Nos últimos meses, têm-se multiplicado por toda a Europa os casos de jogadores de topo que abdicam de jogar pelas respetivas seleções. Um calendário que não os deixa respirar explica alguma coisa.
Em fevereiro, Raphael Varane, com apenas 29 anos, anunciou que renunciava à seleção francesa alegando que estava a "sofucar" devido à "sobrecarga" do calendário. João Mário não deu tantas explicações sobre os motivos que o levaram a tomar uma decisão semelhante nos últimos dias, mas não é descabido imaginar que a pressão exercida pela sucessão interminável de compromissos tenha pesado na ponderação do médio do Benfica.
Na última época, João Mário fez 56 jogos incluindo nesse total a participação no Mundial que partiu a época ao meio. Nas próximas, a carga não promete ser mais ligeira, até porque tanto a FIFA como a UEFA continuam a atafulhar o calendário com cada vez mais provas, cada vez mais longas.
Os jogadores dos 12 principais clubes europeus enfrentam agora a perspetiva de ter um dos dois verões de pausa entre Mundiais e Europeus interrompidos pelo novo Mundial de Clubes. Apesar de o formato definitivo ainda não ter sido fixado, mas admitindo semelhanças com o último Mundial do Catar, que também contou com 32 equipas, os vencedores terão pela frente pelo menos mais sete jogos no final dessas temporadas. A expansão da Liga dos Campeões, agendada para 2024/25 pode acrescentar quatro compromissos ao calendário de uma boa parte dos atletas de topo.
Se juntarmos os jogos de apuramento para Mundiais e Europeus e respetivas fases finais e adicionarmos a Liga das Nações, não é difícil perceber que a exigência está a atingir o limite da resistência dos jogadores, forçados a optar entre clube ou seleção para manterem um nível de rendimento aceitável. Nem é complicado de antecipar que estas "desistências" deixem de ser exceções para se tornarem a regra.

