Governo criou plataforma que agrega empresas cuja produção ajuda no combate à covid-19. Muitas nem esperavam ser convocadas.
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Numa terra pequena como Campo Maior, as coisas sabem-se e, mesmo que o Grupo Nabeiro - Delta Cafés não seja de alardear os meios que disponibiliza para ajudar a comunidade - olhar pelos outros faz parte da identidade das empresas de Rui Nabeiro, provavelmente o mais respeitado empresário português -, a notícia de que a fábrica de toldos da Caia estava a produzir máscaras e viseiras para distribuir em unidades de saúde do Alentejo com dificuldade em atender às exigências das medidas de proteção reclamadas pela covid-19 não tardou a espalhar-se.
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A confirmação chegou quando os hospitais de Portalegre e de Elvas já tinham recebido equipamento, que continua a ser produzido na unidade onde são fabricados os toldos e guarda-sóis que, por todo o território, sinalizam o principal produto deste grupo: o café também está por estes dias a chegar onde é preciso, um gole de energia disponibilizado a "todos os hospitais do país". Sem o lucro na equação.
As últimas semanas mobilizaram empresas de todo o país na reorientação da produção para contornar a previsível escassez (face ao disparo da procura) de bens essenciais no combate à covid-19, como as máscaras ou o gel desinfetante. Esta última foi a vertente a que se dedicou a Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, a fim de apoiar a Unidade de Saúde Local do Baixo Alentejo. Na quarta-feira, anunciou já ter a receita para produzir gel antisséptico com base em aguardente vínica. "Temos de acorrer ao que é mais necessário para ajudar o país", resumiu José Miguel de Almeida, presidente da adega, citado pela instituição na nota em que dá conta desta iniciativa, explicada pelo enólogo Luís Morgado Leão. "Através de quantidades controladas de glicerina, peróxido de hidrogénio e aguardente vínica", criou-se um "gel antisséptico eficaz e que respeita as normais de qualidade e segurança".
"A indústria nacional tem mostrado disponibilidade para adaptar a sua capacidade produtiva para equipar o sistema de saúde"
Mais a norte, em Lousada, uma fábrica de cabides passou a dedicar-se ao fabrico de viseiras. Demorou uma semana e meia e foi preciso investir milhares de euros para a Univerplast passar a trabalhar a todo o vapor na produção deste equipamento de proteção individual. "Tivemos de reinventar o nosso negócio", explica Mafalda Monteiro, em contacto telefónico com O JOGO, enquanto gere a azáfama deste desafio que é a produção de "12 mil viseiras por dia", assegurada por uma equipa de cerca de 30 trabalhadores. O produto final, essencial para profissionais de saúde, é vendido a "preço de custo", num negócio sem segredo: 3,5 euros.
Estes são apenas alguns exemplos, entre muitas empresas que se dispõem a ajudar a comunidade a combater a covid-19. "A indústria nacional tem mostrado disponibilidade para adaptar a sua capacidade produtiva para equipar o sistema de saúde", elogiou ontem António Sales, secretário de Estado da Saúde, cujo ministério se uniu ao da Economia na elaboração de um catálogo com orientações técnicas para a colocação de produtos no mercado sem "marcação CE", mas dentro de normas de "segurança", validadas e fiscalizadas pelo Infarmed. O catálogo já está disponível online, tem as regras para a produção de máscaras, luvas, zaragatoas, batas e outros equipamentos. Segundo o governante, uma centena de empresas já se inscreveu e aguarda validação.