Exclusivo Os campeonatos é que pedem a Superliga

Os campeonatos é que pedem a Superliga
José Manuel Ribeiro

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TEORIAS DO CAOS - Uma opinião de José Manuel Ribeiro

1 - Os quatro jogos das meias-finais da Liga dos Campeões são, com regularidade, os melhores da temporada futebolística e representam uma falácia para a qual eu próprio tenho indiretamente contribuído: por muito que se tenha reduzido a competitividade na maior prova de clubes do mundo (e reduziu), os campeonatos nacionais estão, em geral, piores. São eles a verdadeira emergência europeia.

Não será preciso uma Superliga para os esvaziar se a alternância de campeões na Alemanha, em França ou mesmo em Inglaterra ficar reduzida aos mínimos. Qualquer desses campeonatos, Itália, Espanha, Países Baixos e Portugal incluídos, tiveram menos vencedores do que a Liga dos Campeões nos últimos cinco anos. A venda centralizada dos direitos TV é, para essa finalidade, uma falsa medida. Na última década, a maioria das edições das ligas alemã (nesse caso, a totalidade), francesa e italiana não só foram ganhas pela mesma equipa como nem sequer originaram discussão. Bastante antes da última jornada, estavam resolvidas. E está a piorar. Até esta década, nunca um clube alemão ganhara mais de três títulos consecutivos, e agora vão dez do Bayern. Os nove da Juventus, concluídos em 2020, também quase duplicam o máximo anterior (cinco). Só o PSG disfarça um pouco essa hegemonia, por ainda não ter acumulado mais de quatro seguidos, mas estraga tudo na década: nunca um clube francês fora campeão oito vezes em dez anos. Mas a receita da salvação é a mesma, tanto para os campeonatos nacionais como para a Liga dos Campeões: limitar as compras, os salários, escalonar os futebolistas (internacionais a, internacionais b, internacionais de formação, draft, etc.) e impedir o açambarcamento de craques, que não só gera equipas inatingíveis como secundariza centenas de carreiras de jogadores talentosos condenados aos bancos dourados. A continuar como está, é claro que alguns clubes se sentirão (e serão de facto) maiores do que os seus países.

2 - Jorge Jesus é o seu maior sucesso tático. Não é Rui Vitória, não é Lopetegui, não é Bruno de Carvalho, não é a língua portuguesa. Derrotou-se sempre a si próprio, com uma criatividade e um arsenal estratégico infindáveis, demasiados para os dotes de qualquer profeta da análise. Da prosápia de 2010, que André Villas-Boas moldou em obra de arte, ao "bullying" que fez a Rui Vitória e ao Benfica, em 2015, entre dezenas de outros acessos de egomania, Jesus fez de tudo para ser o maior dos seus detratores e mesmo, nalguns momentos, o maior adversário desportivo. E acreditem (basta ler jornais nacionais e brasileiros, ouvir rádio e consultar as redes sociais nos últimos dois dias) que essa multidão é imensa. Propor-se, publicamente, a um emprego ocupado por um colega (nem importa se Paulo Sousa é português ou brasileiro), ainda por cima em dificuldades, ultrapassa muito as histórias das mensagens de telemóvel enviadas a Pinto da Costa, mas prejudica mais Jesus do que Sousa. O Flamengo é o momento mais bonito da carreira dele e aquele que tocou mais pessoas. Se Jesus respeitasse Jesus, saberia disso e faria os impossíveis para não o manchar.