Com vários títulos na bagagem, a internacional portuguesa Joana Marchão realizou o sonho de se profissionalizar no Sporting e de partilhar o balneário com Ana Borges, uma referência que agora é uma amiga.<br/>
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Profissional desde que ingressou no Sporting, Joana Marchão vê o futebol feminino em franco crescimento. Jogou com rapazes, partilhou o espaço de treino com outras equipas e teve que faltar aos treinos por não ter transporte, mas nada disso lhe matou o sonho de ser futebolista.
Atingiu, recentemente, a marca dos 100 jogos pelo Sporting. Era um objetivo?
- Era uma coisa que não imaginava. O número 100 era uma marca tão distante que só me passou pela cabeça ser possível quando a Tati fez 100 jogos. Só na altura pensei: "Se calhar é possível".
Há cinco temporadas no Sporting, e com muitos títulos conquistados, como descreve esta experiência?
- O Sporting foi o primeiro clube, e até ao momento o único, pelo qual joguei futebol profissionalmente. Isto foi sempre o que quis, ser profissional e fazer do futebol a minha vida. E poder fazer isso no Sporting, onde fui e sou muito feliz, tem sido uma das experiências mais marcantes da minha vida.
O Sporting é a única equipa que ainda não perdeu na Liga BPI. É um bom presságio para o que resta?
- No futebol, não acredito muito nisso. Cada jogo é um jogo... O facto de ainda não termos perdido no campeonato não quer dizer nada, a não ser que temos feito um bom trabalho e que temos de continuar a fazê-lo.
Ao longo da época há momentos bons e menos bons. A derrota na final da Taça da Liga foi uma lição para os próximos jogos?
- Claro. Em todos os jogos há aprendizagem, principalmente nas derrotas. E a nossa melhor resposta foi termos vencido o jogo seguinte, contra o Famalicão, que nos permitiu isolarmo-nos na liderança.
Jogar com rapazes também foi uma experiência que teve na carreira. Isso ajudou-a?
- Sim, fiz a minha formação até aos 12 anos com rapazes. Na altura, era raro as jogadoras terem equipas de formação. Como não havia equipas femininas, começavam apenas a jogar quando tivessem idade que lhes permitisse atuar pelas seniores. Fui uma das sortudas por ter tido essa oportunidade que, claramente, contribuiu para o meu desenvolvimento tático e técnico.
De então para cá houve uma grande evolução no futebol feminino?
- As pessoas de fora não têm noção do que muitas de nós passámos para estar aqui hoje. Houve um crescendo astronómico. Nada que se compare a outros países, onde o futebol é profissional há muitos anos, mas em relação ao que era há cinco anos em Portugal... Com 13 anos fui obrigada a jogar com mulheres de 30, porque não havia outra hipótese. Hoje, felizmente, com 13 anos as jogadoras podem continuar a fazer a formação delas junto de outras jogadoras. Essa é a maior evolução.
Com a profissionalização dos clubes, o campeonato é cada vez mais competitivo?
- Claramente. Quanto mais profissionais os clubes vão ficando, mais condições dão às jogadoras para crescer e melhorar. O único senão são as equipas com pouco poder financeiro, que vão ficando para trás quando as equipas ditas grandes continuam a investir em jogadoras e condições de trabalho. Aí, tem de começar haver outras ajudas. Só assim poderemos pensar num campeonato 100 por cento profissional e mais competitivo.
Desde que começou a competir até aos dias de hoje, quais são as principais diferenças que encontra?
- Uma das diferenças é a Liga. Tem uma estrutura completamente diferente. E depois, lá está, as condições de trabalho que o Sporting tem conseguido dar-nos. Quando jogava no Ouriense só treinava três vezes por semana e muitas vezes tínhamos que partilhar o campo com outra equipa que treinava à mesma hora. Às vezes não conseguia ir aos treinos porque vivia longe e os meus pais é que me levavam.
Sentiu algum tipo de discriminação por ser mulher?
- Felizmente, sou uma das sortudas. Raramente senti isso. Os meus colegas e amigos na altura estavam sempre prontos a defender-me e em momento algum me puseram de parte por ser mulher. Ainda hoje mantenho amizade com muitos deles. Tenho alguns episódios, mas nada que me fizesse querer desistir, o que infelizmente ainda acontece com algumas meninas.
Há alguém que seja uma referência para si no futebol?
-A Ana Borges. Quase todas as semanas lhe digo isso. Quando soube que ela vinha para o Sporting, nem dormi com ansiedade. Agora, tenho a sorte de a chamar de amiga mas continua a ser a minha referência.