Em família de desportistas, Helton Leite, que começou como médio, dividiu o futebol com outras redes mas acabou na baliza
Perto de ver confirmada a mudança para a Luz a partir de 2020/21, Helton Leite tem os genes do desporto na sua família. Todos, desde pai, mãe e irmãs, praticam ou praticaram alguma modalidade, sendo que o próprio guardião podia nesta altura estar ligado a outro tipo de redes: as do voleibol.
Em criança, chegou a seguir as pisadas da sua mãe, Eliana, que representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Moscovo, em 1980 - Débora, uma das irmãs, também praticou este desporto, enquanto a outra irmã, Daniela, esteve nos Jogos Olímpicos de Pequim, mas em ginástica rítmica.
O pai, João Leite, antigo guarda-redes, que se destacou no Atlético Mineiro e chegou a representar o V. Guimarães, em 1988/89, conta a O JOGO como tudo começou. "Apesar de jogar futebol desde criança, ele foi muito apaixonado pelo voleibol. Começou no clube da mãe, o Minas Ténis Clube", recorda, explicando que a prática da modalidade trouxe vantagens para a sua atual posição. "Jogava muito bem e isso criou nele uma facilidade muito grande para as jogadas aéreas, como a noção do tempo de ir à bola", analisa sobre o alvo encarnado, que chegou a conciliar o voleibol com o futebol. Ainda assim, e apesar da "grande influência da mãe, ele optou pelo futebol".
Já tendo dado o sim ao Benfica, que negoceia com o Boavista, e com um contrato de quatro anos à sua espera na Luz, Helton não teve, contudo, a baliza como caminho inicial. Isto porque começou a jogar no miolo. "Ele jogou no meio-campo no inicio. Mas com a altura dele era esquisito um jogador assim no meio. E ele tinha muito talento com as mãos desde criança", adianta, puxando o fio à história para recordar umas brincadeiras ainda muito pequeno, numa quinta da família, quando Helton chegou a "ir à baliza vestido com uma camisola" do pai no tempo do Atlético Mineiro. Tudo registado em fotografia.
E tal como a prática do voleibol, também a passagem pelo sector intermédio ajudou Helton Leite. "Foi importante pelo contacto que teve com a bola. Ajuda-o a ser bom com os pés, uma característica muito importante no futebol atual", esclarece João Leite sobre uma das qualidades apontadas ao ainda camisola 90 do Boavista. E classificando-o como um "guarda-redes moderno", destaca: "Ele é um líder altamente positivo, sai bem da baliza, tem visão de jogo, é muito estudioso e vejo-o bem preparado. E falamos muito sobre a comunicação, é fundamental."
Destacando a "capacidade de trabalho e a vontade de ferro" de Helton, que "saiu de casa aos 16 anos para lutar pelo seu sonho" - no Grémio de Porto Alegre, a dois mil quilómetros de casa - , João Leite conta também que Bruno Lage poderá vir a contar com um especialista em contas, pois o guardião "cursou três anos" de economia. "Com os jogos não teve oportunidade de terminar. Mas já lhe disse que se pode formar quando acabar a carreira. Eu formei-me em História com 40 anos", diz. "Tem uma cabeça muito boa para matemática", revela, contando um episódio especial ainda no Botafogo. "Quando foi contratado, com um salário muito bom, eu e a minha esposa fomos ao Rio de Janeiro e almoçámos com ele. No final, peguei na carteira para pagar e ele disse: "Pai, eu agora tenho um bom salário". Pensei que ele fosse pagar pela primeira vez, mas ele disse: "Cada um paga o seu". Ele era do Botafogo e eu tinha de pagar?", atira, entre risos.