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St. Juste demorou 172 dias: "Não é pelo suporte social que se resolvem os problemas..."

St. Juste regressou ao relvado Sporting CP

Central esteve na segunda-feira pela primeira vez no relvado desde 13 de abril. É para recuperar com calma

Jeremiah St. Juste está de regresso aos relvados. O central neerlandês foi a grande novidade no treino de segunda-feira do Sporting. Como O JOGO noticiou, o defesa voltou a fazer trabalho de ginásio em Alcochete no domingo e recomeçou os trabalhos no relvado na segunda-feira, 172 dias depois de ter sofrido uma lesão na perna esquerda, na Liga Europa, diante da Juventus.

Devidamente autorizado pelo Sporting, o neerlandês esteve nos últimos tempos nos Países Baixos, junto da família, a cumprir a etapa final da recuperação, com o intuito de aproveitar esses momentos para diminuir a ansiedade por estar lesionado há muito tempo, isto porque em períodos anteriores esteve diariamente em Alcochete a cuidar do físico, situação que não terá sido benéfica a nível psicológico. Agora já não se ausentará de Portugal e irá estar junto aos colegas, sempre supervisionado de perto pela equipa médica, que tem como prioridade evitar recaídas do central.

Também a equipa técnica, como O JOGO explicou há um mês, vai respeitar com cautela as indicações físicas que o jogador dê, sem apressar, em nenhum momento, o retorno do atleta às opções. A situação não se alterou apesar da lesão muscular de Coates, que continua afastado dos trabalhos e que já não deve participar em encontros dos leões até ao regresso das seleções, falhando, provavelmente, Atalanta e Arouca. Amorim considera que Diomande, Gonçalo Inácio e Matheus Reis garantem o eixo defensivo, estando Neto e Eduardo Quaresma como alternativas.

Participação reduzida para o peso pretendido

St. Juste está com uma lesão que se arrasta desde abril e que se calculava debelada no início da temporada 2023/24. No entanto, apareceu com um penso no joelho esquerdo, ainda que o Sporting tenha desmentido uma intervenção cirúrgica. Falhou 16 jogos desde então, o maior período de ausência competitiva da carreira, mais até do que em períodos de cirurgias aos ombros no Feyenoord e Mainz. Foi utilizado em 32 dos 61 jogos possíveis no Sporting (52,5%) e titular em 16, raramente encontrando a regularidade necessária, devido a quatro lesões anteriores a esta paragem. Tem 29,1% de taxa de utilização, pois realizou 1597 minutos de 5490 possíveis: por jogo representa, até aqui, um custo de 296 mi l euros por encontro - custou 9,5 M€ em 2022. A SAD acredita poder retirar dividendos desportivos e financeiros do atleta, mas o peso esperado na equipa não correspondeu até aqui às intenções da Direção e de Amorim.

Psicólogo alerta para os temores do central

A recorrência das lesões de St. Juste cria alguma instabilidade até no próprio jogador. O psicólogo Ricardo Gomes Porém avalia o processo de reabilitação, que não é apenas físico. "É necessário entender a autoconfiança. Pode parecer calmo e não estar bem. Pode lidar muito mal com o erro. Nos primeiros treinos as coisas podem não correr como quer, por exemplo uma das coisas mais positivas no jogo dele é a velocidade e é preciso estar em condições ótimas para não se lesionar. A autoconfiança tem impacto na coordenação também. É importante retirar-lhe a pressão, mas também perceber se a pressão maior não vem do próprio jogador, que revela a tal ânsia para competir. Os colegas podem colocar-lhe expectativas, poderá ter tido expectativa de sair antes de se lesionar, por exemplo. Tudo tem impacto", destaca o especialista em alto rendimento e antigo gestor do departamento psicopedagógico do Sporting, explicando que os temores do neerlandês podem continuar a condicioná-lo:

"É fundamental perceber as crenças que um atleta tem quando regressa. Pode ter colocado na cabeça de que lhe pode acontecer outra vez. A ansiedade pode ser cognitiva, afetar o pensamento, ou somática, revelando-se na tensão muscular. No segundo caso é necessário avaliar o toque de bola, as ações coordenativas e perceber como pode readquirir um maior controlo nos movimentos. Os jogadores podem ter vigilância excessiva nas dores, ou seja sentir dor e temer que seja um problema maior do que é realmente. Quando regressa, tudo alerta. Há outros que mascaram as dores".

Gomes Porém deixa claro que enquanto esteve no Sporting também deu indicações para os atletas voltarem ao seu país, para estarem junto à família. "A prática é vulgar e desejável. Os jogadores têm de estar apoiados familiarmente, quando estão em fases de grande questionamento. Não sei se o acompanhamento familiar e social esteve desde o início na mudança para o Sporting. Mas, seja como for, é importante tentar desagregar a crença, tirando-o da realidade, em caso de se sentir essa ansiedade do jogador", pormenoriza, alertando: "Não é pelo suporte social que se resolvem os problemas. Afasta-se o problema durante uns dias, mas depois volta-se à realidade".

Frederico Bártolo