Corpo do artigo
>Blatter nega crise, admite dificuldades e diz-se salvador
Nervoso e irritado como poucas vezes foi visto em público, Joseph Blatter, presidente da FIFA com a garantia de ser reconduzido amanhã, no congresso do organismo, rejeitou a ideia de estar instalada uma crise grave no seio da entidade tutelar do futebol, mas admitiu que há dificuldades. Aproveitou a conferência de Imprensa para se anunciar, mais uma vez, como salvador de um futebol que acaba de suspender o concorrente dele ao cadeirão da FIFA, sob acusação de corrupção. Mas não é tudo, pois o presidente da Concacaf, Jack Warner, também ele suspenso, revelou estar de posse de um e-mail que lhe foi enviado por Jerôme Valcke, secretário-geral da FIFA, onde escreve que Muhammed Bin Hammam, o tal ex-concorrente, suspenso da presidência da Confederação Asiática de Futebol, comprou o Mundial de 2022 para o Catar, país de onde é natural.
A suspensão de Muhammed Bin Hammam e de Jack Warner, suspensos do Comité Executivo da FIFA sob acusação de corrupção, levou Joseph Blatter a dar uma conferência de Imprensa a dois dias do congresso da FIFA, cerca de 24 horas depois de ele próprio ter sido ilibado pela Comissão de Ética de uma acusação de má conduta. "Não há crise, há dificuldades", começou por afirmar.
O culto da personalidade como garantia de sucesso futuro. "Há 36 anos entrei na FIFA. Na época, era uma FIFA modesta, que se tornou confortável a partir de 1998, muito confortável. É preciso combater os demónios. Há uma situação má, mas vamos ter um congresso eleitoral na quarta-feira e a família do futebol, se quer restaurar a credibilidade da FIFA, poderá fazê-lo comigo", afirmou, agora que se candidata ao quarto mandato sem adversários.
Na ordem do dia volta a estar a atribuição do Mundial 2022 ao Catar, processo nebuloso desde o início e que uma comissão parlamentar inglesa considerou carregado de irregularidades. Para piorar a situação, foi revelado um e-mail "assassino" do secretário-geral da FIFA (ver texto à parte). Ainda assim, Blatter não vê motivos para abrir um inquérito a tal atribuição, mesmo que na referida comissão parlamentar de inquérito, segundo revelou o jornal Sunday Times, David Triesman, responsável pela candidatura inglesa aos Mundiais de 2018 e 2022 tenha posto em causa vários membros da FIFA. "Não há elementos nesse depoimento que motivem um processo", afirmou, acrescentando: "A comissão executiva está contente. Não recebeu provas do Sunday Times sustentando as suas alegações contra outros membros da FIFA. Não há nada. O Campeonato do Mundo de 2022 não será tocado".
Sempre tenso, o presidente da FIFA irritou-se com os jornalistas que insistiram em colocar questões sem que lhes fosse dada a palavra. "Não estamos numa feira, mas sim na casa da FIFA", disse, tendo dito em seguida que recusava responder a perguntas sobre o e-mail de Jerôme Valcke.