A caminhada triunfal de Jorge Jesus
O campeonato perdido pelo Benfica foi só um imprevisto. De uma série de três seguidos
Ontem, na Benfica TV, fez-se história do jornalismo. Alguns dirão que se desfez história do jornalismo, mas essa é uma conversa para outros fóruns. O treinador foi entrevistado por um administrador da SAD. Cada pergunta era aquilo que se chama uma notícia que dá para os dois lados: importava a resposta e também a pergunta, por ser feita com um conhecimento de causa que, normalmente, os jornalistas não têm. Se um jornalista questiona "E se tiver de recompor a dupla de centrais, isso também o preocupa?", é especulação; se é o administrador, só pode ter sido alguma coisa que ouviu num briefing.
Mas o mau jeito de pôr um administrador a entrevistar o treinador que acabou de perder três campeonatos seguidos não contempla só desvantagens: aquilo a que assistimos ontem foi o equivalente a um daqueles reality shows em que alguém compra um carro ao ferro velho e depois tenta pô-lo o mais parecido possível com o original. Ficámos a saber, sem refutação, que "a hegemonia do Benfica no futebol nacional está próxima", enquanto se ia restaurando, peça a peça, o velho Jesus, como se nunca o tivéssemos visto a chorar ou de joelhos.
"O Aimar chegou a dizer-me que gostava de ter sido treinado por mim aos 24 anos". Reforços? No Benfica, eles não são grandes jogadores quando chegam, "são grandes jogadores quando saem".
Até concordo, e qualquer pessoa de boa-fé terá de o fazer, mas resta o fundamental: Jesus ganhou duas taças da Liga em três anos e perdeu quase todos os duelos diretos com o FC Porto, a todos os níveis menos o da nota artística. Se a última época, que também foi aquela em que o Benfica mais dinheiro gastou, foi só um imprevisto, já são só três imprevistos seguidos.