Algarismo proibido
Antes do Benfica, o FC Porto tem de resolver o seu velho diferendo com o golo
Por muito que valha a guerra com o Benfica, a zanga do FC Porto com o golo está primeiro e já dura, no mínimo, há três épocas. Essa antipatia mútua não esteve menos relacionada com os títulos perdidos do que outros eventuais fatores e até os terá agravado. Como respondeu Arsène Wenger, treinador do Arsenal, ao José Mourinho dos primeiros anos de Chelsea: quem só faz um golo por jogo está sempre mais sujeito às intempéries, que é como quem diz, aos emails desta vida, embora uma má relação com a arbitragem, por exemplo, possa inibir os jogadores também nesse ponto (já aqui falei da interferência mais simples: se a uma equipa é permitido impedir contra-ataques em falta, e aos adversários não, a confiança para atacar com mais elementos é maior). O FC Porto de Nuno Espírito Santo discutia com, ou superava mesmo, o Benfica de Rui Vitória na defesa e no meio-campo, mas, quando chegava ao golo, perdia nas comparações. Perdia na energia que gastava a mais e na falta de objetividade nos trinta metros decisivos. À clarividência e verticalidade do Benfica correspondiam a dúvida e o passe ao lado do FC Porto, que em muitos jogos parecia um tsunami até chegar à área do adversário e, lá dentro, só conseguia ser uma torneira a pingar: a montanha que paria zeros. Como o da madrugada de ontem, no México, que explica bem o mau humor de Sérgio Conceição. Há um algarismo proibido no FC Porto.
Nota: não entendi na época passada e menos entendo agora o papel secundário, e às vezes nem isso, que dão a João Carlos Teixeira no FC Porto. Muito menos percebi a suposta abertura para o deixar ir embora. Uma equipa que pode desperdiçar um jogador assim tem de ser campeã.