Antevisão ao clássico: o que mudou nas equipas, as possíveis surpresas e o que une FC Porto e Sporting
José Manuel Ribeiro, João Ricardo Pateiro e Luís Freitas Lobo respondem a cinco perguntas de antevisão ao clássico desta sexta-feira entre FC Porto e Sporting, relativo à 22.ª jornada da Liga Bwin.
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1 - O que mudou no FC Porto e no Sporting desde o empate de há um ano no Dragão?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
Menos do que parece no FC Porto e talvez mais do que parece no Sporting. No FC Porto, as ideias são as mesmas: basicamente, diversificar o ataque por todas as vias clássicas, da profundidade ao individual, pelas alas, pelas zonas interiores do campo, com presença na pequena área e muita qualidade nas bolas paradas, assente numa recuperação de bola alta e fulminante. Os jogadores que as cumprem é que são outros. Vitinha e Fábio Vieira trazem bola e critério ao FC Porto. No Sporting, sim, parece haver uma tentativa de crescimento para a frente, pedindo mais coisas aos médios (e recebendo) e mais risco aos centrais, embora este jogo seja especial.
JOÃO RICARDO PATEIRO
Mudou muita coisa! Muitos jogadores já não jogam em Portugal e outros deixaram de ser titulares. Há um ano, o FC Porto alinhou com uma dupla de avançados: Marega e Taremi. Hoje, penso que jogará apenas com Evanilson, tendo Fábio Vieira nas costas. Ambos são bons exemplos de jogadores que cresceram imenso nas mãos de Conceição, tal como Vitinha (obrigatória a chamada à Seleção!). O Sporting também mudou bastante. Sem Nuno Mendes, Matheus Reis faz com competência o lado esquerdo e Matheus Nunes dá à equipa coisas que João Mário não dava. Na frente, há Paulinho... e Sarabia. Resumindo, o Porto está diferente, mas continua forte... O Sporting não mudou muito a forma de jogar, mas está mais forte.
LUÍS FREITAS LOBO
Mudou a perceção mútua das equipas, fruto da subida de estatuto do Sporting e do seu poder competitivo. A mentalidade, nestes clássicos, dum jogo de expectativa em bloco médio-baixo, evoluiu para uma postura de posicionamento mais alto do bloco. Não mudou a essência macro da sua filosofia de jogo (com um sistema inegociável), mas deu-lhe outro poder controlador com bola desde trás. O FC Porto tem hoje uma cultura de posse na relação com a bola em ataque organizado mais evoluída. Perdeu velocidade de ataque à profundidade, mas tem melhor relação com a bola e maior paciência construtiva de jogo. O facto de o Sporting ter de ganhar (ao contrário da época passada) pode dar ao FC Porto margem para gerir os momentos do jogo sem se expor ao contra-ataque leonino.
2 - Fábio Vieira ou Taremi. Será essa a principal dúvida de Sérgio Conceição?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
- Pode ser. Fábio Vieira é o imperador das assistências, mas o Sporting vai encher de matulões os locais onde elas costumam cair. Ter mais um avançado que arraste marcações para fora da área é uma alternativa. Mas Pepê e Galeno também são um bom candidato a dúvida da jornada. Um traz melhor entendimento naquele jogo curto que Vitinha, Otávio e Fábio Vieira têm alimentado; o outro traz a tal profundidade, ou seja, velocidade, que Conceição gosta de ter em quaisquer circunstâncias. À partida, um Sporting recuado não promete espaço para isso, mas há formas de o criar.
JOÃO RICARDO PATEIRO
- Ficarei surpreendido se não jogar Fábio Vieira de início! Penso que Sérgio Conceição não terá essa dúvida na cabeça. Taremi deverá começar o jogo no banco de suplentes.
LUÍS FREITAS LOBO
- Sim, como Pepê ou Galeno. Dúvidas diferentes. A de Fábio Vieira ou Taremi é um problema de conceção do jogo, de como ocupar a zona de construção e/ou definição entre linhas junto ao ponta-de-lança. Isso muda a forma de jogar. A de Pepê ou Galeno muda as jogadas que podem nascer desde a faixa. O ataque à profundidade de Galeno pode chocar com a necessidade de maior controlo de bola que será necessário, para que a posse signifique ter o controlo do jogo. E, num jogo destes, isso é o mais aconselhável para manter o prioritário equilíbrio coletivo sem perder o poder individual de marcar a diferença.
3 - Rúben Amorim parece menos dado a surpresas de última hora no onze. Quais são as possibilidades?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
- Pode resultar essencialmente das ausências forçadas. Nesse sentido, sem Pedro Gonçalves, ver Edwards no onze inicial, a partir do mesmo espaço, pode mudar a forma como inventar as jogadas de ataque. Pode perder algum entrosamento de passe, desmarcação, remate, mas irá ganhar um maior poder de desequilíbrio no um-para-um. O problema pode surgir depois, no entrosamento do passe a acabar a jogada ofensiva.
