jogo. Quais são as suas maiores referências?
- No futebol feminino, a minha referência é a Hope Solo, dos Estados Unidos. No masculino, o Iker Casillas.
Que características a definem como atleta?
- Desde pequena que a minha grande paixão é o futebol. Vivo intensamente este desporto, trabalho bastante, mas também sou muito crítica comigo mesma, uma vez que quero sempre evoluir.
Como é a Inês fora das quatro linhas?
- Sou muito tímida, bastante caseira e falo pouco. Tenho uma colega de equipa que chegou no mercado de inverno e que me disse que a primeira impressão que teve sobre mim não foi a melhor por aquilo que via no terreno de jogo. Todavia, quando me conheceu fora do futebol, mudou completamente de opinião. Sinto que, dentro de campo, não tenho medo de nada e liberto-me. Fora das quatro linhas, gosto de ser uma pessoa mais reservada.
Que metas e objetivos tem traçados para o futuro?
- Pretendo continuar a trabalhar e a evoluir para conseguir ser uma das melhores guarda-redes da Europa. Obviamente, também quero ajudar Portugal a marcar presença em mais fases finais de grandes competições.