A agenda deste jornal não é feita pela CMTV nem pelo Facebook. Não somos cegos, mas também procuramos não ser burros
Há três dias, um cidadão filmou e divulgou, via Facebook, uma conversa (interrogatório? coação?) com outro cidadão dentro de um automóvel. A conversa envolveu ameaças, insultos, uma agressão e acusações ao Benfica tão incongruentes como inarticuladas. O primeiro cidadão (Vítor Catão) é diretor desportivo do São Pedro da Cova, depois de ter dirigido o futebol do idóneo Canelas. O segundo é César Boaventura, pessoa que, por razões que escapam à ciência, dispensa apresentação.
Nessa noite, ambos estrelaram nas televisões em shows individuais de miséria humana temperados por uma coisa que está mais próxima do espetáculo de variedades do que do jornalismo. Vítor Catão (portista e superdragão) ampliou as denúncias: Vieira queria pagar-lhe 200 mil euros para comprar adversários e espancar Francisco J. Marques. Mostrou sons e imagens sem qualquer relação com as denúncias. E O JOGO decidiu fazer o mesmo que tinha feito em várias situações parecidas, com destaque para um ex-delegado da Liga que se dizia perseguido pelo Benfica e para as dezenas de tolices saídas da boca e do Facebook de Boaventura: verificou se havia algo sólido a noticiar, concluiu que não e absteve-se de fazer parte de uma palhaçada mortal para o nosso trabalho.
Não somos melhores nem piores do que outros: limitamo-nos a decidir por nós próprios o que é importante ou não, em vez de permitirmos que a nossa agenda seja feita pela CMTV ou por qualquer figura que faça um post numa rede social. Escrevo isto porque alguns dos leitores que contestaram este nosso ponto de vista têm uma parcela da razão: aconteceu, cresceu e não podemos fingir-nos de cegos. Mas também procuramos não ser burros.
