Desporto feminino cresce: quádruplo no futebol e quase paridade nas modalidades
Presença histórica de Portugal no Mundial reflete evolução do futebol feminino. Atletas quadruplicaram. Em 2012/13, em Portugal, registavam-se 2450 praticantes de futebol feminino. O número cresceu exponencialmente, recorrendo aos dados mais recentes (de fevereiro de 2023), sendo agora 9723.
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A qualificação inédita da Seleção Nacional de futebol feminino para o Campeonato do Mundo de 2023 confirma - e de que maneira -, o crescimento da modalidade em Portugal e os números ajudam a comprová-lo.
Com base em dados da última década, verifica-se que, em 2012/13, havia um total de 2450 praticantes de futebol feminino, um número que praticamente quadruplicou até esta temporada, em que se registam 9723. Contas feitas, são mais 7273 atletas, um crescimento que se reflete, sobretudo, nos escalões de formação, com uma aposta cada vez mais consistente e, de certa forma, necessária.
Se recuarmos, por exemplo, ao tempo de Edite Fernandes, Carla Couto e de tantas outras constata-se que a evolução é notária. Se antigamente as jogadoras começavam por jogar em equipas mistas e até subiam aos seniores em tenra idade, agora têm a oportunidade de crescer gradualmente.
Analisando o início desta última década, vê-se que em 2012/13 não havia praticantes sub-7, sub-9, sub-11 e sub-13, havendo, apenas, uma atleta de sub-15. Nos restantes escalões o número já era mais significativo, embora continuasse a ser baixo (41 nos sub-17 e 114 nos sub-19). Estes números, obviamente, foram crescendo com o passar dos anos e os escalões de formação começaram a ganhar uma maior dimensão.
No entanto, a evolução não se reflete na temporada 2020/21, altura em que começou a pandemia de covid-19, uma situação que levou à paragem das competições e, consequentemente, à retirada de algumas jogadoras. Ainda assim, apesar dessa temporada ter sido mais complicada - e não só no feminino -, o ano seguinte já mostrou um novo crescimento, consolidando, assim, uma evolução em todos os escalões de formação.
No caso das atletas seniores, o número foi oscilando, com aumentos e diminuições - não significativas -, e isso está, claramente relacionado com o aparecimento dos escalões de formação, que fizeram com que as jogadoras, agora com mais condições, chegassem mais tarde às equipas principais. Para este cenário muito contribuíram dois outros aspetos fundamentais: por um lado, o número de clubes com futebol feminino duplicou em dez anos, dos 188 de 2012/13 para os atuais 366; por outro, a identidade desses clubes também se alterou, registando-se a aposta de emblemas como Sporting, Braga, Benfica e Famalicão.
Competições em plena evolução
O aumento do número de atletas federadas e de clubes com futebol feminino fez com que houvesse uma maior aposta nas competições existentes em Portugal. Se na temporada 2012/13 havia apenas 15, na presente são 57 (algo menos do que na época passada, 63). Este aumento considerável, apesar do referido decréscimo, sustenta esta evolução fomentada, sobretudo, pela Federação Portuguesa de Futebol que tem criado condições para dar palco a todas as mulheres. Este crescimento também tem reflexos a nível internacional, sendo múltiplas as nacionalidades as jogadores em Portugal e muitas as atletas lusas que ganham visibilidade e emigram.
Muito perto da paridade
Um aumento de 40% nas atletas femininas desde 2013, contra 30,9% de homens, levou as mulheres para os 49% do total. Além disso, há emigrantes de sucesso em andebol, basquetebol e voleibol.
Até há pouco mais de uma década, o desporto feminino português tinha expressão com os êxitos no atletismo, os títulos no judo de Telma Monteiro e a maioria de mulheres no voleibol e na ginástica. Esse paradigma, indicam os números, está a mudar. Em dez anos, Portugal ganhou 60 666 atletas femininas nas dez maiores modalidades depois do futebol (mais 40,5%), contra 94 616 homens (crescimento de 30,9%), passando a ter 150 mil mulheres num total de 306 mil praticantes. São agora 49%, contra os 42% de 2013!
A natação, que passou a ter dez vezes mais atletas femininas (são agora 61% do total), teve um peso decisivo nesse crescimento, que também se verificou no judo - efeito Telma Monteiro -, patinagem artística e ciclismo, este duplicando as praticantes e tendo a olímpica Maria Martins a liderar um grupo de meia dúzia de emigrantes em busca da profissionalização.
E outra mudança importante deu-se precisamente no aumento das que fazem carreira profissional como atletas. O voleibol, que tem 55,7% de mulheres entre os federados, conta com 15 emigradas, espalhadas por campeonatos de sete países europeus. No basquetebol, o êxito das seleções jovens femininas levou 34 atletas a fazer atualmente carreira no estrangeiro, 14 delas nos universitários norte-americanos. O andebol tinha, no pré-pandemia, 23 emigradas, sendo sete delas a base da atual equipa nacional. Falta, para completar este ciclo de crescimento, uma evolução nos resultados seniores ao nível do masculino, tanto nas seleções como nos clubes. Isto embora Portugal já vá tendo medalhas onde nunca pensou, como na natação.