I Liga

FC Porto-Sporting: um clássico entre apreciadores do comércio local

Sérgio Conceição, treinador do FC Porto Miguel Pereira/Global Imagens

FC Porto e Sporting partilham a aposta no mercado português e são avessos a grandes revoluções à boleia das transferências

O primeiro clássico da época marca mais um duelo entre os dois treinadores que há mais tempo comandam a mesma equipa na Liga Bwin: o FC Porto de Sérgio Conceição, desde 2017/18 e o Sporting de Rúben Amorim, a partir da segunda metade de 2019/20. São duas equipas de autor trabalhadas ao pormenor e que desde 2020/21 têm hábitos de consumo com várias semelhanças, numa comparação que ganha relevância por o mercado ainda estar aberto e ambos procurarem colmatar a partida de dois pilares, Vitinha e, agora, Matheus Nunes.

Mesmo que eventuais reforços cheguem de ligas estrangeiras, não há como passar ao lado de uma evidência: dragões e leões partilham o interesse pelo mercado português onde, desde o verão de 2020 contrataram exatamente o mesmo número de jogadores. Doze rumaram à Invicta e a Alvalade, numa lista de compras discriminada na infografia que acompanha estas linhas e que mostra o enorme peso da Liga Bwin nos reforços de FC Porto e Sporting, que até no número global de contratações estão quase lado a lado.

É certo que, naturalmente, nem todos tiveram o mesmo impacto, mas também se encontram negócios com valores significativos, como a ida de Paulinho para o Sporting por 15 milhões de euros e a mudança de David Carmo para os azuis e brancos a troco de 20 M€, ambos os jogadores provenientes do Braga.

Numa outra forma de ver as coisas, Conceição e Amorim dispensam revoluções à boleia do mercado e dão primazia à estabilidade. Repare-se que, em 2020/21, nas duas janelas de transferências, FC Porto e Sporting contrataram dez jogadores. Mas no caso dos leões, foi, no fundo, a época em que Rúben começou a construir a sua base, pelo que mais de metade das contratações tiveram presença regular no onze, ao contrário do que aconteceu no Dragão.

Na quarta temporada da era Conceição, Taremi e Zaidu foram as únicas caras novas que figuraram entre os jogadores mais utilizados. Por contraponto, Carraça só fez três jogos e Cláudio Ramos nem chegou a estrear-se na equipa principal. Por aqui se explica a maior diferença, favorável ao Sporting, nas médias de minutos de utilização dos novos jogadores - 1218-2604. Daí para a frente, os reforços foram em menor número e as médias de utilização aproximaram-se, com poucas oscilações na base. Estabilidade é um termo totalmente coerente com a caminhada de Sérgio Conceição no FC Porto, mesmo que seja impossível fugir a reconstruções e reinvenções.

Amorim segue uma linha parecida, ao ponto de, neste defeso, ter abdicado de dar maior profundidade ao plantel para poder segurar a base, ainda que a transferência de Matheus Nunes para Inglaterra possa alterar um pouco as coisas. Por fim, claro, há os contextos de cada caso que relativizam todos os números. Zaidu ficou com o caminho livre após a saída de Alex Telles; Ugarte foi crescendo na sombra de Palhinha e Pepê fez o mesmo com Luis Díaz, cuja saída, por seu turno, motivou a contratação de Galeno; Trincão foi direto ao onze porque Sarabia já lá não estava e nunca se esperaria que João Virgínia destronasse Adán; David Carmo começou a época castigado e André Franco chegou em cima da primeira jornada...enfim, são muitas as condicionantes, mas não nos desviam de duas ideias chave: Sérgio Conceição e Rúben Amorim apreciam o comércio local e a estabilidade.

Apostas de alto rendimento

Taremi e Pedro Gonçalves serão os exemplos mais flagrantes dos ganhos de FC Porto e Sporting no mercado luso. Famalicão e Braga estão entre os principais fornecedores.

Tentar perceber qual dos clubes aproveita melhor os reforços é um exercício limitado pelos contextos de cada um, mas não restam dúvidas de que FC Porto e Sporting captaram muito talento e potencial sem ultrapassar a fronteira.

Taremi, dos dragões, e Pedro Gonçalves, dos leões, serão os exemplos mais flagrantes: já nas épocas de estreia apontaram 23 golos e ainda hoje são figuras incontornáveis. Contabilizámos Rúben Vinagre, que pertencia ao Wolverhampton, como reforço interno no Sporting, porque atuou emprestado no Famalicão antes de seguir para Alvalade. E o clube minhoto, aliás, tem sido um dos principais fornecedores: além do já referido Pote, também projetou Toni Martínez e Ugarte. Não muito longe dali, Paulinho, Esgaio, Galeno e David Carmo saíram do Braga.

Para se perceber melhor a consistência e profundidade desta aposta, desenhamos dois onzes com sistemas táticos distintos a partir dos 24 jogadores contratados pelos rivais em Portugal. Por força das posições - só há Cláudio Ramos para a baliza, por exemplo - é impossível não repetir alguns nomes, mas outros tiveram de ficar no "banco". De resto, só Vinagre e Gonçalo Esteves (emprestados pelo Sporting) não constam dos planteis atuais e Carraça foi a única contratação que saiu praticamente sem jogar.

Ana Luísa Magalhães