Futebol feminino é tema na Conferência O JOGO: "É preciso igualar as condições de trabalho"
O JOGO organiza mais uma conferência, desta feita no Marco de Canaveses, onde se projetará o futuro do futebol feminino. Raquel Sampaio faz uma análise crua sobre a igualdade entre mulheres e homens na prática do desporto-rei: a realidade, diz, está longe de ser a ideal e só lá se chegará pela profissionalização.
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A participação histórica da Seleção Nacional na recente edição do Mundial colocou o futebol feminino sob os holofotes. No entanto, este entusiasmo necessita de ser alicerçado numa plataforma que, segundo Raquel Sampaio, a realidade atual ainda não oferece. Há assimetrias que travam o caminho da igualdade. A ex-jogadora, agora agente FIFA, dá o mote para a discussão de um dos painéis da Conferência que decorrerá, esta segunda-feira, no Emergente Centro Cultural, no Marco de Canaveses. O passo essencial para a igualdade, diz, é “ igualar as condições de trabalho” às que usufruem os jogadores.
Uma forma de “proteger as jogadoras no seu ambiente de trabalho, é profissionalizar a Liga”, aponta, considerando um impulso fundamental para a competitividade, sobretudo, para que “as jogadoras não tenham de trabalhar e depois treinarem ao final do dia; e jogarem ao fim de semana contra equipas totalmente profissionais”. Raquel Sampaio não consegue idealizar um futebol sem autonomia estrutural capaz de lhe conceder identidade própria. Apesar de reconhecer que há clubes que “estão a trabalhar bem e têm desenvolvido melhores condições”, sublinha que “a maioria oferece condições precárias” e dispõe de “poucos recursos a nível de staff”, concretizando: “Quando falo de recursos, refiro-me a psicólogos, nutricionistas, preparadores-físicos, analistas, treinadores de guarda-redes, team manager, médicos, fisioterapeutas afetos só ao futebol feminino.” Na análise que fez no passado recente, constatou que “só uma equipa não partilhava a totalidade destes recursos com o futebol masculino”.
Há, portanto, muito caminho a atalhar para que igualdade entre homens e mulheres no futebol seja uma realidade.
Raquel Sampaio alerta ainda para um problema emergente e preocupante. “As lesões de ligamento do joelho têm sido muito recorrentes”, indica, explicando que tal de se deve ao facto de “muitas treinarem em sintéticos em mau estado; e dos treinos alternados entre sintéticos e relvados”. “E há o problema das botas; se calhar, o material existente foi desenvolvido a pensar no homem. Agora, já se começa a pensar na futebolista e a desenvolverem-se coisas específicas para as mulheres”, acrescentou.
Autarquia estimula desporto feminino
A autarquia do Marco de Canaveses promove esta iniciativa no sentido de dar sequência ao projeto de valorização do desporto feminino, privilegiando também a sua dimensão social. Aliás, trata-se de uma aposta muito concreta do executivo liderado por Cristina Vieira, que aprovou uma nova fórmula de cálculo de atribuição de subsídios às coletividades federadas do município, incluindo uma majoração de 20 euros por cada atleta feminina inscrita. Um incentivo que varia conforme a modalidade, estando o hóquei em patins (270 euros) em primeiro plano entre os valores de referência a atribuir pela Câmara Municipal do Marco em 2023/2024. O futebol aparece em terceiro lugar (150 euros e 170 euros para clubes certificados como Entidade Formadora).
A forma como os clubes nacionais são subsidiados também é questionada por Raquel Sampaio. “O cálculo dos incentivos tem de se aproximar dos custos”, comenta, aconselhando que “terá de haver uma maior injeção de dinheiro” e “procurar mais patrocínios”, além disso “há jogadoras em grandes clubes e na Seleção Nacional, com grande visibilidade, a pagarem o seu material”, completou.
PROGRAMA
14h30 Cerimónia de abertura
Cristina Vieira, presidente da Câmara Municipal de Marco de Canaveses
Paulo Lima de Carvalho, Administrador do Global Media Group
14h45 Painel 1 Vias para o desenvolvimento do futebol feminino em Portugal
Luís Freitas Lobo, comentador de futebol
Carolina Mendes, jogadora do Braga e internacional portuguesa
Marisa Gomes, coordenadora do futebol feminino da FPF
Eduardo Filipe, presidente do Marco 09
Moderação: João Ricardo Pateiro
15h45 Painel 2 A igualdade entre homens e mulheres no futebol. Realidade ou utopia?
Pedro Pinto, vereador da Câmara Municipal de Marco de Canaveses
Sofia Teles, diretora de competições da AF Porto
Mónica Jorge, diretora do futebol feminino da FPF
Alfredina Silva, ex-jogadora do Boavista e antiga internacional portuguesa
Moderação: João Ricardo Pateiro
16h45 Encerramento
Vítor Santos, diretor do jornal O JOGO