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Há sinais de alarme a ecoar em Alcochete: pela primeira vez desde que se iniciou a "era Academia" no Sporting, nenhuma das equipas dos escalões de formação logrou conquistar um dos principais títulos, que foram parar às mãos dos principais rivais.
Sabendo que a cantera é uma das principais bandeiras da marca Sporting, o insucesso no plano dos resultados desportivos é difícil de digerir, sobretudo quando é público o esforço desenvolvido por outros clubes para eliminar a vantagem leonina num plano essencial da gestão de um clube de futebol. Importa, portanto, efectuar um balanço do trabalho desenvolvido na Academia e perceber o que irá acontecer no futuro próximo, com o progressivo impacto do projecto da nova Direcção verde e branca.
O JOGO contactou alguns especialistas nesta área, conhecedores da realidade do sector, no geral, e dos métodos leoninos, em particular, mas os piores resultados da época que agora termina não impressionaram demasiado quem vive por dentro a área da criação de talentos. "Os resultados, neste caso os títulos, ou a falta deles, são sempre um indicador importante, mas estão longe de ser o único indicador. Aliás, o mais importante é outro: a quantidade e a qualidade de jogadores que chegam ao plantel principal com condições para actuarem ao mais alto nível e contribuírem para os objectivos colectivos. Neste campo, o Sporting continua a manter alguma vantagem sobre a concorrência", disse-nos um técnico, que preferiu manter o anonimato.
Aliás, de momento, o plantel conta com seis jogadores formados "em casa", número que até foi mais alto em temporadas anteriores - saíram, entretanto, e apenas no último defeso, valores importantes, como João Moutinho e Miguel Veloso. Agora, Rui Patrício, Cédric, Carriço, André Santos, Saleiro e Yannick Djaló evoluíram como representantes da mais famosa escola lusa, formando um contingente mais numeroso do que o disponível para os grandes rivais, onde a formação não tem semelhante peso. Há, contudo, no meio, quem esteja preocupado, tendo em conta os esforços desenvolvidos por outros emblemas, não apenas Benfica e FC Porto, mas também pelos clubes de menor dimensão que aplicam agora meios praticamente idênticos ao processo de evolução técnica e, sobretudo, recrutamento. São muitos aqueles que lançam o alerta, apontando alguma inércia verde e branca face à aposta dos adversários, temendo que se perca terreno na corrida pelo domínio de um sector tradicionalmente associado ao emblema leonino.
O cerne da questão estará mesmo no departamento de prospecção, já que, garantem especialistas informados, a famosa rede do Sporting já não terá o alcance e eficácia do passado, fruto, dizem, "do acomodar à fama conquistada", que, perante a ausência de concorrência à altura, atraía a maior parte dos talentos. Agora, com os adversários no terreno, a capacidade de resposta pode não ser a mesma, com prejuízo da qualidade global dos jovens que trabalham em Alcochete. Para mais, é seguro que, nos últimos dois anos, existiu uma significativa contracção do investimento, com a redução do número de contratos profissionais oferecidos aos atletas que alcançavam a idade de júnior, algo que, na Academia, já era considerado um hábito.
É aqui que a Direcção de Godinho Lopes pretende actuar. Com muitas vozes a apontar para o fim da vantagem verde e branca sobre a concorrência, o Sporting pretende deixar sobre a coordenação de José Couceiro uma área fundamental para o modelo de gestão, promovendo a reestruturação dos quadros técnicos e da rede de prospecção.
Para os responsáveis, a manutenção da imagem de melhor escola de futebol do planeta - e dos frutos correspondentes - é prioridade absoluta.