Coordenada pelo INESC Tec e com o apoio de vários institutos, a aplicação permite alertar as pessoas que tiveram proximidade com um positivo a covid-19, mas sem informações de identidade e localização.
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A tecnologia tem sido uma aliada indispensável no confinamento e prepara-se para ter influência direta no controlo da pandemia: foi apresentado na segunda-feira o projeto "monitorCovid19.pt", cordenado pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC Tec).
Trata-se de uma aplicação móvel para rastreamento de contactos com pessoas infetadas, mas sem informações relativas à identidade e localização, e de utilização voluntária. O conceito já há muito está a ser debatido na Europa, fora explicado em O JOGO há cerca de duas semanas, e acabou por ser, em traços gerais, o escolhido pelos investigadores portugueses - além dos INESC Tec estão envolvidos três laboratórios de tecnologias da informação e o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
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Através do bluetooth, os utilizadores recebem e enviam "beeps" de telemóveis com os quais se cruzem. Pode ser num elevador, na fila do supermercado, num transporte público, etc... Se um utilizador for diagnosticado com covid-19, pode autorizar o envio de um alerta para todos os telemóveis que receberam os seus "beeps" nos últimos 14 dias. Mas nem o doente saberá quem está a notificar, nem os utilizadores que recebem o aviso saberão de quem vem e onde se deu o contacto.
Sem surpresa, de imediato as reações à notícia foram dominadas pelos receios com a privacidade. "Estes "beeps" são números completamente anónimos e, sem contexto, são como "lixo" digital, não fazem sentido", explicou ao jornal "Público" Rui Oliveira, administrador do INESC Tec. José Manuel Mendonça, presidente do instituto, foi perentório perante esses receios: "Não são partilhados quaisquer dados pessoais, o que afasta o receio fantasma da privacidade. A pergunta "está disposto a abdicar da privacidade?" é uma falsa questão. A pergunta está mal formulada. Não é preciso abdicar na privacidade, e as alusões ao Big Brother, do George Orwell, de 1984 só distorcem a informação e geram medo."
De facto, a União Europeia não só acredita no potencial das aplicações móveis no controlo da pandemia, como lançou um manual para a sua elaboração. A utilização da tecnologia bluetooth e a proteção de dados pessoais estão entre as diretrizes. Por outro lado, este projeto, ainda sem data para arrancar, será submetido a várias avaliações, incluindo do Centro Nacional de Cibersegurança.