Opinião

Para onde vais, andebol português?

Paulo Faria, antigo internacional A de andebol e ex-treinador escreve para O JOGO

O momento incrivelmente alto que atravessa o andebol português só nos pode deixar a todos orgulhosos e gratos.

Dos enormes feitos da Seleção Nacional de Paulo Jorge Pereira, que culminou com o apuramento histórico para os Jogos Olímpicos, aos resultados europeus de Benfica e Sporting, terminando com um gigante FC Porto na Liga dos Campeões que, esta quinta-feira, mais uma vez levou o andebol português para o mais alto patamar do mundial ao empatar em casa com o atual campeão europeu Barcelona (detentor de 10 ligas dos campeões). Um empate que, pela forma como decorreu o jogo, até soube a pouco, uma vez que na segunda parte chegou a estar a vencer por impensáveis sete golos!

Este momento alto do andebol português, e em particular do FC Porto irá perdurar por muitos e muitos anos e, se não me falha a memória, só há dois clubes portugueses que conseguiram "tirar" pontos ao Barcelona na Champions: o FC Porto, na quinta-feira, e o ABC de Braga, no histórico "Flávio Sá Leite", em 1996.

Todos sabemos que um resultado extraordinário pode acontecer com qualquer equipa, mas a regularidade exibicional que o FC Porto tem apresentado nos últimos anos terá - e tem - que ter explicações, e não aceito que sejam só justificações simplistas suportadas unicamente no enorme investimento que é feito no plantel sénior.

Nestes tempos de pandemia percebemos todos que o mercado e a vida das empresas se tornou mais competitivo, mais exigente para conseguirem singrar no mundo dos negócios. O que fizeram? Decidiram em comum, aquelas que projetaram o futuro, investir na formação dos seus recursos humanos, sendo que todos os que pensam o futuro do país dizem que só com mais formação e maior nível educativo poderemos sair desta crise que o país atravessa.

Recordo que o andebol português foi muitas vezes pioneiro na criação de oportunidades para treinadores e dirigentes investirem na formação ao dinamizarem vários cursos especializados na formação, culminando com a obrigatoriedade de ter uma habilitação própria e atualizada para exercer a atividade. Uma luta de muitos anos da Federação de Andebol de Portugal, nomeadamente do professor Pedro Sequeira, que é agora reconhecida por todos.

Assim, muito deste sucesso do FC Porto passa certamente por esta ideia, por uma direção que percebeu que só juntando a um bom plantel, quadros altamente qualificados no processo que envolve o treino e o jogo, como treinadores especializados em áreas específicas, fisioterapeutas, psicólogos, etc poderá atingir a excelência de resultados na alta competição.

Adelino Caldeira, António Borges e José Magalhães, juntamente com o Team Manager, Hugo Laurentino, decidiram montar uma equipa técnica altamente especializada: Carlos Martingo um adjunto que assume a responsabilidade de manter o equilíbrio entre a alma portista e a sua competência como treinador ao serviço do seu líder de forma leal e dedicada. Telmo Ferreira. talvez o treinador de guarda-redes com mais currículo em Portugal. Tiago Cadete o homem responsável pela forma física como o FC Porto se apresenta em todas as frentes ao longo de uma época tão desgastante. Por último, Magnus Anderson com um currículo e uma formação impressionante, trouxe mais andebol para o FC Porto, trouxe a "certificação" da competência necessária, conseguindo colocar o seu nome na história do clube e do andebol português.

Ainda quinta-feira, a ver o jogo, pensei que o 7x6 fez os azuis e brancos não vencerem a partida, mas também rapidamente reconheci que só Magnus Andersson sabe o valor e as limitações do seu plantel e que, eventualmente, foi o 7x6 que o fez conseguir empatar contra o campeão europeu.

Os dragões jogam com uma maturidade impressionante, e como os enormes feitos do ABC de Braga de Aleksander Donner jamais foram esquecidos pelos amantes do desporto, o que o FC Porto de Magnus Andersson tem feito na Liga dos Campeões irá também ficar na memória de todos.

Paulo Faria