O empresário luso-canadiano Carlos Lima criou o The Soccer Ball Project, projeto solidário que já ofereceu bolas de futebol a cerca de 500 crianças. Esta causa é apoiada por vários jogadores, como o central Steven Vitória e o guarda-redes Daniel Fernandes
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Quando éramos crianças, a nossa paixão pelo futebol era tanta que, mesmo quando não havia uma bola, tudo servia para dar uns toques no recreio da escola: uma embalagem de sumo esmagada, uma lata de refrigerante e, se fosse necessário, rasgava-se as folhas do caderno para fazer uma bola de papel. Para nós, era diversão, mas em África há quem improvise bolas porque, infelizmente, nunca chutaram uma verdadeira. Para as crianças africanas, que muitas vezes jogam descalças, pondo em risco a própria integridade física, qualquer objeto serve como bola: peças de fruta, sacos de lixo, meias enroladas e até mesmo roupas velhas.
Sensibilizado para este problema, Carlos Lima, empresário de 36 anos e filho de pais portugueses, mas nascido no Canadá, decidiu criar um projeto solidário - o The Soccer Ball Project. O objetivo era fazer a diferença e, como o próprio indica, levar bolas de futebol a quem não tem possibilidade de as ter. "Reparei em situações que se passavam em alguns países e decidi ajudar. Criei uma empresa sem fins lucrativos para enviar material para miúdos mais carenciados. Nós podemos ter bolas de futebol aos pontapés, mas eles nunca tocaram numa", explica, a O JOGO, este luso-canadiano, que vive desde 2006 no Canadá, onde fundou a NGA, uma marca de luvas de guarda-redes.
"Não está fora de opção ajudar instituições portuguesas que apoiam crianças, assim como em países da América do Sul e Caraíbas. Infelizmente, há pobreza em todo o lado"
Apesar de se tratar ainda de um projeto recente, criado em agosto de 2016, o Soccer Ball já ajudou cerca de 500 crianças, oferecendo essencialmente bolas de futebol e, com o apoio de algumas empresas, outro material desportivo, como uniformes, chuteiras e luvas. Doações que permitem a várias crianças carenciadas jogarem futebol. "Já fizemos um carregamento para a Guiana e para o Mali", recorda o fundador, garantindo que este projeto é desenvolvido por pessoas honestas: "Ao contrário de outras fundações, com um CEO que recebe milhões, os colaboradores são todos voluntários. O nosso objetivo é ajudar as crianças a concretizarem os seus sonhos e muitas vezes o que eles querem é apenas uma bola de futebol. Quando a recebem, ficam radiantes, porque era uma prenda que nunca imaginavam ganhar."
África, "onde a situação é pior", é o continente prioritário para o projeto e já está planeado o envio de material para os Camarões e o Gana. Contudo, há outros locais que também precisam de apoio e até organizações em Portugal. "Não está fora de opção ajudar instituições portuguesas que apoiam crianças, assim como em países da América do Sul e Caraíbas. Infelizmente, há pobreza em todo o lado", lamenta Carlos Lima.Ajudar este projeto é simples. Basta aceder ao portal www.thesoccerballproject.org e, através de Paypal ou cartão de crédito, doar uma quantia mínima de 20 dólares canadianos (cerca de 14 euros), valor suficiente para oferecer uma bola e também para assegurar que quem recebe o material não tem custos alfandegários. "São bolas oficiais de jogo, com qualidade, e personalizadas com o nome de quem apoia", adianta o empresário, feliz por no Canadá, país onde o futebol não é muito popular, "apesar de ser uma modalidade em crescimento", as pessoas terem aderido ao Soccer Ball: "Mesmo sem grande cultura futebolística, os canadianos adoram ajudar e elogiam muito o projeto. Felizmente, temos recebido apoios de todo o lado."
Jogadores dão cara pelo projeto
Filho de pais portugueses, Carlos Lima passou a infância em Vila Verde (distrito de Braga), antes de voltar, já com 25 anos, para o país no qual nasceu, o Canadá. Chegou a jogar como guarda-redes em alguns emblemas amadores bracarenses e ainda pelos canadianos do Toronto Supra e do Benfica de Toronto. Hoje, reside em Otava.
Pela sua ligação às balizas, fundou a marca de luvas NGA, usada por alguns guarda-redes da I Liga, como Cláudio Ramos (Tondela), Makaridze (Moreirense) e Bolat (Arouca). Esta ligação ao futebol permitiu a Carlos Lima criar amizades com profissionais da área e, por isso, futebolistas bem conhecidos dos portugueses já se associaram ao Soccer Ball. O central Steven Vitória (Lechia Gdansk, Polónia) e os guarda-redes Daniel Fernandes (Lillestrøm, Noruega) e Matt Jones (Bethlehem Steel FC, Estados Unidos) são alguns dos jogadores que já ajudaram financeiramente o projeto.
Também envolvido nesta causa solidária está Alex Bunbury, avançado, já retirado, que representou o Marítimo nos anos 90. O antigo internacional pelo Canadá ajudou ao transporte de material desportivo para a Guiana, pequeno país das Caraíbas, onde ele nasceu.