"A forma como José Mourinho criou impacto com a sua metodologia no treino..."
Marco Ramos abordou a época brilhante ao leme do Famalicão e falou sobre a paixão de ser treinador. O timoneiro, que fez história ao serviço do Ouriense, sucedeu a Miguel Afonso, afastado do comando do Famalicão devido a acusações de assédio sexual, e levou o clube à glória na Taça.
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Não há forma de o contornar e o pensamento é unânime: o Famalicão vai-se agigantando na Liga BPI sob o comando de Marco Ramos. 2022/23 passou mesmo a ser uma época de sucesso, dada a excelente temporada famalicense que culminou com a conquista de uma inédita Taça de Portugal. O treinador, de 36 anos, tem dado cartas por onde passa e tem-se assumido como um dos melhores treinadores portugueses de futebol feminino.
Esperava terminar esta temporada com um troféu?
-Sinceramente, o objetivo era, de forma clara, fazer algo de diferente em relação às últimas épocas, melhorando a performance e os resultados na Liga BPI. Depois, tentar ir o mais longe na Taça da Liga e na Taça de Portugal.
Qual foi a chave para o sucesso?
-O amor a uma camisola. Estávamos todos ligados, desde a estrutura diretiva aos adeptos.
O Marco assumiu o comando do Famalicão numa fase atribulada e apanhou o comboio a meio. O que o levou a aceitar o projeto?
-Na minha vida, o desafio e a superação estão sempre interligados e procuro diariamente crescer. Para que isso aconteça, é necessário sair da zona de conforto. Por isso é que aceitei o projeto do Famalicão, pela sua história e pelo que representava no futebol feminino, mas também por ser um contexto profissional.
O que lhe foi pedido pelo clube?
-Profissionalismo ao nível do projeto e muita paixão para superar as fases menos boas. Acima de tudo, queriam que os adeptos sentissem que havia uma verdadeira equipa a lutar sempre pela vitória, respeitando sempre o símbolo do Famalicão.
Quais foram os maiores desafios que encontrou no grupo de trabalho?
-Um dos grandes reptos de um treinador, e logo quando chega a um grupo de trabalho num contexto desfavorável, é conseguir ganhar a confiança da equipa. O grupo tinha de sentir confiança no líder, de modo a unir-se naturalmente. Esse foi claramente um dos maiores estímulos, passar confiança.
Ao longo da época, o Famalicão apresentou um estilo de jogo apelativo e diferenciado. Quais são as filosofias que segue como treinador?
-O organograma de liderança tem de estar bem definido e bem explícito para toda a gente, ou seja, a disciplina, o respeito, a flexibilidade e o bom senso fazem parte desta componente. Os objetivos fazem parte da outra componente. Temos de estar alinhados com o que queremos. Depois, temos de impor uma filosofia e as nossas ideias de jogo, em que prevalece o resultado coletivo.
O que mais o fascina no futebol?
-Muita coisa me fascina no futebol, mas a criação de um exercício com identidade e representatividade de um ou mais princípios que pretendemos do nosso modelo de jogo e depois ver e obter resultados em contexto de jogo é fascinante e motivador.
Como surgiu esta paixão pelo treino e em que altura decidiu ser treinador?
-Fui jogador e aí tive as primeiras experiências de compreensão do jogo. Depois, o aparecimento e a forma como José Mourinho criou impacto com a sua metodologia no treino fez com que eu começasse a investigar mais sobre a área e descobrir esta paixão pelo treino.
José Mourinho é a sua principal referência?
-Sim, mas tenho mais, pois procuro retirar um pouco de todos eles. Sou fã de Jorge Jesus, Rui Jorge, Sérgio Conceição, Vítor Pereira e Rúben Amorim.
Até onde gostaria de chegar como treinador?
-Quero continuar a treinar a este nível, ou seja, ser profissional de futebol e, se possível, abraçar projetos em clubes que me permitam lutar por títulos.
Como analisa a evolução do futebol feminino em Portugal?
-Vamos continuar a crescer, porque o nível e a qualidade das jogadoras que estão em formação está aos olhos de todas a gente. Cada vez mais vamos tendo uma Liga BPI com mais qualidade e competitividade.
Esperança numa "surpresa" da Seleção Nacional no Mundial
Com o Campeonato do Mundo feminino a chegar - irá começar a 20 de julho, na Austrália e Nova Zelândia -, Marco Ramos antevê uma boa participação da Seleção Nacional e acredita que a ambição lusa pode ser um fator de sucesso. "Portugal vai estar à altura da prova e vai ser uma Seleção competitiva. Confesso que acredito que pode surpreender, tendo em conta que a nossa pressão é jogar sem pressão. Temos de dar continuidade à nossa ambição e prosseguir a luta pelo crescimento do nosso futebol, sempre à procura do melhor possível. A evolução e o desenvolvimento traduzem-se nos resultados das nossas seleções e aproveito para agradecer a todos os agentes desportivos envolvidos", conclui.