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Vídeo: árbitro pede desculpa após confundir homenagem com homofobia

Árbitro Jérôme Brisard

Árbitro do Nice-Lyon interrompeu o jogo de sábado aos 86 minutos devido a pensar que os adeptos locais estavam a gritar insultos homofóbicos. Na verdade, tratava-se de uma homenagem às 86 vítimas mortais que o Estado Islâmico causou em 2016, num ataque terrorista naquela cidade francesa

O jogo de sábado entre o Nice e o Lyon (2-1), do treinador português Paulo Fonseca, na Ligue 1, ficou marcado por um momento insólito do árbitro Jérôme Brisard, que parou o desafio, aos 86 minutos, por pensar que os adeptos da casa estavam a gritar insultos homofóbicos, quando na verdade se tratava de uma homenagem às 86 vítimas mortais causadas pelo Estado Islâmico num ataque terrorista naquela cidade francesa, em 2016.

Passamos a explicar. Desde esse ataque terrorista do Daesh, os adeptos do Nice iniciaram um ritual nos seus jogos em casa, cantando sempre aos 86 minutos: ""Daesh, Daesh, vamos f****-te".

O cântico, apesar de incluir um insulto, é mais encarado em Nice como uma homenagem simbólica às vítimas desse ataque, mas o árbitro desconhecia esta tradição e pensou tratar-se de um simples insulto de cariz homofóbico, decidindo assim ativar o protocolo pensado para esses casos e exigindo ao locutor do estádio do Nice que pedisse aos adeptos para o pararem de entoar.

A situação gerou muita contestação naquela região e Anthony Gautier, diretor da arbitragem em França, viu-se mesmo obrigado a explicar que o árbitro cometeu um erro involuntário, sem nunca ter tido a intenção de desrespeitar as vítimas desse ataque.

"Conversei brevemente com Jérôme [árbitro] após o encontro. Ele ouviu claramente 'Vamos f****-te', mas foi incapaz de ouvir a primeira palavra, ou seja, o termo Daesh. Se ele tivesse conhecimento do contexto, não teria interrompido a partida", vincou, em declarações ao jornal L'Équipe, defendendo: "Os árbitros não podem conhecer os hábitos de todos os grupos de adeptos daqui ou de acolá. Mais uma vez, se ele tivesse sido informado, não teria interrompido a partida. É senso comum".

Apesar desta explicação, é referido pela imprensa francesa que vários locais reclamaram que o árbitro devia ter conhecimento desta tradição, já que apitou oito jogos no estádio do Nice, a Allianz Riviera, desde 2016.

De resto, o Nice também reagiu com muitas críticas a este episódio, com o presidente Fabrice Bocquet a considerá-lo "inaceitável" e a acusar o árbitro de "falta de respeito pelas vítimas do dia 14 de julho [de 2016], as suas famílias e toda a cidade de Nice".

"Este momento foi extremamente difícil de aceitar. Esta interrupção de jogo, tal como o ultimato dado ao nosso locutor para que pegasse no microfone e pedisse o fim da demonstração, caso contrário, o jogo não seria retomado, nunca devia ter acontecido. O árbitro disse-me que não tinha noção da situação e que quis seguir as instruções que lhe tinham sido dadas. Foi falta de preparação e sensibilidade, e nunca devia ter acontecido, o delegado de jogo concordou. O árbitro pediu desculpa e, esta semana, iremos tomar os passos necessários para assegurar que isto nunca se repetirá", informou.

Veja o momento em questão no vídeo acima exibido.

Alexandre Dionísio