Sofia Sena, jogadora do Ouriense, contou a O JOGO que teve de ultrapassar muitas barreiras e driblar o preconceito.
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Para muitos, mulheres a jogar futebol ainda é uma coisa estranha, um motivo para piadas que Sofia Sena sofreu na pele. A brasileira é um exemplo para muitas mulheres que sonham em seguir por este caminho, contra o preconceito. A escolha foi o futebol e, apesar do apoio familiar ter estado sempre presente, o início foi pejado de obstáculos que teve de ultrapassar. A médio brasileira, 28 anos, cumpre a primeira época na Liga BPI e já é uma das atletas mais utilizadas do Ouriense.
Aos 28 anos, a Sofia abraça a primeira experiência internacional. Porquê a mudança nesta fase da carreira?
-Necessitava de descobrir coisas novas e de ganhar mais experiência. Saí do Brasil para cá porque via Portugal como um país melhor para jogar futebol. Sempre tive vontade de jogar na Liga BPI. Podemos dizer que Portugal pode ser encarado como um espaço de inclusão.
Um espaço de inclusão?
-Sim, é muito diferente do Brasil. Tenho um episódio que me marcou. Na minha região, Feliz Deserto, alguns rapazes metiam-se comigo e chamavam-me Maria-rapaz porque eu gostava muito de jogar e de ver futebol. Eu desvalorizava e dizia que se me chamavam isso é porque jogava muito melhor do que eles. Mas sempre fui bem tratada por todos os clubes por onde passei. Imponho-me muito para que esses episódios não se voltem a repetir.
Acha que ainda há um longo caminho a percorrer no que diz respeito à igualdade do género?
-Sem dúvida. Há muito caminho para desbravar, mas já demos muitos passos em frente na luta por essa igualdade.
Nos recentes episódios de alegados casos de assédio, preconceito e racismo no futebol feminino, a denúncia deve ser o primeiro passo?
-Sim, mas o medo de falar apodera-se de todas, porque quem é que realmente vai acreditar que isso aconteceu? É triste, é como se quem sofreu fosse alguém chegado a nós, independentemente de não conhecermos a pessoa, pois acontece a colegas nossas. Sinto uma enorme insegurança, pois pode acontecer a qualquer momento com qualquer uma de nós.
Teve sempre apoio familiar à sua decisão de jogar futebol ou foi outra barreira que teve de ser ultrapassada?
-Graças a Deus sou muito abençoada. No início foi muito difícil para a minha família. Porém, quando perceberam que era realmente aquilo que eu sabia e queria fazer aceitaram e apoiaram-me muito, tal como me apoiam nos dias de hoje. Devo-lhes tudo.
E como tem sido a sua adaptação a Portugal?
-Complicada. O fuso horário é diferente e estive alguns dias sem dormir. É ainda mais difícil quando se pensa na família, pois sou muito ligada aos meus pais e aos restantes familiares.
Como compara a realidade do futebol feminino português com a do brasileiro?
-Aqui é tudo mais certinho. Obedecem a todas as regras, respeitam os adversários O respeito aqui é extremo. No Brasil, as jogadoras são ousadas e o importante é vencer o jogo, não olhando a meios para atingir os fins.
Apesar de ter chegado há pouco tempo, é uma das atletas mais utilizadas no plantel do Ouriense. Sente que o seu trabalho tem sido reconhecido?
-Sim. Sou uma atleta focada e concentrada, pronta a trabalhar. Nos relvados destaco-me pela força física. Gosto dos confrontos individuais. Não importa a posição em que esteja a jogar, pois vou dar sempre o meu máximo, por mim e pelo clube. Vou à luta pelo Ouriense e espero alcançar alegrias.
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