Dominika Čonč, uma das capitãs da seleção de futebol feminino da Eslovénia, contou, à BBC, o ambiente que se viveu no seio do grupo nos últimos anos. Jogadoras enviaram uma carta à federação a pedir a demissão do técnico Borut Jarc, que deixou o cargo na semana passada. Mas ainda existem problemas por resolver.
Corpo do artigo
Borut Jarc deixou o cargo de selecionador da equipa de futebol feminino da Eslovénia, após as jogadoras terem enviado uma carta à federação, a queixarem-se de várias situações "inapropriadas", que levaram algumas atletas a recorrerem a ajuda psicológica.
Em declarações à BBC, Dominika Čonč, uma das capitãs da seleção, contou o que se passava no seio do grupo. "O ambiente era pouco profissional, completamente inapropriado. Havia insultos, comentários sexistas e homofóbicos sobre a nossa vida pessoal, que nada têm a ver com futebol. Isto aconteceu durante os últimos cinco anos. Tínhamos uma relação de respeito e, por medo, não dizíamos nada. Muitas jogadoras tiveram de pedir ajuda externa, a psicólogos e outros profissionais", revelou a médio do Levante Las Planas, de Espanha.
Dominika Čonč, de 30 anos, foi uma das futebolistas que assinou a carta aberta enviada à federação eslovena, exigindo a demissão do selecionador e de toda a sua equipa técnica. Nessa mensagem, as jogadoras relataram todas as situações de abuso, incluindo o facto de terem tido de jogar um encontro de apuramento para o Campeonato da Europa de 2022, que se realizou em Inglaterra, com covid-19.
Na carta enviada em julho deste ano, as atletas lamentaram também os comentários degradantes sobre o seu peso corporal, o facto de não terem equipamentos iguais aos da seleção masculina, de não terem o nome nas camisolas e de terem de ser elas a comprar a comida nas viagens. "Não havia nenhum interesse na equipa feminina. Não queriam ouvir-nos, por isso decidimos escrever tudo e enviar uma carta à federação. Mas nunca nos responderam", afirmou Dominika Čonč.
Ainda assim, para a jogadora, a saída do técnico - Borut Jarc demitiu-se na semana passada - está longe de resolver os problemas do futebol feminino no país. Nesse sentido, Dominika Čonč falou com Aleksander Čeferin, presidente da UEFA, que também é esloveno. "Ele é muito a favor do futebol feminino, mas não resolve os problemas no seu próprio país".
No documento, vários acontecimentos invasivos por parte de outros elementos foram comunicados. "O staff técnico não é profissional, até fizeram entrar álcool nas concentrações. O treinador de guarda-redes, Danilo Sergas, enviou mensagens inapropriadas a várias jogadoras através das redes sociais, enquanto o adjunto, Milomir Kondic, publicou comentários depreciativos sobre a liga eslovena de futebol feminino", pode ler-se.
Na visão de Dominika Čonč, o selecionador não era o único que abusava. "Temos a sensação de que a federação tem futebol feminino porque tem de ter. Jogamos a meio do dia, no meio de nada. Não é de estranhar que ninguém venha ver os nossos jogos", concluiu a atleta, que representou a Sampdória na última temporada.
16998752