Esta terça-feira realizam-se as eleições presidenciais norte-americanas mais mediáticas das últimas décadas. Há até quem diga de sempre. Por cá, atletas oriundos dos Estados Unidos acompanham, à distância, o processo e deram, em exclusivo a O JOGO, um ponto de vista único sobre o que se passa do outro lado do Atlântico.
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"Está a ser uma campanha louca. Muito diferente do que tem sido sempre." A frase de Nick Novak, jogador da Ovarense, resume bem todo o processo eleitoral que opõe Hillary Clinton, do Partido Democrata, a Donald Trump, nomeado pelo Partido Republicano para as eleições presidenciais desta terça-feira, 8 de novembro. O sucessor de Barack Obama, qualquer que seja, estará sempre envolto em polémica numa situação que, vista ao longe, é frustrante. "Somos um grande país e ficarmos resumidos a estes dois candidatos deixa-me zangado e frustrado." Joey Bradley é natural de Seattle e está em Portugal a jogar futebol americano - isso mesmo - pelos Lisboa Devils, os atuais campeões nacionais, equipa em que joga como quarterback, talvez a posição mais importante na modalidade. O atleta de 26 anos é bastante crítico do processo eleitoral. "O cenário atual é um pouco louco, por isso até é bom estar aqui, afastado do que se passa por lá. Estas eleições parecem feitas a pensar na televisão, são para o show."
Nick Novak não é tão critico quanto o compatriota. O base da Ovarense destaca que tem seguido, ao longe, a campanha e que está bastante informado sobre o que se passa em casa. "Toda a gente fala nisso. Leio muita Imprensa norte-americana e acompanho também pelas redes sociais. Há muitas controvérsias nesta campanha, com ambos os candidatos. É o sistema que temos, há que escolher apenas entre estes dois nomes que estão demasiado extremados, à esquerda e à direita. Não são moderados." Entre as escolhas disponíveis, Novak confessa ter alguma inclinação para o lado republicano. "Talvez apoie mais Trump. Tenho alguns problemas com algumas posições que a Hillary tem sobre alguns assuntos e ainda o escândalo dos emails. Quer mudar a lei das armas, alterar alguns direitos implementados no país. Percebo que seja difícil apoiar Donald Trump, mas muitas das ideias que ele tem estão certas. Não levo a peito muitas das coisas que criticamos nele. Vejo como uma forma de propaganda, para ganhar votos. São as regras do jogo. Creio que não é o monstro que querem fazê-lo parecer."
Menos informado confessa estar Keaton Parks, médio de 19 anos do Varzim, da II Liga. O jovem texano refere, no entanto, que considera que um dos candidatos pode trazer algo de diferente. "Não tenho seguido com muita atenção a campanha eleitoral e por isso não tenho uma opinião formada sobre os candidatos, ou sobre as ideias que têm apresentado para convencer os eleitores. Sinceramente não faço ideia se alguma coisa pode mudar com a eleição de Hillary Clinton, mas com Donald Trump, sendo um homem de negócios com muita experiência, talvez a economia possa ser beneficiada." Por seu lado, o quarterback Joey Bradley destaca que não vê em qualquer dos nomes uma alternativa válida para liderar o país. "O Trump não não tem experiência nem qualificações para o cargo, mas vejo-o como o candidato antissistema, alguém que é contra o politicamente correto. Diz o que lhe vai na cabeça, o que é assustador. Já a Hillary Clinton é uma política de profissão e isso, para mim, é tão assustador como alguém que não tem experiência. Penso que se alguém está na política toda a vida, deve já ter feito algo que não devia, teve de encobrir algumas coisas e pode ser um pouco corrupta. Da minha parte não apoio qualquer um dos candidatos, mas percebo por que alguém apoia um ou outro. Acaba por ser um cliché, mas muita gente vai votar no menor de dois males."
Demasiado trabalho para votar
Nos Estados Unidos, muitas pessoas já votaram. Não é o caso dos três atletas que falaram em exclusivo a O JOGO. "Como não estou nos Estados Unidos, não vou exercer o meu direito de voto. Para votar em Portugal, teria de preencher muitos papéis e enfrentar muita burocracia e por isso não vou votar", confessa Keaton Parks, do Varzim. A mesma posição tem Bradley que, no entanto, tem argumentos diferentes. "Não acredito totalmente no processo político e nas eleições presidenciais. Sou mais a favor dos governos locais, por isso não me importo muito com este momento eleitoral. Sei que soa mal, mas não vou votar. Se votasse, seria num terceiro partido e sei que isso é irrelevante, por isso não voto. Se fosse um processo fácil de fazer, a partir de Portugal, votaria, mas assim não."
Em Ovar, Novak tenta ainda perceber, junto da família em casa, se pode passar a responsabilidade de votar a outra pessoa. "Quando saí dos Estados Unidos, deixei uma procuração ao meu pai, para ele tratar de assuntos meus, assinar documentos, por exemplo. Mas não sei se isso é válido para umas eleições. É a primeira vez que estou fora do país. Votei aos 18 anos e depois aos 22 anos. Agora, ainda estou a tentar perceber se consigo exercer o meu direito."
Portugueses bem informados
No balneário da Ovarense as eleições norte-americanas não são o tema mais discutido, mas Nick confessa que há quem lhe faça perguntas e espera que, na próxima semana, o assunto suba de tom. "Já falámos um pouco, até mais dos problemas de abuso de força por parte da polícia que têm acontecido nos Estados Unidos. Mas penso que, depois dos resultados, falaremos todos de uma forma mais séria", sublinha o base. Já o jogador de futebol americano dos Lisboa Devils destaca que encontra uma posição muito informada e neutral entre os portugueses. "Nos Estados Unidos os órgãos de Comunicação Social são tendenciosamente assumidos. Aqui há mais neutralidade, mas muita informação e debate. Noto, no entanto, que quase todas as pessoas com que falo são contra o Trump e isso é algo que percebo bem, na perspetiva de um estrangeiro. Mas depois não percebo se apoiam a Hillary Clinton porque gostam dela ou apenas porque são contra o Trump."