Exclusivo Um jogador e uma bancada amam-se ou odeiam-se
PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
1 - O futebol é dos melhores manuais pedagógicos para saber como é passar de campeão a "ninguém" (e vice-versa) no mais breve lapso de tempo. A história recente de Zaidu é perfeita para entender o curto e asfixiante que pode ser esse percurso.
Lembra a velha resposta sobre a melhor fórmula de escrever um romance: "Um homem e uma mulher amam-se. Ponto final". O mesmo, admito, aplica-se a quando se deixam de amar (ou não se amavam antes) e até podem odiar-se. No futebol, a relação, mais romântica ou dramática, pode ser aplicada à relação entre o jogador e adeptos. Penso nos seus próprios adeptos, da equipa onde joga e esse tráfico alternado de emoções atinge o nível semelhante para uma boa novela futebolística.
2 - Quando, no ultimo jogo, víamos as bancadas do Dragão aplaudir em delírio um sprint de Zaidu para ir atrás, fazendo um carrinho, de uma bola que ia irremediavelmente sair pela linha de fundo, senti como tudo isto tem tanto de irracional como de fantástico. Durante todo o jogo, qualquer intervenção do papa-metros nigeriano foi aplaudida em êxtase e sorriso aberto. Desde uma corrida, um domínio de bola ou um lance dividido. Com a mesma emoção como, provavelmente, no início do campeonato desconfiavam e se sentia um murmurinho a percorrer as bancadas quando ele tinha de tocar na bola numa jogada mais arriscada. Acho que os adeptos só não partiram a murro o vidro do banco do suplentes como nesse início de época o treinador fez, porque não tinham como o fazer (a seu lado estava outro adepto sem culpa nenhuma).
Zaidu nunca foi, no entanto, diferente do que estava a ser nesse último jogo. As qualidades (que tem, desde sempre) e os defeitos (também) sempre foram os mesmos e permanecem. Naqueles aplausos estava, sobretudo, a festejar-se, de cada vez que ele tocava na bola, o golo que marcara no jogo anterior, na Luz, ao Benfica. Não podia existir maior desafio ao rival do que ganhar-lhe com um golo (belo golo), não do craque da equipa, mas do seu "patinho feio" de estimação.
3 - Era a ironia do futebol no poder e, com ela, a prova de que, também no habitat futebolístico, a fábula do patinho feito é uma história de sucesso. Mesmo que Zaidu não seja, afinal, um cisne, e os seus defeitos permaneçam, ele provou como êxito e fracassos são os dois maiores impostores que alguém pode ter por companhia. Na vida, como no futebol, tal a forma um bom romance pode alternar polos opostos das relações humanas.