Recentemente, Sílvia Domingos (AF Setúbal) entrou para a história por ter sido a primeira árbitra portuguesa a dirigir um encontro do principal campeonato francês feminino entre o Lyon e o Paris Saint-Germain. Dois dos melhores clubes da modalidade.
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Atualmente, Portugal tem cerca de 36 árbitros internacionais, distribuídos pelas mais variadas categorias: árbitros, árbitras, árbitros assistentes, árbitras assistentes, VAR, futsal e futebol de praia. Dos 36, oito são mulheres, quatro árbitras - Sandra Bastos, Sílvia Domingos, Catarina Campos e Teresa Oliveira -, e quatro árbitras assistentes: Andreia Sousa, Cátia Tavares, Olga Almeida e Vanessa Gomes.
Atualmente, em Portugal existem 36 árbitros internacionais distribuídos pelas mais variadas categorias. Desse número, oito são mulheres: quatro árbitras e quatro árbitras assistentes.
Todas elas são uma marca da evolução da arbitragem feminina em Portugal e, apesar do fosso para o masculino ainda ser considerável, há cada vez mais um crescimento sustentado na aposta das árbitras portuguesas quer em Portugal quer no estrangeiro.
A nível nacional - que engloba competições nacionais e distritais -, há cerca de 340 árbitras de futebol, 136 de futsal e oito de futebol de praia. Comparativamente ao ano de 2017 - onde havia 200 árbitras de futebol -, há um crescimento, no entanto, travado pela atual pandemia que dificultou nas tarefas de recrutamento, onde, aliás, se verifica depois alguma dificuldade de retenção. Isso deve-se ao facto de muitas mulheres privilegiarem mais o percurso académico e familiar e, por isso mesmo, quando casam ou têm filhos o abandono é mais frequente do que nos homens. Nesse sentido, o Conselho de Arbitragem tem tentado criar soluções para que seja possível conciliar a arbitragem com a vida pessoal de forma a combater este abandono. Voltando aos números e, relativamente às arbitras nacionais que dirigem apenas jogos organizados pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), há ainda uma evolução gradual. Entre 2000 a 2009 eram cerca de 15, número que aumentou para 24 entre 2009 e 2016. O crescimento não parou e na temporada 2016/2017 já existiam 38 árbitras CF (Categoria Feminino). Volvidos dois anos - naquela que foi a primeira época com a categoria nacional de árbitras assistentes -, o número cresceu para 59: 16 CF1 (Categoria Feminino 1), 35 CF2 (Categoria Feminino 2) e 8 AACF (Árbitra Assistente Categoria Feminino). Esta temporada o número subiu para 73: 20 CF1, 41 CF2 e 12 AACF.
Árbitras internacionais:
De todos os nomes referidos anteriormente, Sandra Bastos (AF Aveiro) é uma das que mais se destaca por ter conseguido feitos notórios na arbitragem feminina. Natural de Santa Maria da Feira, a árbitra, de 43 anos, foi a primeira portuguesa a apitar um jogo de um Mundial de futebol feminino, em 2019. Um feito extraordinário sustentado ainda com outras marcas que tem atingido e, de certa forma, desbravado caminho para este crescimento. Este ano, mais concretamente em julho, tornou-se a primeira árbitra a apitar um jogo de preparação entre Braga e Paços de Ferreira, dois emblemas do principal escalão masculino em Portugal. Além do percurso até então, Sandra Bastos esta época, entre outros, já apitou um jogo da Liga 3 - entre Real e Sporting B -, um encontro de qualificação para o Mundial feminino de 2023 - entre Roménia e Lituânia -, e ainda três partidas da Liga dos Campeões feminina. Dados dignos de registo que tornam a árbitra um dos nomes incontornáveis da arbitragem feminina.
Além de Sandra Bastos, há mais árbitras que têm dado passos gigantes nesta função. Recentemente, Sílvia Domingos (AF Setúbal) atingiu mais uma marca histórica para Portugal, ao tornar-se a primeira árbitra portuguesa a apitar um jogo do principal campeonato francês feminino, entre Lyon e Paris Saint-Germain. Nesse encontro, contou com as assistentes portuguesas Andreia Sousa e Cátia Tavares. No entanto, não foi só nesta partida que a árbitra, de 38 anos, brilhou e o percurso já é longo e recheado de marcas notáveis. No masculino, também já foi a escolhida para um jogo da Liga Revelação, na temporada passada, entre Estoril e Portimonense, e ainda jogos do Campeonato de Portugal, também em 2020/21. Em conversa com O JOGO, a árbitra internacional portuguesa confidenciou que é "mais desafiante arbitrar jogos masculinos, não só pela intensidade dos jogos como pela exigência física que requer acompanhar um jogo na sua totalidade", partilhou, enaltecendo ainda o crescimento das árbitras. "Estamos a ganhar não só o espaço, mas também o respeito e admiração por tudo o que fazemos", expôs.
De realçar ainda que, em 2020, cinco árbitras portuguesas fizeram as mesmas provas fís icas dos masculinos e passaram, incluindo a Catarina Campos e a Sílvia Domingos. Estas duas foram colocadas no quadro C4, passando a arbitrar jogos do Campeonato de Portugal e da Liga Revelação, competições que, aliás, já dirigiram. As outras três árbitras são assistentes: Vanessa Gomes, Cátia Tavares, Olga Almeida. Em comum têm o facto de também serem internacionais. Após passarem os exames físicos, foram colocadas no quadro AAC2, passando a ser assistentes nos jogos do segundo escalão. Nota para Vanessa Gomes (AF Lisboa), que se tornou a primeira árbitra assistente portuguesa a estar presente num jogo profissional masculino da modalidade, depois de ter sido nomeada para o encontro entre Estoril e Arouca, na temporada passada, a contar para a Liga SABSEG. O feito foi notório, mas não foi único, isto porque Cátia Tavares e Olga Almeida também se estrearam nessas andanças nos encontros entre Vizela-Oliveirense e Cova da Piedade-Mafra, respetivamente.
"O mérito é das próprias árbitras"
"Recordo-me dos tempos em que fui árbitro e observador e era lamentável o que ouvia nos campos de futebol, sobretudo os comentários depreciativos que vinham das bancadas. Era evidente que isso constrangia as mulheres, mas felizmente já não se ouve", começou por dizer Fernando Costa Lima, presidente do Conselho de Arbitragem da AF Viana do Castelo, em conversa com O JOGO sobre a evolução da arbitragem feminina em Portugal.
A AF Viana do Castelo é uma das que melhor tem trabalhado em Portugal ao nível do recrutamento para a arbitragem feminina e, tirando estes últimos dois anos por causa da pandemia da covid-19, o crescimento tem sido gradual. "Se for analisar o número de árbitros que temos a nível nacional, temos lá nove árbitras de Viana do Castelo o que é significativo, principalmente para nós que não fazemos parte dos grandes centros", analisou o presidente, tecendo elogios às árbitras. "Atualmente, tenho dirigentes de clubes que preferem as árbitras. Acima de tudo, acho que o mérito é das próprias árbitras que não se acomodam e procuram sempre atingir o grau da excelência. É uma exigência que lhes fazemos e elas coordenam todas as situações de modo a atingir esse elevado patamar", rematou.