Futebol Feminino

Deu nas vistas nos Estados Unidos e quer vingar em Portugal: "Apontem o meu nome"

Melanie Cunha (à direita)

Melanie Cunha deu nas vistas nos campeonatos universitários dos Estados Unidos e agora vive o sonho de jogar na Liga BPI. A portuguesa, 22 anos, conquistou vários títulos coletivos e individuais na liga norte-americana e revelou-se como uma das goleadoras do país. Após passagem pelo Chipre, o Condeixa é a nova casa.

Nos Estados Unidos, Melanie Cunha arrecadou prémios em todas as conferências, foi a sexta melhor marcadora de todas as provas do país e ainda conquistou um lugar na equipa do ano. Após passagem por Chipre, a portuguesa mudou-se, em janeiro, para o Condeixa, de modo a concretizar o sonho de disputar a Liga BPI. E já se estreou a marcar, com um bis ao Gil Vicente numa vitória por 3-1 em Barcelos!

Em Portugal, a Melanie ainda não é muito conhecida, mas nos Estados Unidos o seu nome é muito falado no futebol feminino universitário. Conte-nos um pouco da sua aventura no país e na modalidade.

-Eu nasci nos Estados Unidos, o meu pai é moçambicano e a minha mãe é portuguesa. Comecei a jogar futebol no clube da nossa cidade, ainda muito jovem. À medida que cresci viajei por toda a América, para torneios regionais e nacionais. Joguei pelo FC Copa por cinco anos e frequentei a Saint Joseph "s University, em Filadélfia. Disputei a United Women "s Soccer League e conquistei o sexto lugar das melhores marcadoras do país. Os clubes em que joguei eram muito competitivos e fizeram-me querer ser melhor, o que me ajudou a continuar a perseguir sonho de jogar futebol a nível profissional em Portugal.

Evidenciou-se nos Estados Unidos e transferiu-se para o Lakatamia FC, do Chipre. Entretanto, em janeiro, mudou-se para Portugal para cumprir o sonho de jogar na Liga BPI. Como surgiu a oportunidade do Condeixa?

-Sim, na temporada passada estava no Chipre e uma das minhas companheiras ajudou-me a entrar em contacto com o míster do Condeixa. Eles deram-me a oportunidade de vir para cá e consegui transferir-me. É um sonho de criança realizado.

E em três jogos com o símbolo do Condeixa ao peito, a Melanie já leva dois golos marcados...

-Tem sido uma ótima experiência, tem corrido bem. Ainda estou naquela fase de adaptação à cultura e ao estilo de jogo em Portugal. Estou muito feliz por marcar, mas o foco é o coletivo. O clube tem muito talento e potencial para obter os resultados pretendidos nesta temporada. O Condeixa recebeu-me com um ambiente profissional e competitivo. Estamos a remar para conseguir o objetivo principal do clube: a manutenção.

Num futuro próximo, quais são as suas ambições?

-Cumpri o sonho de jogar na Liga BPI e estou animada para ajudar o Condeixa a ter sucesso. Espero continuar a jogar e a marcar o máximo de golos. Apontem o meu nome! Como muitas jogadoras, tenho o sonho de representar a seleção portuguesa e espero inspirar futuras jogadoras de futebol a acreditarem em si mesmas e nas suas ambições.

Qual foi o momento mais difícil da sua vida?

-Recentemente perdi o meu avô. Era um grande apoio para mim e adorava ver-me a jogar futebol. Nós somos todos sportinguistas e ele era adepto do Benfica. Ficou muito feliz por saber que eu ia jogar em Portugal e contava-me histórias sobre todos os anos que passou aqui. Infelizmente, ele morreu antes de poder ver um jogo meu, mas sei que está a cuidar de mim. Sinto muito a falta dele.

O que dá à Melanie ainda mais força para triunfar em Portugal?

-Sem dúvida. Penso na minha família todos os dias. Eles dão-me força. Tenho noção que perdi momentos importantes e sacrifiquei muitas coisas, mas fiz isso para praticar o desporto que amo. O futebol fez-me quem eu sou hoje.

Melanie Cunha estudou na universidade a evolução do futebol feminino e deixa a sua reflexão acerca do percurso da modalidade em Portugal. "Está a crescer imenso e é cada vez mais valorizado. Quando eu era criança via lendas como o Cristiano Ronaldo, Luís Figo e João Pinto, mas agora vejo jovens jogadoras inspiradas em jogadoras e seleções femininas. Eu estudei o desenvolvimento do futebol feminino na universidade e os padrões continuarão a crescer nos próximos anos. É bom ver que o futebol feminino está a abrir caminho para futuras atletas, não só em Portugal mas no mundo inteiro", avalia a jovem.

A avançado constata que a jogadora portuguesa já é mais valorizada no mundo do futebol e tenciona contribuir para isso. "As portuguesas estão a lutar cada vez mais para ganhar espaço no futebol e estão a conseguir. Há muita qualidade espalhada por aí, mas por vezes a oportunidade não surge. Espero poder contribuir para que a Liga BPI cresça e para que o mundo olhe para as nós, portuguesas, com outros olhos", assume.

João Fernando Vieira