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Ascensão vertiginosa do Como: "Encontrou uma forma de converter a pressão rival"

. AFP

Grupo de Cesc Fàbregas é visto como um fenómeno. Há dez jogos que não perde e nos últimos cinco sofreu um golo. A criação de espaços nas costas dos adversários é um dos principais segredos táticos.

Em 2018/19 estava no quarto escalão e há apenas duas épocas disputava a Série B, mas depois de um ano de transição entre os maiores de Itália, com um décimo lugar final, o Como tem estado esta época a superar todas as expectativas mais otimistas: a equipa orientada por Cesc Fàbregas já não perde há dez jornadas, contando com a segunda defesa menos batida da Série A, com apenas seis golos sofridos em onze jornadas. E mais: nos últimos cinco jogos, o Como só sofreu um golo, passando incólume frente à Juventus, Nápoles, Parma, Cagliari e Verona.

A arte de bem defender é uma das boas qualidades desta equipa, mas foi nas transições ofensivas que o treinador espanhol introduziu uma nuance tática que tem dado bons frutos: a utilização da pressão dos adversários em favor da sua equipa. Fàbregas dá instruções precisas aos jogadores para atraírem os opositores, explorando depois o espaço que aqueles deixam livre. Os movimentos de pressão do adversário são "induzidos de forma intencional", procurando depois o Como "explorar esse espaço no momento exato em que se abre", segundo explica o analista Juan Lauz no site "Libro Aperto".

"O resultado é uma equipa que não procura controlar através da posse, mas antes através de vantagens numéricas e posicionais. O Como encontrou uma forma de converter a pressão rival na sua própria ferramenta de progressão", assinala, sobre uma equipa que joga sempre em ritmo muito acelerado, desdobrando-se rapidamente em venenosas transições rápidas.

Mais do que apostar na posse de bola, o Como mete todas as fichas em situações de igualdade ou superioridade numérica no último terço, só possíveis com o desposicionamento (provocado) da equipa adversária. Para desequilibrar nas transições, Fàbregas procura que a direção - presidida pela família Hartono, da Indonésia - contrate jogadores especialistas no drible. Na última janela de mercado, "o Como fez escolhas técnicas precisas - procurando jogadores com menos de 25 anos que sejam bons dribladores", assinala Emanuele Mongiardo no site "Ultimo Uomo", exemplificando com os nomes de Baturina, Jesús Rodríguez, Jayden Addai e Nicolas Kühn, "jogadores altamente técnicos, capazes de desafiar um adversário em espaços curtos, tanto para manter a posse de bola com um estilo de drible mais defensivo como para superá-lo diretamente".

"Estamos a criar um estilo, uma identidade. Jovens que, daqui a cinco anos, estarão a jogar o Mundial com as suas seleções", afirmou Fàbregas numa entrevista, lembrando que nos últimos oito meses, desde 15 de março, a equipa só perdeu dois jogos oficiais, frente a Bolonha e Inter. "Estamos a construir algo aos poucos, mantendo uma filosofia e uma identidade próprias. Estamos a começar do zero e não é só ganhar e contratar bons jogadores, mas fazer isso com uma ideia. Damos continuidade a um processo e a uma ideia", acrescenta o treinador - e principal ideólogo - deste projeto.

Nico Paz joga entre linhas com a liberdade de uma criança

A estrela é um prodígio de técnica individual, um mestre com a bola nos pés: Nico Paz, argentino de 21 anos, em torno do qual toda a equipa gira. Num sistema tático de 4x2x3x1, o argentino, formado no Real Madrid, já é cobiçado por clubes como o Chelsea ou o Tottenham, tendo o Como recusado uma oferta de 70 milhões de euros dos spurs. "O Nico é um jogador importante, está a crescer, com muita vontade de vencer. Faz a diferença e é por isso que está cá", comenta Fàbregas sobre o "sol" do Como. "A equipa joga para ele, permitindo-lhe ser errante e fazer o que quiser. Joga entre linhas, com a liberdade de uma criança. Por isso, está sempre a sorrir, a divertir-se", comenta Marco Ciriello na Gazzetta dello Sport.

Rodrigo Cortez