Belmiro, o andebolista filho de voleibolistas que combate a covid-19 na linha da frente
Belmiro Alves concedeu entrevista a O JOGO: conheça o percurso do andebolista que é também médico.
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Tem 26 anos, nasceu no Porto, vive em Matosinhos e chama-se Belmiro Alves, sendo oriundo de uma família de voleibolistas. O pai, Jorge Alves, jogou voleibol e andebol na infância. A mãe, Svetlana, é russa e veio para Portugal com o propósito de jogar, tendo feito uma prestigiada carreira. O irmão, Jorge Alves, igualmente médico e maior exemplo de Belmiro, foi, também, um reconhecido voleibolista, tanto indoor como de praia, destacando-se nos tempos áureos do Câstelo da Maia e integrando a seleção que conseguiu a histórica presença no Campeonato do Mundo na Argentina em 2002, onde Portugal terminou em oitavo lugar. Também a irmã, Filipa Alves, jogou voleibol a alto nível, embora terminando precocemente a carreira.
Ou seja, Belmiro cresceu entre os treinos e os jogos, entre os pavilhões e a praia, acompanhando sempre a família. E, quando o voleibol parecia o caminho, com nove anos quis algo diferente. "Até aí a minha música era o bater das bolas de voleibol, mas queria sentir outra melodia", explica o lateral-esquerdo.
Começou por ir às captações de futebol do FC Porto, na Constituição, mas foi dispensado logo ao segundo dia... Mais tarde, por via de um amigo com quem o pai jogou andebol na juventude, foi fazer uns treinos à Académica de São Mamede. Gostou, mas não ficou. Uns tempos depois foi treinar ao FC Porto, onde fez toda a formação, integrando também as seleções nacionais jovens de andebol desde cedo.
Pelo meio ainda se aventurou na pesca desportiva de Alto Mar e e ganhou dois campeonatos nacionais de juvenis, mas teve de abdicar em prol do andebol.
Com 16 anos foi operado ao joelho esquerdo e esteve sete meses parado. Depois foi viver um ano no que era chamado de Centro de Alto Rendimento de Resende - que ainda deu frutos como o Carlos Martins (Benfica) ou o Diogo Branquinho (FC Porto), entre outros - decidindo então que queria ser médico, tendo entrado na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Em simultâneo integrou o plantel sénior do FC Porto.
Conciliar os treinos bi-diários com as aulas não foi função fácil. "Na altura, o professor Ljubomir Obradovic e o Carlos Martingo foram compreensivos e apoiaram-me, mas a exigência de estar na melhor equipa nacional e ser uma jovem promessa onde todos focavam muitas expectativas obrigava-me também a ir fazer os treinos dos juniores e jogar ao sábado e ao domingo por escalões diferentes, isso tudo conciliando sempre com as aulas, estudo e exames. Além disto tinha os compromissos das seleções nacionais com estágios constantes e sem férias durante anos consecutivos. Nunca deixei de cumprir com as minhas obrigações de ambas as partes, mas aos poucos fiquei cada vez mais saturado", explica.
Com pouco espaço para crescer na equipa sénior dos dragões, hexacampeões na altura, foi emprestado ao Águas Santas, onde teve dois apagados anos devido a uma série de lesões. Seguiu-se o AC Fafe onde conseguiu uma boa época e relançou a carreira sob o comando de José António Silva. Esteve depois uma temporada no ABC, regressando de seguida aos maiatos, onde fez as últimas duas épocas.
Belmiro Manuel Kabelevski Oliveira Alves, que ganhou dois Campeonatos Nacionais pelo FC Porto, uma Supertaça pelo ABC e um Campeonato do Mundo Universitário pela FADU, esteve ainda em dois Europeus e um Mundial pelas seleções nacionais jovens e tirou o curso de Medicina.