Andebol: seleções jovens apresentam futuro, mas terão futuro?

Andebol: seleções jovens apresentam futuro, mas terão futuro?

Pedro Sequeira, vice-presidente da Federação de Andebol de Portugal, membro da comissão de métodos da Federação Europeia de Andebol, membro da comissão de treino e métodos da Federação Internacional de Andebol, presidente da Confederação de Treinadores de Portugal e professor coordenador de Ciências do Desporto em Rio Maior, opina em O JOGO sobre a atualidade desportiva.

Depois do play-off da Seleção Masculina para o apuramento para o Campeonato do Mundo de 2023 e a participação da Seleção Feminina na Qualificação para o Europeu 2022, foi a vez das diversas seleções jovens participarem eu Europeus/Mundiais que se realizaram durante este Verão - na altura que escrevo este artigo a Seleção Masculina Sub-18 ainda se encontra em prova a disputar a classificação do 5º ao 9º lugar do Europeu. Tivemos, nos masculinos, a Seleção Sub-20 a alcançar o segundo lugar no Europeu e a Seleção Sub-17 a vencer a medalha de bronze no Festival Olímpico da Juventude, Nos femininos, tivemos a Seleção Sub-16 a ficar em 9.º lugar na Partille Cup (neste escalão não há Campeonato Europeu pelo que esta prova, com 17 Seleções, funciona como torneio europeu mais importante neste escalão) e a Seleção Sub-18 a alcançar o 13.º lugar no Mundial.

Nas competições jovens, cada país tem os seus critérios para a constituição das respetivas seleções. Por existirem critérios diferentes (pode acontecer, num Europeu Sub-18, uma seleção ser compota por jogadores com apenas 16 anos ou então que jogadores de 18 anos, por já jogarem em equipas seniores ou na Seleção A não participarem mais nas seleções do respetivo escalão) a comparação de desempenhos ou o valor das classificações é sempre subjetiva. Para não falar na evolução de um jogador que muitas vezes acontece precocemente e outros mais tardiamente.

No entanto, a participação em Europeus e Mundiais permite, de alguma forma, aferir a evolução dos atletas. Olhando para as prestações de todas as seleções, que inclui todos os jogos e não apenas a classificação em si, ficamos com a ideia que nos masculinos temos vários jogadores, de diferentes gerações, que vão, certamente, alimentar a nossa Seleção A a curto e médio prazo - que, por sinal, tem ainda muitos jogadores apenas a meio da carreira - dando algumas garantias da manutenção do nível a que nos foi habituando nos últimos anos.

Por outro lado, nos femininos, e tendo em conta que a Seleção A já não participa há largos anos numa fase final, as atuações alcançadas deixam a entender que existe um conjunto interessante de jogadoras que poderão vir a reforçar a Seleção A, tornando-a mesmo mais forte.

De uma forma linear, poderíamos dizer que a tendência do andebol português, em ambos os sexos, é de atingir patamares de excelência nos próximos anos e conseguindo manter-se lá. Mas, na verdade, há toda uma conjuntura que é necessário alterar para que isto, realmente, suceda. Enquanto os jogadores se encontram em idade escolar (até ao 12.º ano) a participação regular nos treinos dos clubes é assegurada. Mesmo assim, seria importante que, pelo menos ao nível da Escola Pública, houvesse mais apoio para quem pratica uma modalidade federada.

Horários compatíveis com treinos, regulamentos que apoiem os alunos federados, sensibilização junto dos professores sobre a importância do Desporto Federado no nosso país. Pela nossa experiência sabemos que, em muitos casos, os jogadores podem ter "sorte ou azar" com a sua escola.

Num país "a sério", e quero acreditar que temos todas as condições para o ser, isto tem que se resolver. A passagem para o Ensino Superior, para aqueles que seguem esta vida, a situação é ainda mais complicada. Nem todos jogam em clubes ou em cidades perto de uma Instituição do Ensino Superior que tenha o curso que desejam.

Os que conseguem, e mesmo com o auxílio de regulamentos para os atletas federados ou com o estatuto de alta competição, são depois confrontados com tipologias de aulas e métodos de avaliação que beneficiam quem está presente nas aulas. Aulas extra, ou em outros horários, são complicadas, em muitos casos nem são oferecidos.

Quem começa logo a trabalhar, ou para os que, entretanto, concluem uma licenciatura, a situação não é melhor. Nem todas as entidades empregadoras têm horários flexíveis, em alguns empregos isso nem é possível.

Soluções? O ideal seria os clubes terem a capacidade de pagar aos atletas um ordenado, no mínimo, equivalente ao ordenado mínimo. Mas, mais uma vez, a legislação não favorece o patrocínio de uma empresa ao desporto. O apoio que o estado dá, maioritariamente através dos municípios, nem está direcionado para o Desporto Federado após os 18 anos.

Resta aos clubes as mensalidades, as quotas de sócios e os apoios que, aqui e ali, conseguem. Regra geral muito pouco. A saída para países onde é possível ser jogador profissional - não esquecer que, salvo raras exceções, o andebol em Portugal é amador - é uma das soluções mais procuradas. E tem ajudado muito.

Portugal tem muitos jogadores talentosos, alguns que, claramente, são já uma "certeza". Mas é preciso que todo o enquadramento do Desporto Federado em Portugal seja melhorado. Os últimos anos têm provado o impacto que o Desporto tem nas diversas áreas da nossa sociedade.

Se derem ainda mais condições, todo o país ganhará com isso. A ideia que os jogadores profissionais são uns privilegiados é um dogma cultural que temos de combater. Perguntem, por exemplo, a uma autarquia, a um hotel ou a uma pastelaria a importância de terem um jogo ou uma competição no seu concelho e, rapidamente, percebem o valor que o Desporto tem.