Famalicão no feminino: "O que é dado aos homens, também deve ser dado às mulheres"
Jorge Silva, presidente do Famalicão, diz que o futebol feminino dá oportunidade às mulheres de fazerem o que mais gostam
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A aposta na modalidade é recente, mas a afirmação tem sido constante. Com o objetivo de perceber como é que surgiu esta iniciativa, o presidente do Famalicão, Jorge Silva, explicou a O JOGO os moldes do Futebol Feminino em Famalicão.
Como é que surgiu a iniciativa de apostar no futebol feminino?
- Iniciámos este projeto quando percebemos que havia muitas miúdas com vontade de jogar. Mas longe de mim pensar que ia ser tão feliz.
Ainda há muita gente que se ri do futebol feminino. Muita gente que brinca. Fazem-no por absoluta ignorância e total desconhecimento. Se observarem vão acabar por se render a esta modalidade"
Foi o sucesso no masculino que levou à aposta no feminino?
- A grande locomotiva chama-se a primeira equipa masculina. Todo o processo tem vindo a ser consequência de um trabalho que já vem de trás. Era irreal querer fazer um clube sem bases. O masculino está mais encarregue à SAD e libertou-nos para nos focar mais noutras áreas. O feminino foi uma delas. Entendemos que numa sociedade que se fala tanto em igualdade de oportunidades, na realidade tão pouco se pratica. As mulheres também têm direitos e temos de as observar como sonhadoras, como capazes. E muitas vezes não lhe são dadas as oportunidades.
Este projeto requereu um grande investimento por parte do clube?
-Há sempre investimento. O nosso orçamento é realista e vai ao encontro do que é o clube e do que são as suas possibilidades.
Acredita que a aposta gera mais mais visibilidade à modalidade?
-As equipas menos profissionalizadas começam agora a reagir, porque ninguém gosta de perder. A qualidade só existe se houver competência. E a competência trabalha-se. É preciso dar as condições que as jogadoras precisam. Aquilo que é dado aos homens, que obtêm grande resultado, também deve ser dado às mulheres.
Há mais qualidade no feminino do que aquela que se imagina?
-Ainda há muita gente que se ri do futebol feminino. Muita gente que brinca. Fazem-no por absoluta ignorância e total desconhecimento. Se observarem vão acabar por se render a esta modalidade.
O futebol feminino em Famalicão surgiu há pouco mais de um ano, mas os resultados falam por si. Esta época, a equipa soma quatro vitórias em quatro jogos, com 22 golos marcados e um sofrido
O feminino em Famalicão existe há pouco mais de um ano, imaginava começar tão bem?
-Não estava à espera. Na última época, em 14 jogos marcámos mais de 200 golos. E sofremos apenas três. Claro que não estávamos à espera. Na liga BPI, em quatro jogos temos quatro vitórias. Está a ser fascinante.
Apesar de ser referente à época anterior, o Famalicão acabou eliminado da Taça de Portugal. Como é que lidaram com essa primeira derrota?
-Foi porventura a derrota mais feliz da minha vida. Não há derrotas morais, mas que há momentos que mesmo na derrota é possível fazer-nos felizes há. Aquilo que era importante observar, foi observado. As jogadoras foram umas lutadoras e podiam ter vencido.
Para esta temporada, que objetivos é que têm?
-A verdade é que estamos a chegar à modalidade e temos de ter humildade de perceber isso. Temos de crescer. Cada jogo é reflexo de uma semana de trabalho, e tentamos fazer sempre o melhor e depois vamos somando pontos. O nosso primeiro objetivo é passar à fase de apuramento de campeão. E depois partimos para outra realidade, onde vamos lutar como sempre, sabendo que o caminho é muito exigente.
>> Primeira escolha da Direção
O treinador João Marques "é fundamental para a equipa"
João Marques foi a primeira escolha da Direção para o comando técnico da equipa. Com uma vasta experiência em outras modalidades - futsal e futebol praia -, o técnico de 44 anos abraçou este projeto quando o Famalicão deu os primeiros passos. Para o presidente Jorge Silva, o treinador é "fundamental". "É um grande conhecedor de Futebol Feminino e tem todo o mérito pelos resultados alcançados. Todas as escolhas das jogadoras para ingressar no plantel foram feitas por ele. Se temos esta qualidade também foi em grande parte pelo trabalho que o míster desenvolveu", confidenciou o presidente famalicense.