JOÃO RICARDO PATEIRO
- Um meio-campo a três, por exemplo, que reforce a segurança, mas nesse caso seria dada uma imagem estranha num jogo que pode valer a recuperação de três pontos. Edwards em vez de Pedro Gonçalves, à procura do desequilíbrio com bola, em vez da movimentação. Ou um Sporting de peito aberto, com Nuno Santos a lateral esquerdo. Não acredito em Slimani de início, porque não me impressionou no primeiro, mas ele tem a personalidade certa para estes jogos.
LUÍS FREITAS LOBO
- Caso se confirme a ausência de Pedro Gonçalves, tenho curiosidade de ver qual vai ser a aposta do treinador do Sporting. Acredito que opte por Marcus Edwards. E não acredito em surpresas neste jogo. Não acredito, por exemplo, no reforço do meio-campo com um terceiro médio, que poderia ser Manuel Ugarte. Mas não acredito que Rúben Amorim faça isso. Vai jogar a dupla habitual: Palhinha/Matheus Nunes.
4 - O ponto em comum entre FC Porto e Sporting está no protagonismo da habitual dupla do meio-campo. Concordam?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
- São quatro jogadores sem quaisquer semelhanças entre si e todos de topo, mais atléticos os do Sporting, mais completos os do FC Porto, como os números mostram. Mas o papel das duplas é semelhante, sendo que Vitinha está mais pronto para o ataque continuado e Matheus Nunes para as arrancadas de 20 metros que descalçam o adversário. No restante, Palhinha tem, sobre Uribe, a vantagem de ser um bom acrescento na defesa das bolas paradas. Sem Taremi, o FC Porto fica a contar espingardas em cada pontapé de canto.
JOÃO RICARDO PATEIRO
- Concordo. São duplas diferentes, mas ambas são nucleares na forma de jogar das equipas. O Sporting joga com um 6 mais tradicional (Palhinha)... O Porto tem a minha dupla preferida de médios a atuar em Portugal (Uribe/Vitinha). Já escrevi que Vitinha é um jogador tremendo?!? Ah!.. OK! Já tinha escrito.
LUÍS FREITAS LOBO
- Sim, embora em sistemas diferentes, essa dupla tem as chaves do jogo na "sala de máquinas". A garantia do pivot a equilibrar e a sair em pressão e a condução do n.º 8 com técnica e resistência. É um fator de estilo tático que define a força do jogo interior (mais forte em profundidade no atual FC Porto pós-Díaz) e no Sporting (onde tal espaço é mais fator de pressão para depois, saindo dessa zona, abrir na largura dos laterais que fazem um jogo exterior mais forte por natureza do sistema).
5 - Percebe-se que foram geradas duas perceções: a de que o FC Porto defende ligeiramente melhor esta época e o Sporting ligeiramente pior. É assim?
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
- O FC Porto apresenta a dificuldade de ter jogado com outra dupla dois meses. Mbemba e Fábio Cardoso saíram com mau registo nas bolas paradas defensivas. E há uma percentagem de golos que o FC Porto tenderá sempre a sofrer por se sujeitar conscientemente ao risco de contra-ataques pelas alas, nas costas dos laterais muito subidos. A diferença não é defensiva. Com Vitinha, por exemplo, nos momentos de aperto já é mais fácil congelar a bola, o que na época passada o FC Porto não sabia fazer. No Sporting, os espaços da teia cresceram e já se vê muitas vezes o adversário a circular entre os médios e centrais, mas também é uma questão de vontade. Querendo, Amorim volta a fechar esses postigos, como no ano passado.
JOÃO RICARDO PATEIRO
- Penso que as duas equipas defendem bem, desde que não faltem peças importantes na defesa. Uma coisa é o Porto com Pepe, Marcano... E até Zaidu... Outra coisa é não ter esses jogadores. Uma coisa é o Sporting com Porro, Gonçalo Inácio e Coates... Outra coisa é jogarem outras peças que não têm a mesma qualidade individual. E sim, a qualidade individual conta. Isto não é só qualidade de treino!!! Outra coisa: vão estar em campo os dois melhores guarda-redes a jogar no nosso país neste momento: Adán e Diogo Costa, dois "Monstros".
LUÍS FREITAS LOBO
- Sim e não. Ou seja, o FC Porto perde, por vezes, a melhor interpretação do processo defensivo (devido a problemas individuais) mas quando consegue definir melhor o sentido posicional em largura está mais consistente, embora isso leve-o a baixar mais o bloco do que gostaria (devido a problema coletivos). O Sporting passou a defender de forma ligeiramente diferente em função do adiantamento do bloco que expõe mais os seu centrais ao controlo da profundidade que faziam, sem nunca tremer, quando mais baixos no terreno. Questão de ocupação de espaços da equipa mas que refletem uma ambição de crescimento como equipa grande em termos de posicionamento no campo.